Do Fundo da Estante: Cine Trash [Nostalgia]

Difícil acreditar mas, sim, nos anos 90 e no horário da TARDE, a TV Bandeirantes (hoje Band) exibia filmes de terror.

O repertório ia do clássico A Mosca da Cabeça Branca (1958) até a tosqueira Skinner – O Mutilador (1993), protagonizado pela atriz pornô Traci Lords e o hoje cult O Duende, do mesmo ano e com a futura estrela do seriado Friends, Jennifer Aniston. 

Apresentado pelo icônico Zé do Caixão (1936 – 2020), o Cine Trash era puro deleite para os fãs do terror numa época em que não existia torrent e as poucas locadoras do bairro não tinham muitos títulos obscuros do gênero. O catálogo de filmes exibidos era bem vasto e traçava um painel do que foram as produções norte-americanas que bebiam muito na fonte do Giallo (subgênero italiano do terror) influência máxima dos filmes de baixo orçamento que foram feitos a toque de caixa nos anos 70 e 80. Nos anos 90, filmes de terror encontraram no público adolescente a sua galinha dos ovos de ouro, com produções mais caprichadas e orçamentos cada vez maiores. Hoje, mesmo em tempos pandêmicos, vários títulos são lançados semanalmente (até no Brasil alguns são realizados), seja nos cinemas ou diretamente em streamimg. É a tal história: aumentou a procura e aumentou a oferta, porém perdeu o nonsense e o ingrediente trash para dar lugar a produções caça-níqueis ou franquias intermináveis. Na comparação, pode-se dizer que o cinema de terror atual nunca foi tão chato e pedante, nos fazendo sentir muita falta das tardes divertidas a base de entretenimento gore que nunca fez questão de ser levado a sério. Nada do fator surpresa obrigatório dos filmes do diretor M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido) e muito menos a interminável saga de Jogos Mortais. Nem sabíamos o que era spin off e remake, era ligar a TV e esperar o reclame anunciar com a voz marcante do locutor, qual seria a pérola daquela tarde. 

Antes do filme começar, Zé do Caixão (sempre brilhantemente interpretado pelo saudoso José Mojica Marins) rogava suas impagáveis maldições pra quem se recusasse a assistir. Substituindo os programas Dia a Dia e Supermarket que davam apenas 1 ponto no Ibope, o Cine Trash elevou a audiência para 6 pontos (cerca de 600 mil televisores ligados) chegando a ficar atrás apenas da sempre líder rede Globo. Com a exibição de Shakma – Fúria Assassina (1990), filme sobre um babuíno modificado geneticamente que virava uma verdadeira máquina de matar, o Cine Trash chegou perto de 1 milhão de aparelhos de tv sintonizados.

Com medo da concorrência, Globo e SBT passaram a exibir filmes terror no mesmo horário. A emissora do tio Sílvio, por exemplo, chegou a passar o ótimo Um Lobisomem Americano em Londres em plena tarde – ousadia total impensável nos dias conservadores de hoje.

Questionado sobre o assunto, sabiamente Mojica respondeu: não vejo o termo “trash” como lixo. Defino trash como uma obra artesanal realizada por um sonhador. Uma pessoa que tem muitas ideias, mas pouco dinheiro.

01. Fome Animal (1992)

02. Palhaços Assassinos do Espaço Sideral (1988)

03. A Mosca da Cabeça Branca (1958)

04. Shakma – Fúria Assassina (1990)

05. A Dama de Branco (1988)

06. Boneca Assassina (1991)

07. Mente Macabra (1986)

08. Re-Animator (1985)

09. A Irmandade de Satanás (1971)

10. Tentáculos (1977)