Metrópolis [Resenha Literária]

Thea Von Harbou é hoje mais conhecida como a esposa do grande diretor de cinema Fritz Lang e por ser colaboradora na maioria de suas primeiras obras-primas alemãs. Ela não apenas co-escreveu os roteiros, mas também transformou vários deles em romances, incluindo talvez o mais famoso de todos, Metrópolis.
De fato, ela escreveu vários romances antes de se casar com Lang e também fora atriz. Enquanto Lang deixou a Alemanha no início dos anos 30, Von Harbou permaneceu e sua carreira na indústria cinematográfica alemã de guerra foi muito controversa.

A cidade de Metrópolis é dominada pela vontade de Joh Fredersen. Esta é uma visão de uma cidade do futuro, uma cidade de máquinas. As máquinas exigem que as pessoas as operem e consomem seus operadores. O apetite delas é ilimitado. Existe uma cidade subterrânea sob Metrópolis, que fornece às máquinas o ser humano que elas precisam. A cidade alta é uma espécie de playground para os ricos, com sexo e drogas sendo o item principal do menu.

Joh Fredersen não é um homem particularmente feliz. Sua esposa morreu ao dar à luz seu filho Freder. Joh fica nas mãos de seu filho quando Freder descobre o que as máquinas estão fazendo com as pessoas. Ele conhece uma mulher chamada Maria, uma líder carismática que oferece aos oprimidos de Metrópolis esperança de mudança. Quem dirige a cidade é a sua cabeça. Quem trabalha nas máquinas são as mãos de Metrópolis. Para mediar entre o cérebro e as mãos, é necessário um coração, e ela lhes diz que um mediador surgirá e que cumprirá essa função.
Maria quer mudanças pacíficas, mas, quando as revoluções são desencadeadas, a violência e a destruição seguem inevitavelmente. Há também uma falsa Maria, um robô que tem sua própria agenda em relação ao futuro de Metrópolis.

Tem um tempo que assisti ao filme e me lembro de ter ficado impressionada com tamanha perfeição. O que me impressiona no livro é a extensão das imagens religiosas. Embora a história possa ser (e tenha sido) vista como uma crítica ao capitalismo, estou inclinada a ver isso como uma explicação muito simplista. O romance, pelo menos, me parece refletir um horror à revolução, sem dúvida uma reação à brutalidade e crueldade da Revolução Russa. Enquanto as máquinas são monstros que devoram seres humanos, Von Harbou descreve a violência da multidão inseparável da revolução como sendo ainda mais monstruosa.

Freder certamente parece ser uma figura de Cristo, com Maria sendo talvez a Virgem Maria e João Batista. Quaisquer que fossem as crenças religiosas da autora, Lang era certamente católico e se identificou como tal ao longo de sua vida. Os temas católicos bastante evidentes podem, portanto, ter se originado com ele. Lang e Von Harbou co-escreveram o roteiro para que, enquanto o romance fosse o trabalho dela, é provável que esses temas católicos tenham sido herdados do filme.
Grande parte do impacto dos filmes vem do visual extraordinário, mas Thea faz um trabalho eficaz na transmissão do personagem de Metrópolis por meios puramente verbais.
Talvez haja apenas um toque mais sentimentalista no romance do que me lembro do filme. O status dele como um dos grandes contos de ficção científica distópica é seguro. O romance de Thea Von Harbou merece ser reconhecido como um importante trabalho de ficção científica por si só. É também um exemplo relativamente raro e, portanto, interessante de ficção científica alemã.

Se você gosta do filme, com certeza apreciará a profundidade dessa obra. A história é basicamente a mesma; a principal diferença é uma análise mais profunda dos personagens e de suas motivações, uma vez que o romance oferece mais diálogo e introspecção do que os interlúdios que um filme mudo. Definitivamente vale a pena conferir.
A edição repaginada da Editora Aleph está fantástica, uma das edições mais lindas que já vi. Um acabamento bem feito, com tradução direta do alemão e com um posfácio de Marina Person, um texto incrível de Burgess e um encarte raro que apresenta curiosidades da produção do filme e textos complementares. Para os fãs de ficção, esta é uma obra de luxo!!
FICHA TÉCNICA
Título: Metrópolis
Autora: Thea Von Harbou
Nota: 5/5
Onde Comprar: Amazon
 

Natália Silva

5 thoughts on “Metrópolis [Resenha Literária]

  • 16 de fevereiro de 2020 em 16:09
    Permalink

    Oi, Natália
    É muito legal quando o autor do livro tem uma história tão interessante quanto a obra. Particularmente não é meu estilo de livro, acho que dificilmente eu leria, mas eu adorei a edição da editora Aleph, é impecável!
    Beijo
    https://www.capitulotreze.com.br/

    Resposta
  • 16 de fevereiro de 2020 em 16:48
    Permalink

    Oi!
    Eu vi o filem desse livro para um trabalho de faculdade, mas eu não fazia ideia de que tinha livro!! Estou muito chocada agora. Eu gostei bastante da história (embora seja um filem muito antigo e um tanto dificil de assistir), e agora fiquei interessada pelo livro também!
    Os Delírios Literários de Lex

    Resposta
  • 16 de fevereiro de 2020 em 19:08
    Permalink

    Oi Natália,

    Confesso que não é muito meu estilo de leitura,não assisti ao filme também, mas acredito que para quem gosta os dois tipos são uma boa pedida.

    Bjs
    https://diarioelivros.blogspot.com/

    Resposta
  • 17 de fevereiro de 2020 em 12:35
    Permalink

    Oi Natália, eu não vi o filme e não conhecia o livro, mas pela sua resenha percebi que não iria gostar, apesar de ter adorado a capa e a diagramação! Um luxo!!

    Beijos Mila

    Daily of Books Mila

    Resposta

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