O mínimo para viver [Resenha do Filme]

Anorexia: distúrbio alimentar que gera perda de peso acima do que é compatível à idade e altura. Os indivíduos com anorexia podem apresentar medo intenso de ganho de peso, até em circunstância de estar abaixo do peso padrão. E podem realizar abuso de dietas ou atividades físicas, ou utilizar mais métodos para perder peso. Assim é definida a doença, pelo site Biosom, que atinge a personagem Ellen (a ótima Lily Collins).

Não é o primeiro filme sobre o assunto, e muito provavelmente não será o último. Mas talvez seja o primeiro a dar um tratamento mais poético ao tema, nos presenteando com personagens bastante críveis, vulneráveis e divergentes entre si. A diretora Marti Noxon (mais conhecida por ter sido a produtora executiva da série Buffy, a Caça-Vampiros) debuta no mundo dos longas com uma direção bastante segura, ainda que delicada. Na maior parte dos 107 minutos do filme, o que temos são muito bons momentos cinematográficos – como a cena da árvore no final, ou a corajosa e inesquecível cena de Ellen com sua mãe (a excelente Lili Taylor, fazendo uma coadjuvante digna de Oscar aqui).

A condução de um tema polêmico e difícil não precisa sempre ser arrastado por dramas e tragédias. Enveredar por caminhos lúdicos e oníricos para pormenorizar tristeza e desconsolo é um dos grandes truques do cinema. Já funcionou várias vezes antes e mais uma vez funcionou aqui. Talvez não seja exatamente o que você espera ver, mas será o que você terá.

Além da brilhante entrega de Lily Collins no papel principal e de sua xará no papel da mãe lésbica, ainda temos Keanu Reeves (tranquilo como nunca numa personagem coadjuvante, ainda que de extrema importância) encarnando o doutor William, que coordena um tratamento um pouco mais alternativo à doença de Ellen. Na “clínica”, conheceremos alguns outros jovens com distúrbios alimentares, como Luke (Alex Sharp), trazendo um humor quase desnecessário ao filme. E se Ellen não precisa de pessoas que não irão somar à sua jornada, a solução encontrada por Marti para não conhecermos o pai dela é, no mínimo, óbvia demais, mas funciona. E é nessa funcionalidade que Marti ganha pontos.

Precisamos falar também do quanto a auto-aceitação é colocada em cheque aqui. Se o cinema é mais um veículo de protestos e documentos que são vistos por muitos e de forma vitalícia, vale dizer que se minorias são representadas e, de uma maneira ou de outra, decodificadas, a valia de filmes como esse é realmente algo que chega perto do precioso. O que estou tentando dizer é que você não precisa amar a história, ficar babando na fotografia do filme ou se emocionar do começo ao fim. Você precisa simplesmente conhecer o que nunca lhe foi apresentado e, de cabeça e peito aberto, respeitar o fato de que fragilidades, dores e dilemas diferentes dos seus existem e causam padecimento em pessoas essencialmente iguais a você.

Para terminar, vou reproduzir um comentário que vi numa rede social de filmes: ‘Só digo uma coisa: tá ficando difícil manter a Netflix longe das premiações de cinema’ (Rohit Kumar, no Letterboxd).

Trailer:

FICHA TÉCNICA
Titulo: O mínimo para viver
Título: To the bone
Diretora: Marti Noxon
Data de Lançamento no Brasil: 14 de julho
Netflix
4.0/5.0
Cristiano Santos

22 thoughts on “O mínimo para viver [Resenha do Filme]

  • 10 de setembro de 2017 em 13:44
    Permalink

    Olá!
    Assisti esse filme no feriadão, e confesso que fiquei bastante chocada. O filme, na minha opinião, é forte, por se tratar de uma doença que precisa ser discutida.
    Beijos,
    Meise Renata.
    viciadas-em-livros.blogspot.com.br

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:11
      Permalink

      Forte sim, verdade.
      E que bom que viu o/
      Obrigado, bjo.

      Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 14:16
    Permalink

    Gostei bastante do filme! A atriz soube interpretar muito bem. Conhecer o distúrbio na visão de quem vive é necessário. É algo que precisa ser discutido sempre!

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:16
      Permalink

      Pô, que bom, Clayci!
      Fico feliz que tenha gostado 😉

      Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 15:12
    Permalink

    Oi, tudo bem?
    Na minha opinião, o filme foi muito bem dirigido e Lily arrasou na interpretação.
    Beijos!

    Vinte Outonos

    Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 15:15
    Permalink

    Oi, Cris. Eu amo todos os filmes que a Lily protagoniza, acho ela uma excelente atriz e com certeza vou dar uma conferida nesse filme dela. Acho que esses temas como anorexia, bulimia, suicídio são temas que veremos mais vezes sim, pois precisam ser mais debatidos na sociedade.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:18
      Permalink

      Adorei, Miriã! Obrigado pelo comentário, assino embaixo.
      Bjo gde

      Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 20:20
    Permalink

    Eu já me deparei com esse filme umas 2 ou 3 vezes na Netflix, mas ainda não assisti.. parece até ser interessante, principalmente pelo tema que faz refletir sobre o assunto..

    http://www.vivendosentimentos.com.br

    Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 21:52
    Permalink

    Oi
    faz dias que to com o filme para assisti na netflix, mas acabou indo assistir outra coisa. a Lily é uma boa atriz e que bom que gostou de assistir, é um tema bem delicado mesmo..

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:19
      Permalink

      Bastante, Denise. Bastante.

      Resposta
  • 10 de setembro de 2017 em 23:53
    Permalink

    Oie Cristiano =)

    Faz uma duas semanas que assisti esse filme e gostei bastante dele no geral. É um tema importante a ser debatido e para quem já passou pelo problema como eu, a visão que o filme passou foi bem real e verdadeira.

    Porém, não nego que achei o final um pouco sem graça.

    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:22
      Permalink

      Oi Ariane 🙂
      Eu adoro esses finais que terminam e deixam tudo à nossa imaginação, adoro.
      bjo

      Resposta
  • 11 de setembro de 2017 em 13:59
    Permalink

    Oi Cristiano,
    Tudo bom?
    Esse realmente é um tema bem delicado fico feliz em saber que a adaptação conseguiu cumprir seu papel. Concordo com você sobre as vezes não precisarmos de tantos efeitos especiais em um filme,mas sim de algo que traga conteúdo e esse parece fazer bem isso. Gostei muito da dica e vou querer conferir.
    Beijos
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa
    http://leiturakriativa.blogspot.com.br/2017/09/cinekriativa-it-coisa.html#comment-form

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:23
      Permalink

      Oi Raquel!
      Tomara que tenha gostado do filme, eu achei bem bacana. Fiquei curioso pra saber tu opinião.
      bjo

      Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:24
      Permalink

      Hehehe, tomara que volte a assistir. E goste!
      hugs, man!

      Resposta
  • 12 de setembro de 2017 em 17:41
    Permalink

    Assisti esse filme e me encantei com a forma "nua e crua" que eles nos apresentaram a anorexia, não é algo bonito de se ver e realmente é sério e perigoso, o filme mostra que isso não é "frescura" como muitos pensam, e que muitos de nós estamos sujeitos a passar por se isso se não tomarmos cuidado, em muitos momentos me identifiquei com Ellen e o seu drama, a Netflix arrasou mais uma vez.

    Beijos
    Dani Cruz
    blogemcomum.com.br

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:25
      Permalink

      Ahhh que bacana, Dani!
      Adorei 🙂
      bjo

      Resposta
  • 13 de setembro de 2017 em 03:12
    Permalink

    Não assisti ainda!
    É um assunto muito pesado, mas que deve ser abordado em todas as mídias para alcançar o máximo de público possível.
    Beijo

    Resposta
    • 17 de setembro de 2017 em 22:24
      Permalink

      Exatamente, Nati. Exatamente isso.

      Resposta

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