Do Fundo da Estante: Parceiros do Crime [Crítica]

O pôster e a capa do VHS traziam com letras garrafais o nome de Quentin Tarantino, mas Parceiros do Crime (Killing Zoe) é escrito e dirigido por Roger Avary, amigo de Tarantino, que aqui assina a produção e deu aquela força na divulgação.

Avary tinha apenas 27 anos quando escreveu junto com Tarantino o roteiro de Cães de Aluguel (1992), filme de assalto que antecede este Parceiros do Crime, lançado dois anos depois juntamente com Pulp Fiction, pelo qual dividiram o Oscar de roteiro original e uma penca de prêmios.

A crítica foi implacável com seu primeiro vôo solo, comparando Parceiros do Crime não só com Um Dia de Cão (1974) mas com o próprio Cães de Aluguel (Reservoir Dogs), dando-lhe o apelido de Reservoir Frogs – um trocadilho ridículo.

Filmado em Los Angeles (alguém já disse que Los Angeles, Nova York, São Paulo e Paris guardam muitas semelhanças), Parceiros do Crime nos apresenta Zed (Eric Stoltz, sempre ótimo), um especialista em arrombar cofres que vai até Paris participar de um assalto a banco comandado pelo amigo Eric, numa interpretação insana do francês Jean-Hugues Anglade. Zed se instala em um hotel e por indicação do taxista, contrata os serviços de Zoe (Julie Delpy, bela e muito bem aqui), uma estudante que se prostitui para pagar a faculdade. A cena da transa entre eles é intercalada com cenas de Nosferatu (1922) exibidas na tv do quarto e já se tornou antológica.

Zed tem uma vibe “grunge light”, o que fica evidente perante ao grupo de assaltantes que participou do roubo. Na noite que antecede a invasão ao banco, Eric e sua gangue fazem um mergulho em todas as drogas possíveis e, é claro, isso vai se refletir no dia seguinte durante o assalto. Há uma teoria furada de que tudo o que acontece seria um sonho alucinógeno do entorpecido Zed, cujo cérebro já dava sinais de interferência durante as cenas no pub parisiense. 

Depois de uma invasão memorável, acontece a já esperada virada de chave e tudo começa a dar errado. No melhor estilo Gary Oldman chapado, Jean-Hugues Anglade traz o protagonismo do filme para si e comanda um verdadeiro massacre. Graças a ele, se o filme tem algum erro técnico, ninguém consegue perceber.

Todo o grupo, ainda sob o efeito das drogas, entra numa espiral de loucura, exceto Zed, que calmamente faz o seu trabalho no andar de baixo da agência sem saber o que se passa entre os assaltantes e os reféns. 

Do lado de cá, o massacre da crítica especializada (os blogueiros da lacrolândia e o Twitter não existiam) foi injusto. Roger Avary estreou bem na direção e fez um dos melhores filmes de assalto dos anos 90. Não cabe nenhuma comparação com seu roteiro anterior de Cães de Aluguel, que é melhor, mas tem outra abordagem – é inspirado em Rashomon do diretor Akira Kurosawa e acusado de ser um plágio do filme chinês The City on Fire, inclusive o diálogo sobre Madonna está lá.

A produção de Quentin Tarantino e Lawrence Bender é excelente e não permite que apesar do baixo orçamento, Parceiros do Crime tenha cara de filme B e tão pouco de produção padrão hollywoodiana. 

O curioso é que mesmo debaixo de tantas críticas, tanto Cães de Aluguel quanto Pulp Fiction, Amor à Queima Roupa, Assassinos por Natureza e Parceiros do Crime, mudaram a rota do cinema no mundo todo, todos queriam ser Quentin Tarantino. Rever qualquer um destes títulos é fazer uma viagem ao que havia de mais pungente no cinema dos anos 90, com todos seus excessos, erros e acertos.

FICHA TÉCNICA

Título: Parceiros do Crime
Título Original: Killing Zoe
Direção: Roger Avary
Data de lançamento: 19 de agosto de 1994 (Estados Unidos)

Italo Morelli Jr.

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