The Undoing: episódios 3 e 4 [Crítica da série]


O TEXTO ABIXO CONTÉM SPOILER

Episódio 3
A HBO não economizou mesmo na produção: helicópteros, takes amplos estilo cinema com muitos figurantes e locações caprichadas nos situam em uma trama que quer mostrar o lado podre da invejada alta sociedade norte-americana. A burguesia fede, já dizia o poeta Cazuza. E aqui fede a cadáver.
Em relação aos episódios anteriores, este cresce e ganha fôlego principalmente na atuação intuitiva de Hugh Grant. Já na prisão, ele convence em notáveis cenas dramáticas, enquanto Nicole Kidman está apática, com uma expressão paralisada que nada lembra sua emocionante atuação em Lion. Uma cena tumultuada de tribunal repleta de figurantes, ágil e empolgante, mostra o que podemos ter de melhor numa série televisiva feita nos EUA – sem ranço de enlatados e sem toques de novelão, a diretora Susanne Bier acerta o tom e mostra que The Undoing pode crescer apesar da trama fraca e sem surpresas. Ponto também para as rápidas e ótimas aparições de Donald Sutherland no papel do pai de Grace, emocionante mesmo.
No mais a trama segue com um suspense frouxo e uma pegada policial que ainda não disse a que veio e já estamos na metade da série. Pistas jogadas para confundir a audiência não tiram a impressão inicial de que Jonathan é o mais provável assassino de Elena, e enquanto personagem, a antes consagrada terapeuta e escritora Grace agora é uma mulher assustada, perdida e possível cúmplice ou até mesmo a assassina. Essa transição abrupta não teve as nuances necessárias e a culpa não é nem do roteiro (que tenta ser o mais enxuto possível) e nem da direção: Nicole, que inicialmente usava gestos contidos e parecia ter domínio sobre sua personagem, não foi nada bem neste terceiro episódio, pois que fica claro quando seu rosto está em close, que maus procedimentos estéticos paralisaram suas expressões. Faltou mais intensidade e ela tem mais três capítulos para dar conta do recado, porque Hugh Grant faz do seu rosto envelhecido e natural, um verdadeiro tsunami de emoções.
Episódio 4

The Undoing já passou do meio da história e como previsto, joga várias pistas pra confundir o espectador, aposta em pequenas reviravoltas e algumas revelações com o intuito de justificar o comportamento de alguns personagens.
Nicole segue inexpressiva com sua personagem que é doutora em terapia e em nada esse aspecto é explorado. Grace aparece frágil, perdida, incrédula e sem nenhum controle sobre sua emoções. Felizmente, o roteiro abre espaço para Hugh Grant mostrar o quanto amadureceu como ator, saindo-se ótimo em cenas que exigem dramaticidade com precisão, sem pieguismo apelativo. O mesmo vale para as intervenções precisas de Donald Sutherland (que está começando a ficar assustador) e a advogada interpretada pela talentosa Noma Dumezweni com sua dureza inabalável. São por eles que ainda vale a pena acompanhar a série, que termina no sexto episódio e não promete uma segunda temporada, por motivos óbvios – o recorte da burguesia nova iorquina é insosso se comparado a série anterior da HBO Big Little Lies e com o longa Garota Exemplar, dois exemplos mais próximos que nos vem a mente o tempo todo. Quando um produto áudio visual nos lembra de outros maiores e melhores, alguma coisa errada não está certa.
A pergunta que não quer calar, continua incomodando: como e por que a renomada terapeuta e escritora Grace foi feita de trouxa pelo marido durante tanto tempo? O ditado popular “Santo de Casa não faz Milagre” não cabe mais nos dias de hoje. Se The Undoing apenas revelar quem foi o assassino sem explicar porque Grace é uma personagem tão dúbia, estaremos diante de uma das previsíveis e vazias séries de 2020.
Italo Morelli Jr.

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