Crianças da Guerra [Resenha Literária]
Crianças da Guerra é um romance simpático e bem elaborado, repleto de pontos turísticos que valem a pena visitar e experiências autênticas de uma Itália que mostra muito mais do que conhecemos. Originalmente publicado em italiano o romance aclamado pela crítica de Viola Ardone foi agora traduzido para o público brasileiro pela Faro Editorial.
Nele, a autora conta a história de um menino desfavorecido que precisa escolher entre dois caminhos no belo cenário de Nápoles do pós-guerra. Através de uma combinação de uma voz de primeira pessoa e um tom equilibrado, o livro pinta uma imagem eminentemente crível e simpática que nos leva para um caminho desconhecido.
Amerigo Speranza, um menino de 6 anos enfrenta uma infância difícil em Nápoles, após a derrota de Mussolini e a reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial. A cidade está em ruínas após o conflito, deixando muitas pessoas na pobreza. A certa altura, ele tenta capturar e vender ratos no mercado, e sua mãe solteira luta para sustentá-lo. Várias facções tentam preencher o vácuo de poder na Nápoles do pós-guerra, incluindo o Partido Comunista, com o qual a mãe de Amerigo se envolve.
Sua mãe é muito humana e com falhas realistas. Ela não tem medo de ensiná-lo as duras verdades da vida. Ela tem uma relação complexa com o capítulo local do Partido Comunista, inicialmente acreditando que ele está interessado em ajudar os pobres, embora com o tempo ele se revele com fome de poder. Liderada por esse sentimento, ela participa de um programa de caridade dirigido pelos comunistas locais, no qual crianças pobres de Nápoles são enviadas a famílias ricas no norte da Itália para uma educação melhor.
Como resultado, a mãe do jovem Amerigo o envia para o norte em um trem com um grupo de crianças carentes, trocando o calor do sul da Itália pelos invernos frios do norte. Sua família anfitriã o expõe à riqueza e conforto pela primeira vez, proporcionando-lhe educação, aulas de música e afeto. À medida que cresce, ele se sente dividido entre sua família anfitriã, afetuosa e generosa, e sua mãe solteira e amorosa em Nápoles.
A voz na primeira pessoa descreve uma Itália se reconstruindo pelos olhos de uma criança. O que se perde por meio do ponto de vista limitado é compensado com o monólogo interior de Amerigo e as tentativas de dar sentido ao mundo à sua maneira inocente. A voz é muito moderada e, embora a narração não seja exatamente como uma criança falaria, ela fornece pistas suficientes para indicar a juventude dele sem distrair.
A autora faz questão de contrabalançar os momentos tristes com os moderados, evitando a armadilha de romantizar a pobreza. Os leitores não são levados pela mão a ter pena do narrador, o que remove o foco da triste situação da criança e, em vez disso, concentra-se na auto ação e na tomada de decisões da criança, proporcionando aos leitores uma causa para se sentirem envolvidos.
Amerigo é um personagem adorável. Normalmente prefiro a voz de um adulto, mas ele acaba sendo provavelmente um dos personagens mais memoráveis que já conheci.
É uma história comovente de auto exploração, de escolhas que enfrentamos e fazemos, especialmente quando se trata de família. Essas são as decisões mais difíceis. O que família realmente significa?
A estrutura do livro exige que Amerigo escolha entre dois mundos que se contrastam: o norte da Itália com os invernos frios e as cidades ricas, ou o sul da Itália com o clima mediterrâneo e a pobreza.
Traduzido por Mario Bresighello, Crianças da Guerra explora decisões difíceis feitas por pessoas que vivem vidas extremamente difíceis. Não existem respostas fáceis e nem heróis ou vilões. O romance de Ardone vai agradar aos fãs de Elena Ferrante, mas se destaca como um relato ficcional de um experimento social excepcional – e excepcionalmente complicado.
FICHA TÉCNICA
Título: Crianças da Guerra
Autor: Viola Ardone
Editora: Faro Editorial
Nota: 4,5/5
Onde Comprar: Amazon
Oi, Natália. Tudo bem?
Eu fujo de todo livro que se passam no início do século XX ou que faça referência a guerra, é uma temática que não me chama muita atenção, mas principalmente porque não sei se tenho estômago para isso. Este é um dos primeiros livros que focam em outro país pós-guerra, achei muito legal. Como o tom dele é mais suave e narrado por uma criança, talvez eu dê uma chance no futuro.
Beijo!
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