Nossas mães, nossos pais (Geração Guerra)

Da esquerda para a direita: Viktor (Ludwig Trepte), Greta (Katharina Schüttler), Wilhelm (Volker Bruch), Charlotte (Miriam Stein) e Friedhelm (Tom Schilling)

 

Sinopse: Cinco amigos – o oficial Wilhelm, de 21 anos; seu irmão, dois anos mais novo, Friedhelm; e Viktor, Greta e Charlotte (chamada pelos amigos de Charly), de 20 anos – se encontram em Berlim no verão de 1941 para se despedirem. Wilhelm e Friedhelm devem seguir para o leste como soldados da Wehrmacht, Charlotte os segue como enfermeira. Greta quer se tornar cantora. Eles querem se reencontrar já no Natal de 1941, mas isso só acontecesse depois do fim da guerra, em 1945, e a morte de dois deles.

A Segunda Guerra Mundial já foi retratada em muitos filmes, sendo que os mais conhecidos são americanos, então sem dúvida chama atenção quando surge a perspectiva alemã. Em 2013, a rede de televisão alemã ZDF exibiu a minissérie de três episódios “Unsere Mütter, unser Vätter” (em português, “Nossas mães, nossos pais”, mas que no inglês virou “Generation War”, em português, “Geração guerra” – o nome alemão é bem mais significativo, hein?) que, como o próprio título insinua, traz uma história muito recente da Alemanha, cujo o peso a população ainda carrega.

Fazia tempo que ouvia falar nessa série. Críticas positivas e negativas, claro. Ao mesmo tempo em que alguns se impressionam com a visão alemã da guerra e admiram a coragem da ZDF de trazer essa perspectiva, outros criticam por ‘tornar os alemães mocinhos’ ou, como qualquer outro filme histórico, ressaltam as faltas da produção em retratar outras realidades da guerra. Independentemente das críticas, digo: “Nossas mães, nossos pais” DEVE ser visto.

Obviamente que há muitas ressalvas históricas a fazer, como por exemplo o fato de a história girar nos jovens e não mostrar a percepção dos mais velhos durante a guerra, mas acho que a simples quebra do que ainda é um tabu pros alemães vale a pena. Uma das propostas da ZDF era justamente chamar a atenção dos jovens para que conversem sobre a guerra com pais, avôs, bisavós; que busquem o tema das aulas de História nos sentimentos ainda reais de pessoas próximas; ou seja, que os alemães tornem humana uma história que hoje é um peso imenso que jamais é debatido – esquecendo-se que eles também sofreram, não só com os horrores da guerra, mas também com as ilusões de Hitler.

Há tanta coisa pra se falar que, pra ficar mais fácil, vou abordar os cinco amigos individualmente, afinal, sabiamente, cada um deles traz uma perspectiva distinta da guerra.

Wilhelm: É o narrador da história – mostrando desde o começo a proposta de falar sobre o passado. Quando vai para a guerra, em 1941, é militar com orgulho: luta por seu país e tem vergonha da covardia do irmão. Aos poucos, Wilhelm percebe a brutalidade exagerada da guerra, especialmente no que se refere ao extermínio dos judeus pela SS, que não poupa civis e muito menos crianças. No momento em que o exército alemão começa a ser derrotado, se desespera por ter que guiar seus soldados para uma batalha sem reforços e, principalmente, sem que ele mesmo tenha esperanças. Wilhelm nos mostra a perspectiva dos alemães que acreditavam no exército, que eram soldados para defender seu país, mas que se chocam ao encararem a realidade.

Friedhelm: Ao se despedir dos amigos, ele diz: “A guerra só mostrará o pior de nós todos”, e não podia estar mais certo. Absolutamente contra a guerra, o rapaz leva uma dúzia de livros em sua bagagem e, enquanto lê “Demian”, de Hermann Hesse, é motivo de piada para os outros soldados. Não se oferece para ser voluntário em missões e goza dos colegas que têm orgulho da guerra. Com o passar do tempo, endurece, até porque “é preciso matar os outros antes que eles te matem”, como ele mesmo diz. Em minha opinião, é o personagem que mais mostra a brutalidade da guerra, já que mesmo a sua repulsa pela violência não o impede de, ao fim, lutar com todas as suas forças em prol de sua vida, do irmão e dos companheiros. Além disso, o cérebro aguçado de um leitor experiente acaba por ser fundamental.

Charlotte: Se alista como enfermeira com grande orgulho “para representar as mulheres alemãs”, porém não tarda a questionar sua escolha. A gravidade das feridas dos soldados e a percepção de que os feridos são números e não pessoas, faz com que Charly amadureça rápido demais. Quando se despediu dos amigos, pretendia confessar seu amor por Wilhelm, mas, como todos, acreditava que a guerra acabaria rápido e que não faltariam oportunidades. Ao trabalhar no hospital, ela percebe o verdadeiro horror da guerra e, nas oportunidades em que encontra os amigos soldados, o faz com um sentimento intenso, temendo não haver uma próxima oportunidade. Ao contrário das demais enfermeiras, tem pena dos feridos e os trata com a maior humanidade possível, assim como as ajudantes estrangeiras. O verdadeiro sangue escorrido na guerra é mostrado na perspectiva de Charly.

Viktor: Judeu, Viktor não pretende se esconder e, tampouco se sujeitar as normas de Hitler. Enquanto seu pai acredita que a família está protegida, já que ele serviu durante a Primeira Guerra, o filho diz “acorde, para eles nós não somos mais alemães, nós somos animais”. Com a ajuda da namorada, Gerda, tenta fugir do país, mas é pego. No caminho para o campo de concentração, ele escapa do trem junto com uma polonesa. Juntos, ambos mostram a luta dos fugitivos pela sobrevivência. Pessoalmente, achei uma decisão muito acertada. Já há dezenas de registros sobre os campos de concentração, mas poucas vezes vimos os bandos ilegais que armavam para os exércitos ou a reação dos moradores a dar de cara com fugitivos buscando abrigo e comida em suas casas. Sem dúvida, um dos melhores personagens da história, já que relembra que muitos dos judeus mortos eram alemães (lógica simples: nasceu na Alemanha, é alemão) e que estes não eram perseguidos e subestimados apenas pelos nazistas.

Gerda: Namorada de Viktor, luta contra o preconceito de seu relacionamento com um judeu e faz de tudo para o proteger – inclusive se envolver sexualmente com um funcionário do governo. Enquanto achava ter salvo o namorado com documentos falsos dados pelo amante, ela aproveita o interesse dele para se tornar uma cantora de sucesso, como sempre sonhou. Se sujeita a fazer shows para os soldados na expectativa de, depois, ir a Paris e outras capitais do mundo. Sua realidade de então, cheia de luxo, se contrasta escandalosamente com a da guerra. Quando, nas proximidades do fim da guerra, ela sente na própria pele as batalhas de Hitler, vemos como a alta sociedade, intocável e alienada, se amedronta com a Alemanha deixada pelo ditador nazista. Um pouco desse contraste pode ser visto no vídeo abaixo:

Há diversos links para download dos capítulos devidamente legendados – não vou passar o que eu usei porque a legenda do terceiro não funcionou -, já o trailer só há em inglês mesmo (quem sabe uma hora eu me animo e legendo?), um dos quais é este:

“Nossas mães, nossos pais” não é simplesmente um filme de guerra, ou pelo menos não aos que estamos acostumados, e também não é um drama sem fim. Não, é uma minissérie realista. Mocinhos e vilões se confundem; justiça e injustiça também. Independentemente de quem você seja e do que goste de ver, essa é uma série atrativa e surpreendente (ou seria ‘chocante’ a palavra certa?). Ah, vale lembrar que a série foi vencedora do International Emmy Award 2013 na categoria minissérie. Tá esperando o que pra assistir? Veja e depois me diga o que achou!

[Atualização 25/06/2016: A série está disponível dublada na íntegra no YouTube.]

8 thoughts on “Nossas mães, nossos pais (Geração Guerra)

  • 1 de abril de 2016 em 00:23
    Permalink

    Oie Ana =)

    Não conhecia o filme, mas como gosto bastante de filmes e livros que abordem a segunda guerra esse é mais uma que vai para minha lista.
    Será que tem no Netflix?

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias…
    @mydearlibrary

    Resposta
  • 1 de abril de 2016 em 11:49
    Permalink

    Oi, Ana!
    Eu não conhecia essa série, mas fiquei super interessada. Eu curto filmes/séries/livros que tratem da Segunda Guerra. E achei mais interessante ver que foi uma rede alemã que produziu. Vou indicar também pro meu irmão porque sei que ele vai gostar.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Porcelana – Financiamento Coletivo

    Resposta
  • 1 de abril de 2016 em 14:17
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    Parece bem interessante e bem o tipo que eu preciso. Estou a procura de séries que abordam guerras pra estudo da indústria cinematográfica e a cultura da violência e da paz. PArece bem interessante e eu com certeza vou conferir 😉

    ❥Blog:Gordices Literárias

    Resposta
  • 1 de abril de 2016 em 18:56
    Permalink

    Nossa, adorei saber dessa serie, eu amooo tudo que gira em torno da segunda guerra mundial. Queria saber se tem no netflix, mas acho que nao né? Tem muito filme bom que deveria estar lá 🙁
    http://b-uscandosonhos.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 1 de abril de 2016 em 19:39
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    Olá, Ana.
    Eu não conhecia essa série ainda, mas fiquei com muita vontade de assistir. Adoro filmes, livros que se passem na Segunda Guerra e essa me pareceu ser muito interessante por ser pela perspectiva alemã. Não acho que todos eles eram os vilões não, tenho certeza de que muitos deles sofreram tanto quanto os judeus e os outros.

    Blog Prefácio

    Resposta
  • 2 de abril de 2016 em 02:55
    Permalink

    OI
    não conhecia e gostei do trailer, deve ser interessante ver uma outra visão da história que bom que curtiu e trouxe a dica pra gente.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    Resposta

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