O Idiota [Resenha Literária]

O Idiota é um clássico da literatura russa de Fiódor Dostoiévski que escreveu um dos meus romances favoritos de todos os tempos, Crime e Castigo. Mais uma vez, Dostoiévski mergulha profundamente na natureza e na psicologia humanas. Nesse caso, um forasteiro é empurrado para a alta sociedade russa, onde descobre que quase nada é o que parece do lado de fora. O romance é basicamente um thriller com muitos mistérios e suspense, juntamente com uma atmosfera cada vez mais agourenta, quando se torna óbvio que os eventos estão levando a algum tipo de tragédia.
O protagonista deste romance, Míchkin, é um homem que é incrivelmente bom de coração e tem muito mais que inteligência mediana. Ele também nasceu na classe aristocrática como um príncipe muito menor. No entanto, ele foi acometido por um problema de saúde que o levou a ser enviado para um centro de tratamento na Suíça, onde ele estava altamente isolado e não recebeu a educação completa esperada da classe alta na época. Ao atingir a idade adulta, ele conseguiu crescer fora do pior de sua doença. É nesse ponto que o romance começa, com Míchkin voltando para sua Rússia natal. No entanto, devido às suas deficiências educacionais e, ainda mais importante, devido à sua natureza simples e extrema ingenuidade, ele é frequentemente ridicularizado como um “idiota”. Assim nasce um dos maiores personagens colocados no papel.
Míchkin é um “príncipe entre os homens” no termo figurado, bem como um príncipe literal. Sua inocência e natureza completamente sem arte formam um forte contraste com os tipos da alta sociedade que não sabem o que fazer com uma pessoa que não tem uma agenda culta e que não tem nada a dizer sobre alguém. Ele não quer nada além de ajudar os outros. Infelizmente, a maioria das pessoas que ele conhece são muito menos generosas em espírito e não hesitam em tirar proveito de sua bondade.
Com a entrada do príncipe Míchkin para a alta sociedade em São Petersburgo, temos uma história de “peixe fora d’água” onde o leitor está mergulhado em um estranho mundo novo junto com o protagonista. Ele e o leitor logo descobrem múltiplos mistérios e uma bela mulher que sofreu graves danos emocionais durante a adolescência e se tornou um “anjo caído” aos olhos da alta sociedade. Míchkin imediatamente sente profunda empatia por Nastássia Filíppovna a ponto de se apaixonar. Um elo natural se forma entre eles, mas ele descobre que já existe uma linha de pretendentes em busca de sua mão em casamento.
Os pretendentes são todos cativados por ela até o ponto da obsessão, enquanto a própria Nastássia parece estar severamente deprimida e pode até ser suicida. Míchkin quer desesperadamente salvar esta alma ferida, mas a encontra presa dentro de uma teia de seus próprios demônios, assim como se encontra a sociedade.
Eu fiquei me perguntando em como eu transformaria a história do príncipe Míchkin em uma declaração clara e concisa. O protagonista parece a figura de Cristo; isso provavelmente você já deve ter ouvido antes. Mais tentador é uma descrição mais ampla dele como uma pessoa inteira, saudável e curativa do mundo, cercado por uma multidão de pessoas doentes e doentes que espalham suas doenças à outras pessoas. Mas é quando eu me sinto pronta pra encontrar justificativas pra todo o enredo que Dostoiévski explode, inundando seus personagens defeituosos com uma compreensão gentil e sem julgamentos. Neste livro, as pessoas más chegam a alguns fins ruins, mas algumas pessoas boas têm, indiscutivelmente fins ainda piores. E você não tem certeza se deve sorrir ou chorar, ou, se você decidir fazer as duas coisas, em que ordem deverá executá-las.
Toda essa conversa sobre Míchkin ser um idiota afetará você como sendo cruelmente injusto. O que quer que ele seja – ingênuo, puro, honesto, etc. – ele não é, você sim, será um idiota. Até certo ponto, você pode pensar que este livro é sobre a injustiça de tal homem, de quem o mundo não é digno, sendo chamado de idiota por suas dores. No final, no entanto, parece ser mais sobre como o mundo pode realmente fazer um idiota, a partir de um homem bom. É um romance de repugnância com um mundo onde a sanidade das classes alta, média e baixa – tanto das religiosas quanto das que são movidas pelo zelo político e racionalista – podem destruir a sanidade de pessoas como Nastássia Filíppovna, Míchkin, entre outros. É um romance de pessoas confusas em colisão, e de um indivíduo extremamente confuso que, por um breve momento, parece ter a chance de curar todas elas. 

Nem todo idiota é bocó:
Vou provar esta asserção
Citando um exemplo só.
Com seus ataques insanos,
Metido em um capotão,
No espaço de cinco anos,
O bom Liév ficou
Simulando ser bocó,
Mas quando à Rússia voltou,
O nosso imbecil primário
Achou prontinha uma herança!
E o que é mais extraordinário,
Do estudante que logrou…
Nem ao menos teve dó!…
Este epigrama provou
E ainda prova, por si só,
Que este Idiota Milionário
Nada tinha de bocó”
– Artigo publicado em um jornal contra o príncipe 

O Idiota é um excelente romance. Dostoiévski explora uma infinidade de temas profundos no livro enquanto ele mergulha no submundo da alta sociedade e da moral humana. Ele contrasta a pura inocência do protagonista com a moral muitas vezes distorcida e a simples mesquinhez dos membros da alta sociedade. Ele olha nitidamente para como as pessoas tratam os outros e em quais danos isso pode resultar. Talvez a realização mais surpreendente deste romance seja a autenticidade dos personagens e conversas. O Idiota é um romance que definitivamente, todos deveriam ler.
A Editora Martin Claret realizou um trabalho fenomenal com essa edição, li algumas críticas relacionadas à tradução da obra, e realmente não tenho do que reclamar. A tradução de Oleg ficou muito boa, para um livro tão grandioso. A edição está impecável desde sua capa dura à diagramação que está livre de erros. E é uma linda edição para se ter na estante. 
FICHA TÉCNICO
Titulo: O Idiota
Autor: Fiódor Dostoiévski 
Nota: 5/5
Onde Comprar: Amazon
 

Natália Silva

11 thoughts on “O Idiota [Resenha Literária]

  • 1 de abril de 2019 em 15:03
    Permalink

    Oi Natália, gostei muito da temática do livro. Essa questão de mexer com a moral dos leitores e o tema "idiota" foram os fatores que chamaram a minha atenção. Completíssima sua resenha. Até mais!

    http://www.depoisdaleitura.com.br

    Resposta
  • 1 de abril de 2019 em 19:44
    Permalink

    Olá, Natália.
    Já me senti idiota lendo a resenha porque confesso, já fiquei perdida na história hehe. Nunca li nada do autor e achei essa edição muito linda. A editora sempre capricha nos clássicos.

    Prefácio

    Resposta
  • 1 de abril de 2019 em 22:09
    Permalink

    Oi Natália,
    Não tem como não se apaixonar pelas edições da Martin Claret né?
    Acho que esse não é um livro muito fácil para mim, mas eu quero, esses clássicos me deixam curiosa!
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

    Resposta
  • 1 de abril de 2019 em 22:18
    Permalink

    Oi, Nat!
    Eu acho que esse livro não seria uma boa experiência pra mim, mas essa edição está um luxo de linda.
    Beijos
    Balaio de Babados

    Resposta
  • 2 de abril de 2019 em 02:17
    Permalink

    Oi, Natália
    Sendo bem sincera eu não sou fã desse tipo de leitura, já me daria sono na primeira passagem. Acho que não fui feita pra filosofias jhaha
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br

    Resposta
  • 2 de abril de 2019 em 02:25
    Permalink

    Oi Natália,
    Sinto uma culpa imensa por nunca ter lido um dos grandes autores russos clássicos.
    Sempre quis ler algo do Dostoiévski e a premissa de o idiota né chamou hastanba atenção. Tbm gostei de saber que o livro é repleto de suspense e mistérios.
    Já anotei a indicaçao.
    Abraço,
    Alê
    http://www.alemdacontracapa.blogspot.con

    Resposta
  • 11 de abril de 2021 em 05:38
    Permalink

    A tradução não é de Oleg Almeida. Ele somente revisou tecnicamente e fez as notas.

    Resposta

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