Do Fundo da Estante: Corpos Ardentes

Acusado de ser uma “cópia carbono” de Pacto de Sangue (1944), Corpos Ardentes é a estreia em grande estilo do diretor Lawrence Kasdan e da atriz Kathleen Turner neste ótimo revival do gênero noir, cujo pontapé inicial foi em 1974 com o clássico Chinatown do diretor Roman Polanski e escorregou feio com o fraco O Último dos Valentões no ano seguinte. Numa trama de crime, sedução, paixão e mistério, a femme fatale da vez encontrou em Kathleen Turner a personificação ideal, o que a tornou de imediato o maior sex symbol dos anos 80. Mas não só de atributos físicos elogiáveis se constrói uma carreira e Kathleen provou ser uma atriz de talento, com direito a indicações ao BAFTA e ao Golden Globe por seu desempenho de estreia.
O título original “Body Heat” não poderia ser mais adequado: se refere aos efeitos que as alturas temperaturas do verão na Flórida (aonde a trama se passa) provocam na libido dos personagens, ávidos por sexo e dinheiro. Ned Racine (William Hurt), um medíocre advogado, se envolve com Matty Walker (Kathleen Turner), uma bela socialite casada e desprovida de qualquer escrúpulo.
Ned é tomado por uma paixão avassaladora e Matty o convence a assassinar o ricaço Edmund (Richard Crenna), seu marido. Assim Ned se vê dentro de uma intrincada trama recheada de ameaças e incertezas, onde os dois planejam cometer o crime e se esbaldar com a fortuna.
Os encontros entre o “casal” são recheados de cenas picantes e muita nudez, afinal o calor está insuportável e o sexo está além da pura e simples conjunção carnal – Matty está claramente manipulando Ned e seu parceiro de escritório interpretado por Mickey Rourke ensaia uns passinhos de dança enquanto vê o pobre amigo se afundar cada vez mais. Matty é muita areia pro caminhãozinho de Ned, mas o “heat” o impede de raciocinar e a cada novo movimento friamente calculado dela, fica cada vez mais impossível voltar atrás.
O diretor Lawrence Kasdan escreveu no mesmo ano o roteiro de Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida e dois anos depois O Retorno de Jedi, quando concorreu ao Oscar de diretor com o ótimo O Reencontro (1983), mas seu talento atrás das câmeras já deu sinais aqui. A comparação com Pacto de Sangue é inevitável mesmo, ambas as tramas tem vários pontos em comum e um abismo de quase 40 anos possibilitou a Corpos Ardentes ser mais ousado, mais “quente” em mais de um sentido e menos conectado ao cinemão clássico da Era de Ouro de Hollywood, onde Pacto de Sangue até hoje e é referência no gênero policial noir. Se as comparações entre o plot das duas produções é assunto até hoje, o mesmo não se pode fazer com suas protagonistas. Barbara Stanwick fez história com sua representação quase definitiva da Femme Fatale e Kathleen Turner trouxe o sex appeal que faltava para esse tipo de personagem. A fusão das duas pode ser vista futuramente na Catherine Tramell vivida por Sharon Stone em Instinto Selvagem.

FICHA TÉCNICA

Título: Corpos Ardentes
Título Original: Body Heat
Direção: Lawrence Kasdan
Data de Lançamento no Brasil: 4 de junho de 1982
Italo Morelli Jr. 

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