A Árvore que Chorava Sangue [Crítica]
Os filmes de terror muitas vezes salvaram estúdios e salas de cinema da falência, além de terem feito a alegria de quem buscava uma diversão mais audaciosa. Seus realizadores, alguns especialistas no gênero e outros apenas dando início em suas carreiras, podem ser considerados verdadeiros heróis da sétima arte, além de sonhadores que trabalham em prol da cultura e do entretenimento. Essa também é a história do suzanense Janderson Rodrigues, responsável por este A Árvore que chorava Sangue, produção nacional de terror que insere em pouco mais de uma hora, influências que vão desde Tobe Hooper com seu clássico Massacre da Serra Elétrica (1974), Wes Craven com o sujo e brutal Quadrilha de Sádicos (1977) e até Ari Aster com o recente Midsommar, de 2019 – tudo à moda brasileira, sem negar nossas origens. Para quem é cinéfilo e fã de filmes de terror, perceber todas essas referências é puro deleite!
Com o orçamento quase irrisório de R$ 38 mil e filmado em apenas cinco dias, Janderson conta a história de um grupo de pessoas diferentes entre si, lideradas por um coach (Rogério Rolim) com a ideia de passar um fim de semana na mata sem o uso de
celulares. Sem que saibam, no local habitam uma família de canibais liderados por uma matriarca (Débora Munhyz), devota de uma estranha e escura árvore que verte sangue.
O diretor fez muito com o pouco de tempo e orçamento que tinha em mãos. A fotografia em 6K é belíssima, há takes aéreos realizados com o auxílio de um drone e passeios vertiginosos de câmera pela mata. Ponto também para a boa trilha sonora, bastante adequada e inserida de maneira inteligente.
Outro acerto é o visual grotesco da Matriarca, bem interpretada pela veterana Débora Munhyz, além da composição do ator Fábio Garcia no papel do Machadinha, responsável por abater as vítimas. Sendo o ponto de partida de uma futura trilogia, A Árvore que chorava Sangue deixa alguns questionamentos no ar, como por exemplo, do que se trata a tal Árvore, por que ela “chora” sangue e se o coach não foi induzido por uma força maligna até o local. E quem é a Matriarca, por que é tão devota a Árvore, por que ela cobre a boca e se comunica por grunhidos e por que seu mamilo direito vaza sangue? Há também uma figura feminina de traços indígenas entre os canibais e outra no grupo com ares góticos que se conectam, mas não nos é oferecida uma resposta imediata, o que só aumenta o mistério sobre a história.
A lamentar apenas o tímido uso do gore dentro do tema canibalismo em meio à externas bem iluminadas, chão de terra batida, galhos, folhas e raízes. Mas não é nada que diminua o valor da empreitada e o esforço e dedicação de todos os envolvidos.
Entrevista com o diretor
Janderson Geison Rodrigues nasceu em Suzano-SP, tem 43 anos e já dirigiu 25 curtas, 22 videoclipes, 13 comerciais, 4 longas, além da direção de fotografia em outros cinco longas-metragens. Apaixonado pela Sétima Arte, Janderson está divulgando seu mais novo trabalho A Árvore que chorava Sangue, que pude conferir numa sessão especial no Centro Cultural Charada.
Além do próprio Janderson, bastante solícito antes e após a sessão, estavam presentes uma parte do elenco, com o qual tive o prazer de conversar e debater após a exibição.
Primeiramente, parabéns pelo trabalho. O Na Nossa Estante se orgulha em sempre prestigiar o cinema de autor, feito na raça e com autenticidade. Foi um prazer poder conferir.
Qual foi o filme que te despertou o desejo de ser cineasta e porque o gênero terror o fascina?
JR: O primeiro filme que vi no cinema foi Rambo 2 – A Missão. Minha mãe me levou e sai de lá sabendo que queria fazer filmes. O terror me fascina porque a gente pode viajar nas cenas, experimentar coisas novas e adorar o medo que você pode causar.
Você conheceu e trabalhou com o Mojica, ícone internacional das produções de terror brasileiras. O que ele lhe ensinou sobre como ser um cineasta num país onde a cultura não tem seu devido valor?
JR: -Na verdade, quando fiz a fotografia do filme do Sr. Mojica, cada vez que a diretora Liz (filha dele) falava corta, eu corria pro lado dele para perguntar algumas coisas, e faço isso até hoje com os diretores, atores e atrizes com quem trabalho. Aprendi com o Mojica, aprendo com Clery Cunha que virou meu amigo e com Tony Ciambra, que hoje trabalha comigo, então sempre aprendo com essas lendas do nosso cinema.
Toda produção de terror tem suas histórias sobre as dificuldades de seguir com o planejado, imprevistos e situações que interferem no rumo da obra. Já te aconteceu algo parecido durante uma produção?
JR: Acontece em todos (risos). Vivência em um set nenhuma faculdade vai te ensinar, mas ser diretor independente é isso, você tem que estar preparado para tudo e ai chaga lá e percebe que você nunca esta preparado.
Como é feita a seleção de elenco? Você mesmo entra em contato com os intérpretes ou coloca algum tipo de anúncio nas redes sociais?
JR: Normalmente chamo o elenco antes mesmo de ter o roteiro e sempre procuro dar oportunidades a um elenco novo, apesar de gostar de trabalhar com o mesmo.
Quem você gostaria de dirigir e por quê?
JR: Hoje fico na dúvida sobre isso porque trabalhei com pessoas que cresci vendo em alguns filmes e têm pessoas que não só dirigi, mas me tornei amigo. Outras que sempre admirei e entrou naquela situação de NÃO QUEIRA CONHECER SEUS ÍDOLOS. Então penso antes, mas ainda tem muita gente que quero arriscar.
Eu costumo dizer que muitos grandes cineastas deram seus primeiros passos em produções de terror. Foi assim com Steven Spielberg que estreou muito bem com Encurralado (1971) e Peter Jackson com o já clássico Fome Animal (1992), além de outros que construíram suas carreiras desbravando o gênero, como Dario Argento, Lucio Fulci, Wes Craven e o próprio Zé do Caixão. Qual outro estilo que você gostaria de filmar? Tem algum projeto futuro?
JR: Quero fazer todos os gêneros. Já fiz terror, drama, gospel e sim, tenho projetos de western, ação, comédia, thriller e até bíblico. Quero fazer todos porque meus diretores favoritos são Steven Spielberg e Robert Rodriguez, e não são diretores não de gênero mas sim contadores de historia. Nunca vou deixar o terror rsrsrs
Para finalizar, que recado você deixa pra quem sonha em pegar uma câmera e filmar suas próprias ideias?
JR: Filme sem parar e não tenha medo de errar, são os erros que vão te ensinar. E nunca espere agradar a todos, porque não vai.
Obrigada Ítalo Morelli Jr,pela atenção dispensada ao nossa trabalho,o filme de longa metragem ” A Árvore Que Chorava Sangue”,para mim foi uma grande realização,em especial pelo momento crítico em que aconteceram as filmagens (plena pandemia) foi um grande aprendizado e superação de,um momento tão crítico,sou grata, e parabenizo, o diretor Janderson Geison ,pela coragem e determinação!!! 👏👏👏