Do Fundo da Estante: Hedda [Nostalgia]
É uma pena esta produção da Royal Shakespeare Company nunca ter sido lançada em DVD. Existe apenas a versão em VHS, com uma imagem de má qualidade que não faz jus aos belos cenários e fotografia.
Assumidamente uma peça teatral filmada, Hedda foi escrita por Henrik Ibsen e já foi protagonizada por várias atrizes nos palcos e em algumas versões para a TV. Esta é seguramente a mais reverenciada, em parte pela interpretação vívida da inglesa Glenda Jackson, indicada ao Oscar. Hedda é uma mulher vitoriana, inquieta e amargurada, que exerce sua crueldade arquitetando um jogo de manipulações, apenas com o intuito de, pelo menos uma vez na vida, controlar o destino de alguém até a sua destruição.
O casamento sem amor, a casa excessivamente mobiliada e claustrofóbica e o espatilho por baixo do hermético vestido, tudo parece sufocá-la. O diretor Trevor Nunn mantém Hedda no centro da narrativa e sabiamente abre espaço para que todos do elenco brilhem. Peter Eyre encarna com perfeição o cara nerd criado pelas tias solteiras. Ele faz o contraponto passivo-agressivo com Hedda e se sobressai com notável dignidade, assim como Jennie Linden, que fez uma inesquecível dupla com Glenda em Mulheres Apaixonadas, de 1969.
Timothy West também mostra serviço como o parceiro de Hedda e é impossível não lembrar da Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont, do clássico Ligações Perigosas. O curioso é ver Patrick Stewart jovem e atuando no mais puro teatro inglês, muito bem por sinal.
Aparentemente, Hedda parece um drama de época, porém esconde no subtexto um retrato muitas vezes ácido do papel da mulher no século XIX. Hedda tenta ser a frente de seu tempo e no entanto, não consegue ir além com seus propósitos por estar “presa” na época em que vive. Tudo aqui é permeado por um constante clima de tensão quase palpável.
Até parece uma produção Ismail-Merchant escrita por Jane Austen e dirigida por James Ivory – Hedda certamente é o norte de filmes como Retorno a Howards End (1992), Vestígios do Dia (1993) e Razão e Sensibilidade (1995), este último dirigido com muita precisão pelo cineasta Ang Lee.
Tomara que um dia seja lançado em Blu-Ray.
Nossa, agora vendo que nunca foi passado para DVD, entendi o motivo de nunca ter ouvido falar desse filme. O que é uma pena, boas atuações como essa deveriam ser eternizadas.
Bjks!
Mundinho da Hanna
Pinterest | Instagram | Skoob