O Vermelho e o Negro [Resenha Literária]

Em O Vermelho e o Negro, Stendhal pinta um retrato arrebatador da França do início do século XIX – suas classes sociais, profissões, política e costumes – em Paris e nas províncias. Os personagens do romance representam praticamente todos os níveis de inteligência e sensibilidade, em um enredo envolvendo paixão, intriga, sátira e reviravoltas de última hora. Mudando de cena e foco com tanta frequência que frequentemente tem sido chamado de “cinematográfico”. 
Julien deixa sua casa no interior para se tornar um tutor, se esforça para se elevar profissionalmente e socialmente, se envolve em uma série de escapadas românticas e, finalmente, enfrenta um julgamento no final. Até que Stendhal escolheu a frase enigmática O Vermelho e o Negro como título pouco antes da publicação do livro, ele chamou o romance de Julien. Embora Julien seja indiscutivelmente o personagem central do romance, saber se o veremos como herói é uma questão em aberto. No final do romance, o autor nos coloca na mesma posição que o júri do julgamento de Julien, na verdade nos pedindo para avaliar o protagonista e comparar nosso veredicto com o da corte. 
Julien, personagem muito interessante, logo conquista todos com sua polidez e habilidade nas letras. Tendo decorado a Bíblia, não demora para atrair todos os olhares para si, inclusive da Sra. de Rênal, com quem passa a envolver-se em segredo. Esse relacionamento amoroso é muito sutil, não havendo no livro nenhuma passagem que possa chocar o leitor. O romance proibido é conduzido com maestria pelo autor (lembre-se é um clássico da literatura lido há mais de 185 anos) e prende o leitor na trama. Era uma época em que o simples toque de mãos rendia amores impossíveis, paixões arrebatadoras que faziam as pessoas chorarem de dor pela simples ideia de poderem um dia se afastar.
Lógico que esse romance não poderia acabar bem. O marido traído toma conhecimento, por meio de uma carta anônima (hoje seria um e-mail ou mensagem de WhatsApp) que sua mulher está de sorrisos com outra pessoa, fato que obriga o jovem Julien Sorel a sair da cidade rumo à Paris. Deixa, assim, na pequena Verrières, amigos fiéis como Fouqué e inimigos sedentos pela sua queda.
Chegando em Paris, por gozar de suas boas referências, consegue estudar em um seminário. Não demora para conhecer o marquês de La Mole, dono de grandes propriedades e pessoa respeitada por toda a sociedade francesa, que o acolhe em sua residência, permitindo-o conviver com membros da alta nobreza. O Sr. de La Mole é pai de uma filha encantadora, não tardando para que esta ceda aos encantos do esbelto Julien Sorel. Resultado: a moça rica fica grávida do camponês (velho e conhecido conflito entre o rico e o pobre). Contudo, em razão do amor infinito que a Srta. de La Mole sente pelo rapaz, abdica de tudo para viver com ele. O sogro de nosso intrépido personagem, lógico, não concorda com a atitude da filha e entrega a Sorel uma grande quantia em dinheiro e terras valiosas, tornando-o, ainda, militar de alta patente. 
Apesar do inconformismo do sogro, tudo ia bem para Julien, porém, por meio de uma carta enviada pela Sra. de Rênal, o Sr. de La Mole toma conhecimento de que Sorel havia a deixado desesperada de amor e que era do seu feitio utilizar-se da beleza e capacidade intelectual para seduzir as pessoas a fim de obter vantagens pessoais e expansão social. Colocado contra a parede, Julien Sorel, comete um ultraje. Até aqui já se vão mais de quatrocentas páginas do livro, porém, como o escritor é muito habilidoso, o leitor vai sendo conduzido pelas páginas do clássico francês, ora torcendo para que ele termine logo, ora torcendo para que as narrativas se perpetuem por mais algumas páginas.
O enredo é bastante rico, com refinamento de palavras e de conteúdo ideológico. Pena que por se tratar de um clássico será pouco lido pelas gerações mais novas, que certamente irão preferir utilizar esta curta resenha como resumo. Para aqueles que tiverem coragem de se aventurarem pelas páginas de O Vermelho e o Negro, fica aqui a dica. Certamente irão tirar boas lições de perseverança e coragem, atributos tão próprios de um tempo em que ainda se sofria por amor.
Além da figura do próprio Julien, a apresentação de Stendhal de um mundo social frequentemente dominado por mentir, trapacear e roubar oferece um indício das possíveis intenções do autor. No decorrer do romance, fica claro que as províncias, os seminários e a cidade são fundamentalmente semelhantes nos tipos de comportamento que criam e frequentemente recompensam. Esse romance infinitamente intrigante de multicamadas termina apropriadamente com a dedicação de Stendhal à essa obra e nos deixam inúmeras questões: é possível alcançar sucesso mundano sem sacrificar a integridade de alguém? Até que ponto o amor romântico depende de mistério ou engano? Os interesses de uma sociedade e de um indivíduo estão necessariamente em conflito? 
FICHA TÉCNICA
Titulo: O Vermelho e o Negro
Autor: Stendhal
Nota: 4/5
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Natália Silva

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