Do Fundo da Estante: Meu Marido de Batom [Nostalgia]
Grata surpresa em sua época, Meu Marido de Batom (1986) nasceu cult e incomodou os conservadores de plantão ao contar a história de um trisal de bandidos formados por Gerard Depardieu, Miou-Miou e Michel Blanc, todos intérpretes já consagrados na França.
Depardieu, um dos maiores atores franceses de todos os tempos é Bob, um sedutor criminoso especialista em invadir e roubar mansões. Bob é puro carisma e seduz em segundos o casal falido formado por Monique (Miou-Miou) e Antoine (Michel Blanc) que discute ferozmente em um restaurante. Linda, Monique reclama da pobreza em que vive e insulta o feioso Antoine constantemente. O então entediado casal se encanta com o jeito sexy-marginal de Bob e enveredam noite afora pelas ruas parisienses roubando ricos e usufruindo de seus bens materiais. Esvaziam os cofres, comem e bebem, tomam banho e trocam de roupa. Os lugares também são um convite ao sexo, mas a intimidade entre eles avança aos poucos por um detalhe: Bob não tem o mínimo interesse em Monique e quer a todo custo conquistar o baixinho, careca, magro e desprovido de beleza, Antoine. Já Monique está, claro, interessada em Bob, alto e do tipo ogro, também feioso, porém cheio de “joie de vivre”.
Esse divertido triângulo amoroso tem a sua disposição um roteiro tragicômico, ousado em alguns momentos e sombrio em outros. Sem julgamento moral e retratando a alta sociedade sem disfarces, o diretor Bertrand Blier conduz o ótimo trio central dosando muito bem o drama e a comédia sem que nenhum pese mais que o outro. A proposta aqui é claramente não resvalar no neorrealismo e sim mostrar de forma divertida as desventuras de três carismáticos personagens a margem da sociedade, que podem ser amados ou odiados a critério do espectador.
Se a misoginia comum na época pode chocar nos dias de hoje, a complexidade dos personagens masculinos também surpreende, já que Meu Marido de Batom foi lançado em 1986. Uma coisa não anula a outra, mas mostra o talento acima da média do diretor e roteirista Bertrand Blier e o quanto estava conectado com sua época.
Gerard Depardieu brilha do início ao fim numa atuação quase circense, exagerada na medida e é nítido o tanto que se divertiu em cena. Fazendo um interessante contraponto, Michel Blanc está mais contido e no decorrer da projeção vai mostrando serviço, o que lhe valeu o prêmio de interpretação masculina no Festival de Cannes. A química entre eles é tanta que é admirável o esforço da talentosa Miou-Miou em se destacar também. Juntos, formam um dos trios mais marcantes dos anos 80, numa obra divertida e com um certo sabor amargo que reserva um final surpreendente.
FICHA TÉCNICA
Título: Meu Marido de Batom
Título Original: Tenue de soirée
Direção: Bertrand Blier
Data de lançamento no Brasil:17 de setembro de 1987
Italo Morelli Jr.
Já anotei a indicação. Não conhecia ainda e tenho certeza que várias pessoas ficaram incomodadas. Mas adorei e preciso conferir.
Bjs
Imersão Literária
Para mim a misoginia presente em todo filme me parece mais incômoda e polêmica que a relação dos protagonistas, pelo menos nos dias atuais. Apesar de toda a caretice e hipocrisia reinantes nesta quase Idade Média em que vivemos atualmente. Os atores estão ótimos em suas performances, mas não sou um entusiasta desse filme, não.
Filme para lá de ridículo. Não perca seu tempo. Veja outra coisa.