Walachai (Resenha de filme)

O Rio Grande do Sul foi destino de muitos imigrantes alemães e, além de chimia e cuca, duas iguarias da culinária, eles nos deixaram dialetos. Com o passar dos anos, eles se misturaram ao português e hoje a relação é pouca entre o Hochdeutsch (alemão oficial) e os dialetos germânicos existentes no solo gaúcho. Costumeiramente, o Hochdeutsch é ensinado nas escolas básicas dessas pequenas cidades de origem alemã, mas os dialetos prevalecem. O documentário Walachai traz um caso especialmente curioso: o vilarejo rural que dá nome ao filme, pertencente ao município de Morro Reuter, é tão afastado que o português é raro e o alemão usado é um tanto peculiar (eu, que aprendi Hochdeutsch, entendi pouquíssimo do que era dito, dependia das legendas em português). 
Rejane Zilles nasceu e viveu até os dez anos em Walachai. Ela retorna ao vilarejo para fazer o documentário e nos apresentar essa parte do mundo que fica a apenas uma hora de Porto Alegre, mas que permaneceu alheia às tecnologias das últimas décadas. O trabalho é braçal, o transporte usual é carroça e a mesma senhora bate o sino diariamente há mais de 50 anos. As crianças vão para a escola sem saber português e, mesmo quando aprendem, em casa só falam alemão. Cinema e teatro são bichos desconhecidos, o entretenimento mais comum são os bailes de kerb. Jornal? Não chega ali. O rádio continua sendo o rei da comunicação.
Com sotaque carregado, alguns arriscam falar português, mas caso possam escolher, preferem o alemão – é mais seguro. E a Alemanha, onde fica? Ninguém sabe. O que importa, aliás, se todos são brasileiros? Alemão é a língua, mas a pátria é o Brasil. Em um momento especialmente interessante, a proibição do alemão, no período da Segunda Guerra, é lembrado. Professores relembram como foi difícil falar português onde todos só falavam alemão. Não é exagero dizer que o aprendizado foi de mentirinha, já que os alunos admitem que escreviam coisas sem sequer saber o significado, apenas porque o professor estava proibido de falar alemão. Hoje, a escola ensina português de forma mais natural, mas o alemão é o idioma materno, representa a comunicação com a família. 
De forma natural, Rejane nos apresenta cada indivíduo e cada história. Nos mostra como a agricultura familiar ainda impera ali e a única fábrica existente é a de calçados. Ou seja, essas são as duas alternativas de trabalho. Há quem cante, quem faça música e ainda quem faça previsões astrológicas. Futebol? Tem também. Não só na televisão, os colonos têm seu próprio time. Ao mesmo tempo em que é impressionante descobrir que um lugar assim ainda exista, é encantador ver a simplicidade de cada pessoa ali e perceber como coisas simples podem fazer pessoas verdadeiramente felizes. Se alguém pensa em sair dali? Ninguém. Afinal, que cidade pode competir com o silêncio de um lugar distante (e praticamente esquecido)?
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Créditos
Título: Walachai
Gênero: Documentário
Direção: Rejane Zilles
Lançamento: 2009
Duração: 84 min

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Há anos que acompanho a página desse documentário, lançado em 2009, mas só agora tive oportunidade de assistir. A diretora, Rejane Zilles, liberou o filme para ser assistido online. O caminho é ESSE AQUI. Nesse período de isolamento social, os personagens de Walachai são ótimas companhias. Não deixe de assistir.

Ana Seerig

One thought on “Walachai (Resenha de filme)

  • 27 de abril de 2020 em 00:28
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    Gostei parece ser um bom filme.

    Segredosdamarii.blogspot.com

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