O Poço [Resenha do Filme]
Apesar do que repete Trimagasi, personagem de Zorion Eguileor, O poço não é óbvio. É um filme cheio de metáforas sobre o egoísmo da humanidade, sobre o desperdício, sobre capitalismo, com um final um tanto ambíguo e poético.
O longa já começa estranho, com o protagonista Goreng (Ivan Massagué) acordando preso dentro de um poço, tendo Trimagasi como companheiro de cela. Eles estão no nível 48, existem pessoas acima e abaixo deles e uma vez por mês eles trocam de níveis. A grande questão é a comida e os atos que giram em torno disso. Os níveis inferiores vão comendo o que sobra dos níveis acima e com isso o filme expõe da maneira mais crua nosso egoísmo. Comer tudo e deixar quem está abaixo com fome? Ou comer pouco e ajudar os demais? Parece simples e um pouco óbvio, mas não é. Ainda mais quando se tem fome. A fome modifica a pessoa.
A troca mensal dos níveis faz com que os confinados saibam que um dia eles podem ter mais ou terem muito menos. E a solidariedade não é óbvia e nem natural, Trimagasi, por exemplo, não se importa muito com as consequências, se reconhece como oprimido, se aceita como tal e tenta aproveitar quando está em níveis mais altos. Já Goreng é oposto, ele questiona o sistema, mas entende que “nenhuma mudança é espontânea”. Interessante notar que o protagonista tem em sua cela Dom Quixote e Goreng em alguns momentos até se parece com o personagem de Miguel de Cervantes lutando contra Moinhos de Vento.
Trimagasi não é o único companheiro de cela de Goreng, conhecemos também Imoguiri (Antonia San Juan), ex-funcionária do lugar que, assim como o protagonista entra de livre e espontânea vontade, e se arrepende, uma vez que eles não tinham muita ideia do que se passava por lá. Imoguiri tenta educar os níveis mais baixos sobre racionar comida, mas a educação num lugar de sobrevivência não tem muito efeito. No entanto, é com Baharat (Emilio Buale) que Goreng parte na jornada de levar comida aos níveis mais baixos no poço, na tentativa de dar um recado a Administração. Como não existe revolução silenciosa e dificilmente pacifica, os dois por meio da violência tentam convencer os demais de que é preciso pensar no próximo, ao mesmo tempo que tentam passar uma mensagem para quem comanda o lugar. E não se pode deixar de comentar a misteriosa Miharu (Alexandra Masangkay) que aproveita a plataforma de comida para deixar por todos os andares em busca de seu filho.
O poço é um tapa na nossa cara ao colocar de maneira bem forte e indigesta o simples fato de que sabemos que para acabar com a fome, basta uma distribuição melhor, mas nada fazemos à respeito, principalmente quando nossas casas estão abastecidas. O longa é desconfortável o tempo todo, tem cenas de tortura, canibalismo, momentos grotescos demais, nojentos, dolorosos, angustiantes. Os diálogos são intensos, a ambientação é opressora, a narrativa é sufocante, tudo no estilo horror gore.
O filme é uma crítica inteligente à sociedade de consumo, expõe o pior e o melhor do ser humano, acaba e ao mesmo tempo alimenta nossa esperança em relação a humanidade, nos faz refletir, mas não sem antes de nos fazer sentir sensações bem desagradáveis.
Sobre o final, ALERTA SPOILER:
O longa tem um fim ambíguo, uma vez que Goreng está gravemente e delirando. Consegui ver duas interpretação para o final. A primeira é que a mostra no longa, mas é incoerente. Goreng e Baharat encontram a filha de Miharu que come a Panacota (deixá-la intacta no banquete era a mensagem que passariam) e a criança ao voltar na plataforma de comida seria, então, mensagem enviada. No entanto, Imoguiri diz que Miharu entrou sozinha, sem crianças e mesmo que estivesse grávida a idade da menina não bateria com o tempo que ela estava no poço. Pode ser que Miharu tenha entrado para buscar a filha que teve no poço em uma anterior passagem, mas ainda assim, a garota está limpa e bem cuidada, o que não faz o menor sentido para quem está no último nível do poço.
A outra interpretação me soa mais plausível. A menina que Gorent e Baharat encontram no final não existe, é um delírio do protagonista que está morrendo. A garota seria a representação da esperança, já que no delírio ela come a Panacota e o que chega a administração é a sobremesa que ninguém comeu. A mensagem teria sido entregue, a questão é que se a gente liga o final a uma das cenas do filme, percebemos de que nada adiantou. Na cena em questão, que aparece de modo aleatório no longa, o chefe de cozinha briga com seus funcionários sobre um cabelo encontrado na Panacota, acreditando que os prisioneiros não comeram por conta de um cabelo. A mensagem foi entregue, mas quem está no poder distorce tudo, interpretando como bem entender.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: O poço
Título Original: El hoyo
Direção: Galder Gaztelu-Urrutia
Data de lançamento na Netflix: 20 de março de 2020
Nota: 5/5
Netflix
Michele Lima
Na verdade eu estou muito ansiosa pra ver esse filme! Me parece muito forte e reflexivo *-*
Beijoss
Primavera Agridoce ♥️♥️♥️
Oi, Mi
Eu quero muito assistir esse filme. Vi algumas pessoas comentando mas não sabia o quão angustiante era. Com toda certeza vou ver! Tomara que eu entenda o final hahaha
Beijo
https://www.capitulotreze.com.br/
Oi Mi! Esse filme não chama muito minha atenção no momento, estou mais em busca de tramas leves. Bjos!! Cida
Moonlight Books
Oi, Mi!
Eu até queria ver esse filme, mas pelo que você comentou no whatsapp, iria afetar real minha claustrofobia ><
Beijos
Balaio de Babados
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Oi
parece ser interessante, mas pelo que falou de ter cenas de canibalismo eu acho que não conseguiria assistir, não tenho estomago pra isso.
http://momentocrivelli.blogspot.com/
Olá, Michele.
Eu nem sabia desse filme até ver uma postagem no Facebook de alguém explicando o filme. E dai fui procurar hehe. Assim que der vou assistir porque achei bem interessante.
Prefácio
Já me interessei por ver. Essa é a segunda resenha que leio do filme hoje.
Bom fim de semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia