Meu Amigo Dahmer [HQ]

A DarkSide® Books entra no mundo das Graphic Novels (quadrinhos) sem nenhuma humildade. Ela simplesmente surge chutando portas e dando voadora no peito de nós, leitores. Essa nova linha da editora não foge da sua temática de suspense e horror e nos brinda com três títulos: Wytches, o mangá Fragmentos de Horror de Junji Ito e Meu Amigo Dahmer, que será o tema desse post.

Mas, antes de começar falar desse belo material, uma pergunta deve estar ressoando em seus ouvidos, não é amigo leitor ? Pois, então, vamos respondê-la. Quem foi Jeff Dahmer?

Jeffrey Lionel Dahmer foi um serial killer americano que assassinou 17 homens e garotos entre 1978 e 1991, sendo que a maioria desses crimes ocorreu entre 1989 e 1991. Nascido em 21 de Maio de 1960 em West Allis, Wisconsin, filho de Lionel Dahmer e Joyce Dahmer, estudou na Revere High School e na Universidade Estadual de Ohio. Veio a falecer em 28 de Novembro de 1994 na Instituição Penal Columbia, em Portage, Winsconsin, onde cumpria pena pelos seus assassinatos.  Entrevista com o serial killer Jeffrey Dahmer – [Legendado] – Trecho

 
 

Mas Meu Amigo Dahmer não narra sua história como assassino serial, há muito material a respeito sobre isso, inclusive um filme. O autor, Derf Backderf, mostra uma parte do começo de tudo, um momento da vida de Dahmer onde todas essas mortes e crimes futuros poderiam ter sido evitados, ou mesmo terem sido em menor número.

Backderf foi colega de escola de Dahmer na época do Revere High School. Frequentaram as mesmas aulas, conheciam as mesmas pessoas e moraram praticamente perto um do outro. Essa gráfica fala exatamente disso. Como era Dahmer na escola, sua interação com as pessoas, com os colegas, professores e pais. Cabe salientar que os anos 70 não era uma época tão rígida assim. O assunto drogas não era tão preocupante como agora, e os jovens achava que tudo isso era “curtição”, não tinha a ciência que temos hoje dos malefícios de tais vícios.

A produção dessa graphic teve início em 1991, logo que os crimes de Dahmer foram descobertos o autor começou a garimpar material. Depois de seu assassinato, em 1994, Derf Backderf começa a escrever as primeiras histórias, chegando a publicar pela primeira vez na Antologia Zero Zero. Em 2002 a história é publicada com 24 páginas, virou cult e foi indicado ao Prêmio Eisner (um Oscar para as produções de quadrinhos). Depois de várias traduções não autorizadas e muito sucesso, era hora de ampliar o leque de histórias e ir além das 24 páginas. Eis que surge Meu Amigo Dahmer.

Derf Backderf soube, de forma magistral, contar a história de Jeff Dahmer antes de se tornar o conhecido serial killer. Para isso ele foi buscar as mais diversas fontes e documentos. Foram conversas com colegas de escola, documentos do FBI e das agências que investigaram os crimes, entrevistas do próprio Dahmer e seus pais, e registros escolares. Tudo minuciosamente colocado em uma linha cronológica quase perfeita para que o leitor entenda perfeitamente como e quando tudo aconteceu.

My Friend Dhamer foi originalmente lançada em 2012, e essa versão atual, de 2017, contém 285 páginas, com capa dura e excelente acabamento. Os desenhos são em preto e branco, com um traço preciso e grandes quadros que mostra todos os detalhes da cena e do momento.

A história está é dividia em cinco partes principais, com muitas informações extras, como cenas deletadas, informações sobre os locais, e notas explicativas de algumas páginas, os envolvidos e muitos outros detalhes. Uma edição rica em detalhes e preocupada em passar o máximo de informação ao leitor que começa nos últimos anos de escola. Vemos um Dahmer introvertido, meio estranho, com poucos amigos. No começo somos impactados por uma mania estranha de Jeff: a de guardar animais mortos em potes com ácido para vê-los dissolver.

Tive amizades normais no colégio […] e não tive amizades muito próximas depois da escola. – Jeff Dahmer entrevista a Nancy Glass, Inside Edition, fevereiro de 1993.

O autor não toma partido para defender ou acusar Dahmer. Ele mostra fatos, passagens e acontecimentos que dariam todos os indícios que Dahmer estava ou tinha algum problema. Seu comportamento estranho e até bizarro. O problema de relacionamentos com seus pais, que culminou em um divórcio complicado. Tudo isso foram fatores que somaram com a já perturbada mente de Jeff Dahmer. Seus pais tinham um grave problema de relacionamento, passavam boa parte do tempo brigando, discutindo e Dahmer via tudo quieto, sem se intrometer, apenas chorando escondido. Com todos esses problemas, ele teve que se virar sozinho muito cedo, já que não recebia a devida atenção de seus pais.

Na escola ele não passava do “garoto esquisito”, sofria bullying, mas acabava nem ligando, e por isso os agressores acabavam deixando-o em paz depois de um tempo. Ele não tinha amizades fortes, apenas colegas. Quando ele tentou se enturmar usou de um artifício estranho: fingir ataques epiléticos. Esses ataques, diziam, era um sarro ao jeito de ser de um decorador amigo de sua mãe. Mas depois seus colegas souberam que não era o decorador que Jeff imitava.

O lado sombrio de Jeff desperta aos poucos, ele tenta lutar contra, mas sem nenhum tipo de apoio é algo complicado. O álcool é a saída. Ele começa e ingerir latas e latas de cerveja todos os dias, chegando ao ponto de exalar o odor de álcool logo no horário de entrada da escola. É estranho pensar em algo assim nos dias de hoje, mas vale lembrar que estamos falando nos anos 70, onde praticamente tudo era festa ou era liberado. Qualquer desvio de comportamento nos dias de hoje é visto por amigos, professores, diretores e o aluno seria encaminhado a algum tipo de ajuda. Isso não aconteceu com Dahmer. Ele simplesmente era ignorado.

Seus desejos bizarros foram aumentando, saindo do campo de animais mortos até o desejo de ver pessoas mortas. Claro que ele não compartilhava desses sentimentos, e isso foi descoberto muito tempo depois em entrevistas e investigações. No entanto, a forma que essas informações são usadas para montar a cronologia de Dahmer deixa claro que se alguém tivesse percebido ou levado isso a sério, ajudado, é possível que muitas de suas vítimas estivessem vivas.

A narrativa é densa, forte, inquietante, e por muitas vezes chega a embrulhar o estômago do leitor. Mas ao mesmo tempo é cadenciada, e fácil de digerir. Os textos são claros e objetivos, não deixando espaço para interpretações superficiais. Meu Amigo Dahmer é, sem dúvida, uma das melhores Graphic Novel que li ultimamente. Um ótimo material para quem quiser entender um pouco mais a mente de um serial killer.

Confissões de um Serial Killer (Jeffrey Dahmer legendado)

FICHA TÉCNICA
Título: Meu Amigo Dahmer é
Autor: Derf Backderf
Onde Comprar: Amazon

Renato Zanotte

16 thoughts on “Meu Amigo Dahmer [HQ]

  • 5 de setembro de 2017 em 11:18
    Permalink

    Muito bacana a resenha, parece ser uma leitura um pouco diferente do que eu ando acostumada, mas creio que vale a tentativa.

    Beijos

    Blog Lua Soares

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:39
      Permalink

      Oi Lua, realmente ela não é tão normal, na questão do tema. Mas vale dar uma chance para tentar entender um pouco a cabeça do Dahmer.
      Abraço.

      Resposta
  • 5 de setembro de 2017 em 13:10
    Permalink

    Olá! Eu comprei essa graphic no escuro, sabia bem superficialmente sobre o que era, mas agora após ler sua resenha minha vontade de ler só aumentou. Parece ótimo! Bem intensa, mas bacana.
    Irei passá-lo na frente. rs
    Beijos

    http://www.lendoeapreciando.com

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:39
      Permalink

      Opa.. que bom que pude ajudar, Kamilla…
      Valeu..

      Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:41
      Permalink

      Oi Luiza… Sim, mostra um pouco do passado e do começo dos assassinatos do Dahmer. Como ela conta com muitas notas, vale a pena, pois, tem muita explicação bacana…
      Abraço…

      Resposta
  • 5 de setembro de 2017 em 16:47
    Permalink

    Não faz muito o meu género, mas as ilustrações parecem ser muito boas =)

    MRS. MARGOT

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:43
      Permalink

      Sim, as ilustrações são bem detalhadas.
      Pena não ser seu gênero… 😀
      Abraço.

      Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:45
      Permalink

      Oi Marla… O trabalho dele foi bem bacana… Com muita pesquisa. E o tratamento dado pela Darkside ficou bem legal.
      Abraço.

      Resposta
  • 5 de setembro de 2017 em 17:50
    Permalink

    Oiii Renato

    Não sou muito de graphic novels embora algumas ultimamente vem me chamando bastante a atenção. Legal saber que a editora vem apostando em novos gêneros, uma escolha legal e interessante.

    Beijos

    aliceandthebooks.blogspot.com

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:47
      Permalink

      Olha, Alice… Confesso que já converti algumas pessoas ao mundo das Graphic Novels. Há opções para todos os gostos, no meu perfil do Instagram (@foipraestante), coloquei a última que li, Píuluas Azuis. Dê uma olhada lá… Espero que você retorne aqui e diga que foi uma das convertidas… rs
      Abraço.

      Resposta
  • 5 de setembro de 2017 em 19:57
    Permalink

    Olá!
    Eu não sou muito chegada em HQ, mas confesso que depois que li a história desse em particular, fiquei muito curiosa. E a edição da Darkside ta demais!
    Beijos,
    Meise Renata.
    viciadas-em-livros.blogspot.com.br

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:48
      Permalink

      Olha só… Mais uma que tem potencial para ser convertida rs… Tem de todos os tipos, acredito que você vai encontrar o seu, Renata.
      Abraço.

      Resposta
  • 5 de setembro de 2017 em 20:46
    Permalink

    Oi, Renato. Eu ainda não li nada da editora mesmo tendo um exemplar comigo, acho que não estou preparada para essa vibe mais dark. Gostei da história em quadrinhos porque acho que seria uma maneira mais fácil de ser introduzida nas histórias da editora, e claro, a edição é maravilhosa.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com/

    Resposta
    • 20 de setembro de 2017 em 13:53
      Permalink

      É, Miriã. Eles tem essa pegada mais dark ou pesada. Mas são ótimas histórias. Se tiver curiosidade em conhecer uma Graphic Novel, há outras ótimas por ai, como Retalhos (que eu adoro), Pílulas Azuis, que li recentemente e tem um comentário no meu perfil do Instagram (@foipraestante), Maus que fala do Nazismo e da Segunda Guerra, Persépolis que retrata uma mulher num país com imposições fundamentalistas, entre vários outros títulos…
      Certeza que você vai encontrar um… 😀
      Abraço.

      Resposta

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