H.P Lovecraft – Contos Volume I [Resenha Literária]

O meu primeiro contato com H.P Lovecraft foi com o conto A cor do espaço distante no livro Contos de Terror I da Editora Martin Claret, fiquei encantada com a narrativa e com aquela história repleta de horror, com uma criatura cósmica estranha que estava matando os membros de uma família. Depois, o caminho foi aberto para que minha curiosidade me fizesse ler cada vez mais obras do autor.
Na edição H.P Lovecraft – Contos Volume I, a editora caprichou nos detalhes com 10 histórias e uma introdução explicando como seria Lovecraft na atualidade, abordando claramente uma das questões mais polêmicas sobre o autor: o seu preconceito. O texto de abertura foi escrito por Lenita Esteves, uma das minhas professoras preferidas na época da faculdade, tradutora de O senhor dos Anéis, que comenta o quanto Lovecraft é importante para a literatura do terror americano, fazendo um paralelo inclusive com o filme O iluminado. E depois de nos mostrar o quanto ao autor consegue ser importante para o gênero, Lenita comenta sobre a tradução da edição que opta por uma técnica de amortecimento, aliviando o impacto do preconceito do autor na narrativa. A justificativa é simples: Lovecraft é fruto de sua época, racista e com problemas de xenofobia, mas que existe um questionamento complexo sobre a tradução nestes casos, envolvendo a ética de cada um. Particularmente, achei bem interessante o posicionamento da tradutora e da editora.
Sobre os contos, o primeiro é A fera na caverna que conta a história de um homem que se perdeu do guia turístico dentro de uma gruta e acabou encontrando uma criatura abominável. Solidão e o medo do desconhecido são temas do conto e Lovecraft usa muito bem das descrições para para que o leitor sinta, gradativamente, o terror do personagem. No final, a descoberta sobre o tal monstro causa surpresa.
Em A rua conhecemos uma rua em uma cidade que vai se transformando com o tempo e habitantes de pele escura vão aparecendo no lugar. Já O que vem da lua é um dos meus preferidos, afinal, sempre achei a relação do mar com nosso satélite natural algo bem interessante. Neste conto, o protagonista detesta a lua e presencia imagens bem desagradáveis ao seu redor.
O perverso clérigo é mais um conto do autor em que o suspense vai sendo criado de maneira bastante gradativa para ter seu auge na cena final. Não sabemos ao certo o que acontece com o personagem, apenas que ele usa um artefato estranho que o faz ver pessoas mais estranhas ainda na sala em que está, mas essas figuras fantasmagóricas acabam mudando por completo sua vida. 
Em Ele, o protagonista da história se encontra com um misterioso homem e tudo em sua descrição nos leva ao sobrenatural, o que nos dá medo e receio, mas o personagem aceita o convite do tal homem para conhecer alguns lugares da cidade. Já em Ar Frio encontramos um protagonista que vive numa pensão barata e depois que tem a vida salva por um estranho médico, morador do lugar, passa a ajudá-lo a manter a temperatura do seu quarto bem baixa. É tanto frio descrito neste conto que tive que usar uma coberta durante a leitura! Claro que o médico não era nada normal.

Os ratos na parede é um dos maiores contos da edição e conta a história do protagonista que restaura uma antiga casa da família com muitos problemas com ratos. Como detesto ratos achei o conto um tanto agoniante, mesmo com os gatos para pegar os animais. Por fim, um grande mistério é revelado. Em O modelo Pickman o protagonista vai visitar um amigo que não consegue vender seus quadros devido a sua arte macabra, chegando na casa do artista, ele descobre de onde vem as inspirações para seus quadros.
Em A gravura da casa maldita o personagem principal se abriga na chuva em uma casa aparentemente solitária e lá encontra um homem bem estranho que não se importa com a invasão e só no final entendemos o motivo. Durante toda a narração o leitor consegue sentir que algo muito errado acontece com o dono do lugar.
Herbert West reanimador é o último e um dos meus preferidos. A tradutora Lenita também nos avisa no texto de abertura que como Lovecraft publicou a obra em seis partes, o autor retomava muitas vezes os acontecimentos, o que deixava a obra repetitiva, por isso, houve cortes precisos, deixando o texto mais dinâmico. O autor acreditava que Herbert West reanimador era uma história inferior comparada a seus outros trabalhos. No entanto, ironicamente, o conto serviu de base para o filme cult Re-animator de 1985 e é considerado um percursor dos zumbis, afinal, temos um médico obcecado em reanimar os mortos, mas só consegue deixá-los mortos-vivos. O narrador do conto é amigo do médico que tentava a todo custo superar a morte e vai nos descrevendo as loucuras que os dois faziam, até que finalmente algo dá muito errado. É difícil não se lembrar também da figura de Frankestein de Mary Shelly.
A edição da Martin Claret traz contos bem diversificado do autor, numa seleção que me agradou bastante, já que gostei de boa parte das histórias. Lovecraft é conhecido pelo terror cósmico, mas nesta edição podemos conhecer um pouco mais do autor e de seus suspenses, já que nem todas as histórias estão relacionadas a criaturas alienígenas ou míticas, o que foi bem interessante. Aliás, são contos que inclusive lembram bastante a escrita de Edgar Allan Poe.
Com capa dura e cores fortes, a Editora Martin Claret entrega uma edição simples, mas bem organizada, com ilustrações antes dos contos que combinam bem com as histórias e agora quero ler o volume dois!
FICHA TÉCNICA
Título: H.P Lovecraft – Contos Volume 1
Autor: H.P Lovecraft
Nota: 4/5
Onde Comprar: Amazon
 

Michele Lima

11 thoughts on “H.P Lovecraft – Contos Volume I [Resenha Literária]

  • 26 de fevereiro de 2018 em 18:23
    Permalink

    Oi Mi,

    Nunca li nada do autor, mas a edição desse livro de contos é muito bonita, só por ela já da vontade de ler.
    Preciso colocar na lista.
    Bjs e uma boa semana!
    Diário dos Livros
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    Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 00:56
    Permalink

    Oi Mi adorei a dica, ainda não conhecia o livro e fiquei bem curiosa com a historia, não li nada da autora mas já vou colocar esse livro na lista.

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  • 27 de fevereiro de 2018 em 01:17
    Permalink

    Oi Mi, tudo bom?
    Nunca li Lovecraft, apesar de morrer de curiosidade. Não conhecia esse livro de contos, achei a edição maravilhosa. Gostei muito da resenha e espero ter oportunidade de ler esse livro um dia.

    Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
    Um super beijo :*
    Claris – Plasticodelic

    Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 13:16
    Permalink

    Oi Michele!
    Que edição linda! Eu não conhecia!
    Recentemente comprei aquela nova da Darkside e estou louca pra ler. Vai ser meu primeiro contato com Lovecraft.
    Admiro muito a Lenita mas discordo dela nesse caso da tradução. Acho que cabe ao leitor entender o contexto em que a obra foi escrita e não ao tradutor mexer na identidade da escrita original. :/
    Agora bateu aquela dúvida se o tradutor da minha edição fez isso tb. Tomara que não!
    Beijos!

    Mais Uma Página

    Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 15:38
    Permalink

    Oi, Mi!
    Eu não consigo ler nada de terror! Isso é uma tristeza pra mim, pois com todas essas edições maravilhosas que estão sendo lançadas ultimamente, eu só queria poder me aventurar no gênero e me apaixonar como todo mundo hahaha
    O problema é que fico sem dormir de verdade e isso não é bom, né ):
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

    Resposta
    • 23 de junho de 2018 em 21:40
      Permalink

      Não se preocupe com o terror em si nos contos, quando você entender o teor racista e xenófobo de alguns contos o medo dará lugar a repulsa ou no máximo uma sensação interrogativa do tipo: que diabo esse cara tava pensando quando escreveu isso? Muitos dizem que se trata do contexto histórico, mas naquela época já existiam escritores que não pensavam deste jeito.

      Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 16:01
    Permalink

    Oi, Mi.
    Gosto dessa diversificação que a editora propõe.
    Eu quero muito ler essa edição.
    Fábio, resenhista do blog, leu e amou.
    Inclusive a diagramação é de dar inveja.

    Tenha uma excelente semana.

    Beijos,
    Naty
    http://www.revelandosentimentos.com.br/

    Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 16:04
    Permalink

    Oi, Mi!
    Adorei a resenha, apesar de não ler terror.
    Eu fiquei curiosa com os contos, principalmente o da caverna e o da gravura.
    Achei muito interessante a tradutora de certa forma explicar o preconceito do autor (e, caramba, você teve aula com a tradutora de O Senhor dos Aneis? Uau!).
    Confesso que não sou tão fã de contos, prefiro prosa completa, mas talvez contos seja o melhor para eu começar a ler terror, haha.
    Essa edição ficou bem linda mesmo!

    Beijooos

    http://www.casosacasoselivros.com

    Resposta
  • 27 de fevereiro de 2018 em 16:05
    Permalink

    Contos é um género literário que não me aventuro muito, tenho que ver se é este ano que leio alguns, mas gostei muito dessa capa e dessa edição, estão muito bonitas e apelativas. =)

    MRS. MARGOT

    Resposta

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