4 Dias [Resenha do Filme]

Todos sabemos que a Grécia é um dos países, se não o mais, mais afetados pela crise que arrasou a união europeia nesses últimos anos, certo? 4 Dias conta o arco de uma garota solitária (Claire Grammatiki), solteira, jovem e ingênua no olho do furacão do caos em que está imerso o país. Em 4 dias tudo ao seu redor ruirá, 4 dias é o tempo em que ela perderá sua inocência.
Com uma narração constante da própria, como se ela estivesse escrevendo um livro ou um diário, percebemos o quão estática e vazia é sua visão de mundo. O país já está imerso em crise e a juventude objetivamente não tem muitas expectativas ali; só a garota que não sabe disso ainda.
O mundo da protagonista é retratado na tela. Ele é exposto de seu interior psicológico para as cores da paleta, tons pastéis de cores primárias dão a entender que o tempo todo sua visão de mundo é também primária, ingênua, até infantil (como tons do universo cromático de um bebê).
Ela passa os dias tediosos sem parecer sentir de fato seu tédio ou o quanto o país vai mal. Aparentemente satisfeita, com um sorriso abobado na cara, ela trabalha num pequeno Café no centro da cidade enquanto sonha com um romance ideal (com um homem cinquentão bem mais velho que frequenta o local).
Nunca sabemos ao certo se os encontros com o homem de meia idade acontecem na realidade ou se são frutos da imaginação desejosa da garota. Mas de fato conhecemos um pouco da vida dele também, que se sente solitário e miserável passando os dias fechado numa casa com uma mulher em estado terminal. Logo mais ele é quem fica assim; ou também é ficção de para justificar na sua mente o rompimento com os sonhos românticos, a partir do segundo dia, quando começa a ter a sua inocência quebrada diante do mundo.
Entretanto, reais são os encontros com o estranho freguês (Yiannis Papadopoulos) – as personagens não têm nomes. Na verdade, encontros que ela não sabe, mas ele, um perseguidor tem a toda hora com ela. Também vivendo num mundo melancólico de solidão, ele tem um hábito de negar o próprio desejo e tendência ao voyeurismo. Ao menos ele parece mais maduro que a garota, e sabe que sua vida é triste. 
Não por menos toda cena em que ele surge se contrapõe radicalmente às dela pela coloração fria, acinzentada da paleta. Os únicos momentos que compartilham juntos na tela são durante a noite, quando obrigatoriamente a cor é neutra para os dois: predominância do preto, do escuro.
Esse choque é interessante, porque a partir do exato momento que ela perde o emprego e cai na realidade, suas cores tornam-se no mesmo padrão do rapaz, e a coloração pueril abandona a tela. O terceiro dia é o mais interessante, para todos, porque é nele, já iniciado com a narração o definindo como um dia louco e quente, que tudo sai do controle, a rotina regrada da protagonista, agora desempregada, sem rumo na vida e sem a fé na ingenuidade que tinha, sofre uma ruptura.
O trabalho na fotografia é cuidadoso. O diretor tem o domínio visual e imagético da história que quer contar. O uso das cores é muito bem empregado. Os signos e os sinais, especialmente no terceiro dia, exprimem bem todo o caos em que a protagonista se meteu e que o próprio país está metido.
O filme é extremamente contemplativo. Talvez por querer através do ritmo nos colocar na rotina da protagonista ou até na pele dela, percebemos que tudo se conduz arrastado é lento. Longos silêncios e vazios preenchem o tempo das ações da protagonista. 
Esse tom enfadonho do andamento chega num momento que realmente cansa. Se foi conceito estético da diretora, em devido momento ele alcança um ponto de saturação, saturando é a nossa paciência. O roteiro desconstruído não ajuda nesse ritmo, então no 4º dia, quando até a protagonista é abandonada, o filme tenta talvez criar uma reviravolta muito criativa mas só perde o rumo mesmo.
Não há muito bem uma história aqui a ser passada para nós. Entendemos que no subtexto existe um comentário acerca da solidão e da falta de perspectiva num país em ruínas. Percebemos o quanto as personagens têm relações humanas frias e a falta de sincronia entre desejos, entre corpos que não se tocam, entre impulsos frágeis demais.
4 Dias fica a maior parte de seu tempo imerso nesse comentário sobre suspensão de emoções humanas numa sociedade sob a crise e com um ritmo lento, arrastado, que nem se justifica diante da parca história que ele tem a nos passar. É um filme romântico (do ponto de vista da garota) em tempos nada românticos de se viver.

Sessões:
4 DIAS (4 DAYS), de Michalis Giagkounidis (80′). GRÉCIA. Falado em grego.
Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12
anos.
 CINESESC 19/10/17 – 15:00 – Sessão: 23
(Quinta) 
PLAYARTE SPLENDOR PAULISTA 22/10/17 – 19:40 – Sessão: 358
(Domingo) 
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 6 26/10/17 – 19:40 – Sessão: 743
(Quinta) 
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA ANEXO 4 29/10/17 – 14:00 – Sessão: 1053 
Mais informações: http://41.mostra.org/br/home/

Gui Augusto

One thought on “4 Dias [Resenha do Filme]

  • 21 de outubro de 2017 em 07:09
    Permalink

    Oiii Gui!
    Apesar de suas ressalvas, irei colocar esse filme na minha lista. Para ser visto.Estou curiosa para saber como termina tudo.
    Excelente Resenha!
    Beijos
    Ari

    Resposta

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