Cowboy Bebop [Crítica do Anime]

Nunca é fácil falar de clássicos e Cowboy Bebop menos ainda pela inúmeras referências na obra de Shinichiro Watanabe, mas com a chegada do live action da Netflix eu me empolguei para, enfim, ver o anime e comentar sobre.

Cowboy Bebop não me conquistou no primeiro episódio, nem no segundo, mas a partir do terceiro eu fiquei empolgada com a trama da dupla Jet e Spike. Cada episódio é de certa forma fechado, ainda que o passado dos personagens seja um tema em todo o anime. No entanto, a gente sabe que de alguma forma eles vão tentar pegar algum bandido pra conseguir uma recompensa e certamente terão problemas. E o mais interessante de tudo é a relação dos habitantes da nave Bebop, um grupo de 4 pessoas e um cachorro que se unem aleatoriamente e que insistem em dizer que não possuem vínculos entre si. No fundo, a gente sabe que não é bem assim.

O primeiro a se unir ao Jet e Spike é o cachorro Erin, depois temos a incrível e malandra Faye Valentine que deve horrores. Sua personalidade bate de frente com a do Spike, eles se estranham o tempo todo, mas se parecem mais do imaginam. E por fim, a maravilhosa pré-adolescente hacker Ed que chega a nave depois de ajudar o grupo. Ed é minha personagem preferida, amo o modo desleixado com que ela vive, sua inteligência, fome incontrolável e ainda porque seu gênero parece uma incógnita em alguns momentos. Todos os personagens da nave, até mesmo Ed, possuem um caso inacabado no passado que em alguns momentos interfere no presente deles.

Jet é um ex-integrante da ISSP, uma espécie de polícia do espaço. Ele tenta parecer não se importar com os habitantes de sua nave, mas é bem próximo do Spike e está sempre cuidando de todos, preparando a escassa comida que eles têm. Já Spike é o protagonista da história, um personagem bem complexo. Demorei pra entender que ele sofre mais do que melancolia, é um homem com depressão e por isso mesmo se arrisca tantas vezes, porque não se importa muito com sua própria vida. Ele pode parecer egoísta, ainda mais no final do anime, mas a realidade é que a depressão consegue corroer até mesmo as boas relações seja com amigos ou com a família. No passado, Spike foi membro do Red Dragon Syndicate, uma organização criminosa e tentou escapar com sua amada Julia, mas as coisas não deram certo. Durante o anime, ele se encontra mais de uma vez com seu grande rival Vicious.

Alguns episódios foram memoráveis como em Cowboy Funk quando Spike encontra uma pessoa bem parecida com ele em alguns sentidos e enfrenta um vilão ótimo chamado Teddy Bomber. Também achei incrível o episódio quando eles tentam capturar um psicopata em Pierrot le Fou ou quando Ed tenta ser uma cowgirl e se envolve em uma grande confusão (Mushroom Samba). Entretanto, nada se compara a Hard Luck Woman em que temos Faye enfrentando seu passo e ao mesmo tempo o episódio é focado em Ed. Só a trilha sonora desse episódio valeria todo o anime, mas a verdade é que nos 26 episódios Cowboy Bebop tem uma ótima trilha sonora focada no Jazz, Blues e Rock.

Vale lembrar que o anime tem claras referências a Lupin III, principalmente Spike, a filmes do estilo noir, velho oeste, cultura americana, artes marciais e ficção científica. E destaque para a excepcional dublagem brasileira com Guilherme Briggs, Miriam Ficher, Mauro Ramos e Letícia Celini.

Lançado em 1998, Cowboy Bebop ainda continua perfeito, como muitos clássicos. Esteticamente impecável, com uma trilha sonora incrível e personagens que transbordam carisma. Parece em um primeiro momento uma história boba sobre caçadores de recompensas no espaço, mas questões existenciais são tão fortes, assim como a melancolia e solidão mesclados a comédia e ação. No fim a gente entende a frase final: você vai ter que carregar esse peso. E com toda tranquilidade posso dizer que Cowboy Bebop me afetou muito mais do que eu imaginava. Talvez por isso, a série da Netflix não me agradou, mas isso é assunto para outra hora.

Michele Lima

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