Do Fundo da Estante: Crash – Estranhos Prazeres
Se no Festival de Cannes 2021 o polêmico Titane saiu de lá com a Palma de Ouro, há 25 anos a matriz Crash – Estranhos Prazeres ganhava neste mesmo festival o prêmio especial do júri, uma espécie de segundo lugar. Baseado no polêmico livro de mesmo nome escrito em 1973 por J. G. Ballard, ninguém mais capacitado do que o diretor David Cronenberg pra levar as telas do cinema uma incômoda história de sexo, carros e acidentes. Considerado infilmável pelos fãs da obra, o próprio Cronenberg tratou de escrever o roteiro e conseguiu enxugar os excessos sem diluir a essência do texto. No elenco principal, James Spader (premiado em Cannes por Sexo, Mentiras e Videotape, de 1989), Holly Hunter (Oscar por Piano (1993), também premiada em Cannes) e o sempre ótimo Elias Koteas, especialista em tipos perturbados.
James Ballard (James Spader) se envolve em um terrível acidente automobilístico que acaba atingido outro carro no qual está um casal. O homem morre e a mulher Helen (Holly Hunter) fica bastante ferida, mas após o trauma e a raiva inicial, ela acaba se tornado amante de James. Ao mesmo tempo passam a frequentar um grupo que tem como fetiche a reconstituição de acidentes de carros, nos quais famosas pessoas morreram. No entanto, estas reconstituições são propositadamente feitas sem nenhuma norma de segurança, aumentando sensivelmente o risco para quem participa da simulação e criando um clima de grande excitação para a plateia. A descoberta deste estranho prazer acaba atingindo Catherine (Deborah Kara Unger) a esposa de James e as relações sexuais tendem a ser quase sempre dentro de automóveis.
Nesta bizarra mistura de desejos peculiares, fetiches, sexo, ferimentos, carros e muito metal (dentro e fora dos corpos), o resultado é um verdadeiro mergulho nos lugares mais obscuros da alma e da mente humana. Já famoso por seus longas de “body horror”, Cronenberg se mostra bastante a vontade com esse insólito universo, dosando com notável maestria os dramas dos personagens enquanto as latarias dos automóveis machucam e cortam pele, carne e ossos. Elias Koteas nasceu para interpretar o personagem central, Vaughan. É em torno dele que gravitam todos os outros, fascinados com seu tipo escroto e ao mesmo tempo sedutor. Influenciando todos numa odisseia que causa prazer ao colocar vidas em risco e catalisando mudanças profundas na psique de James, Vaughan é uma espécie de messias cuja missão é dar sentido a vidas de pessoas que escaparam da morte e adquiriram profundas marcas físicas e psicológicas.
O desejo sexual permeia toda a narrativa, seja com o contato dos seios no capô de um carro, o toque das mãos nas grotescas cicatrizes e até o tilintar de ferros e muletas em meio a muita sensualidade. O ápice, no entanto, é a tara pela recriação de um acidente que causou a morte de algum mito hollywoodiano. É aí que Crash entra no nicho de outro vício da humanidade: o gosto por notícias trágicas envolvendo famosos. O que parecia ser algo restrito a um seleto grupo, acaba se estendendo a outro que se limita a colecionar revistas, jornais e assistir aos programas mundo cão – basta um passo pra cruzar a linha tênue entre o voyeurismo e a prática em si, o que poderia conectar qualquer pessoa com esse cult cinematográfico.
FICHA TÉCNICA
Título: Crash – Estranhos Prazeres
Título Original: Crash
Direção: David Cronenberg
Data de lançamento: 17 de julho de 1996
Italo Morelli Jr.
Nossa, eu não conhecia esse filme, mas já fiquei com medo do perigo que eles corriam em nome de um fetiche. =s
Bjks!
Mundinho da Hanna
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Eu tô chocada e passada! Eu nem conhecia esse filme mas eu achei o enredo bem do bizarro. Fetiches por acidentes de carro?? Meu Deus que loucura kkkkk agora deu vontade de assistir.
Beijo!
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