Filho de Saul [Resenha do Filme]

*Dessa vez fomos até a Sony Pictures conferir um indicado ao Oscar!


Sinopse: Saul Ausländer (Géza Röhrig) é um membro húngaro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus que foram isolados do acampamento e são forçados a ajudar os nazistas no maquinário de extermínio em grande escala. Enquanto trabalha em um dos crematórios, Saul descobre o corpo de um menino que ele identifica como sendo de seu filho. Como o Sonderkommando planeja uma rebelião, Saul decide realizar uma tarefa impossível: salvar o corpo da criança das chamas, encontrar um rabino para recitar o Kadish e oferecer ao menino um enterro apropriado.
Talvez você esteja cansado de filmes sobre a segunda guerra e campos de concentração. Filmes que, ao invés de entreter, reportam tristeza sem fim e uma luta quase sempre em vão e injusta pela sobrevivência, física e psicológica, de suas personagens. Se a resposta for sim, talvez não seja a hora de mergulhar nos mais ou menos 100 minutos em que László Nemes nos conduz de forma dolorida, sincera e angustiante dentro de uma realidade que a muitos pode parecer mais pesadelo do que fato histórico. 
Enquanto talvez ainda achem que o tema já foi explorado a torto e a direito, e não há mais o que dizer a respeito, a maestria da direção com a qual nos deparamos nesse filme põe por terra qualquer argumento em defesa ao discurso ‘não mais filmes da segunda guerra, por favor’. Nemes trouxe à narrativa de seu primeiro longa-metragem algo que eu ainda não havia presenciado: ele te transporta direto para o campo de Auschwitz e te larga bem ao lado de Saul. Você é pego de surpresa ao se ver naquele inferno, como se fosse um de seus companheiros que tem o duro trabalho de limpar as câmeras de gás onde muitos dos seus morriam sem nem mesmo compreender a razão de tudo aquilo. E em meio ao absoluto terror, Saul parece encontrar a razão para continuar tendo forças. 
Se Nemes merece muito do crédito da bem-sucedida tarefa de nos levar a Auschwitz, grande parte do mérito da não muito agradável viagem que nos foi oferecida é de Géza Röhrig. Sempre digo que um ator verdadeiramente entregue ao que faz demonstra isso nos olhos (assista os primeiros segundos de Ligações Perigosas, na cena em que Glenn Close se olha no espelho e traduz no olhar toda a personalidade de sua personagem), e Röhrig não apenas está entregue, ele É Saul. E nunca foi nenhuma outra pessoa. E mesmo sendo tão pouco o tempo – ainda que absolutamente intenso – que passamos a seu lado, Saul se comunica primariamente com os olhos. E não precisamos entender de body language ou sermos experts de Lie to Me para perceber cada segundo de sofrimento, angústia e dor de Saul; como nos momentos em que ao invés de fixarmos o olhar em suas pupilas, o que traduz cada um de seus sentimentos é a respiração. 
Filho de Saul é, sem dúvidas, um dos registros mais cru e tenso do holocausto. Um filme sobre não perder a esperança quando não existe mais coisa alguma pela qual esperar. Dolorido como uma pancada na cabeça, e ainda mais. Incômodo como soco no estômago, e ainda mais. 
4.5/5.0 
Cristiano Santos

19 thoughts on “Filho de Saul [Resenha do Filme]

    • 2 de fevereiro de 2016 em 01:58
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      Sim Bianca, triiiiste! Ainda quando penso nele, sinto um leve embrulhar no estômago. E acho que a indicação da tag foi pra Michele, certo?

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  • 1 de fevereiro de 2016 em 13:19
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    Gosto de filmes bem feitos, doloridos e densos como esses. Eles estão aí para jogar na nossa cara os nossos erros. É revendo o passado que entendemos onde podemos melhorar no futuro.
    Certamente vou conferir a obra.

    Desbrava(dores) de livros – Participe do top comentarista de fevereiro. Serão dois vencedores!

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    • 2 de fevereiro de 2016 em 01:59
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      Concordo! E assista sim, um primor de filme – ainda que dolorido.

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  • 1 de fevereiro de 2016 em 19:06
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    Olá. Acho interessante filmes que retratam a segunda guerra, mas em contrapartida eu não gosto de assisti-los. A premissa desse é bem interessante mas não fiquei curiosa.
    Beijos
    SIL ~ Estilhaçando Livros

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    • 2 de fevereiro de 2016 em 01:59
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      Pena Sil, mas compreendo perfeitamente 😉

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  • 1 de fevereiro de 2016 em 20:08
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    Nossa, eu AMO filmes da Segunda Guerra. Principalmente esses que nos jogam lá dentro. Quando assisti a Lista de Schindler já quase pirei.
    Eu AMEI a sua crítica, e esse filme já mais do que está no topo da lista de próximos para assistir.
    Como você disse, às vezes é difícil assimilar que isso não é ficção, e sim um fato histórico. Triste, mas necessário.

    Letícia – Caverna Literária

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    • 2 de fevereiro de 2016 em 02:02
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      Concordo Letícia. E vou deixar até o link de uma entrevista com o diretor que eu gostaria de ter visto antes de assistir. E repare nos olhos tristes dele – esse filme conta a história da familia que ele perdeu (como ele mesmo diz).

      https://www.youtube.com/watch?v=PwjbJuUpYlE

      o/

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    • 3 de fevereiro de 2016 em 00:58
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      Hehehe, reforço de que é um filme dificil 😉

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  • 2 de fevereiro de 2016 em 15:14
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    Oi oi!
    Primeiramente, gostaríamos de parabenizar pelo blog fantástico, amamos todas as postagens, nos servem de inspiração para nosso blog.
    Segundamente, será que poderia nos seguir para ajudar nosso blog, já que ele não chega nem perto de famoso, rsrs?
    Gratas pela atenção, muito sucesso e abraços! <3
    http://particulasinfinitas.blogspot.com.br/

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  • 2 de fevereiro de 2016 em 16:19
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    Vou colocar na minha lista, fiquei com muita vontade de assistir.

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    • 3 de fevereiro de 2016 em 00:59
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      Aê! Que bom que te deu essa vontade, Marise!

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  • 2 de fevereiro de 2016 em 18:51
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    Olá, Michele.
    Eu gosto muito de filmes e livros que abordem a segunda guerra. Mesmo sendo triste é bom ver e ler para não cometer os mesmos erro já cometidos. Vou deixar anotado aqui para assistir.

    Blog Prefácio

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    • 3 de fevereiro de 2016 em 01:00
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      Oi Sil, sei que falou com a Michele, mas como sou o autor da resenha, fico feliz que tenha ficado com vontade de assistir o filme.

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  • 7 de fevereiro de 2016 em 03:11
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    Olá!
    Confesso que ainda não me cansei de filmes ou livros que abordem o tema da Segunda Guerra, já que sempre gostei de saber mais sobre essa época negra da história humana. Ainda não tinha sentido vontade de ver esse filme, mas agora pretendo fazer isso e de preferência o quanto antes. Obrigada pela dica!

    http://www.nemteconto.org

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    • 7 de fevereiro de 2016 em 17:53
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      Que bom, Cecília! Espero que partilhemos da mesma opinião 😉

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  • 25 de março de 2016 em 06:13
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    Achei bonita a música dos créditos: qual é a música, pablo?

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  • 17 de junho de 2016 em 18:57
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    HAHAHAHAHA! Olha o Pablo aí! E saber que música era vai precisar pesquisa. Se já tiver achado, traga aqui, please!

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