Nosferatu [Crítica do Filme]

Nosferatu

O que sobrou pra ser feito depois de Drácula de Bram Stoker (1992) dirigido por Francis Ford Coppola? Buscar lá nos escritos originais e trazer à tona o que estava nas entrelinhas – e foi isso que Robert Eggers fez. A já manjada história do Conde Drácula contada tantas vezes e por diferentes pontos de vista, ganhou outros tons com o diretor de A Bruxa (2015) e O Farol (2019). Vou listar a seguir o que gostei e o que não me agradou tanto

ATENÇÃO, CONTÉM SPOILERS

Pontos positivos:

– O clima tétrico-gótico é impressionante e muito belo. A direção de arte e fotografia são impecáveis, nos deixando com um olho na legenda e outro nos cenários e no impecável trabalho de luz e sombra. Tudo em tons frios nas externas com muito cinza e ambientação mais quente nos interiores. Lindo.

– Ótima a maneira com que Robert Eggers trabalha os elementos tanto da Alemanha de 1838 quanto da Transilvânia, nos transportando para o século XIX sem que apareça um relógio no pulso de um figurante ou um extintor de incêndio esquecido no canto do cenário. A recriação de uma vila cigana (com os ciganos) também é perfeita.

– A escalação do elenco foi acertada, com Bill Skarsgard, Willem Dafoe, Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult e Aaron Taylor-Johnson muito bem em seus papéis. Dafoe é sempre o destaque, mas surpresa fica com a talentosa filha dos menos talentosos Johnny Depp e Vanessa Paradis – Lily-Rose se destaca com uma atuação corporal difícil, cheia de camadas.

– A maquiagem realista também merece aplausos. O Drácula desta vez passa longe da figura faminta do longa de 1979 interpretado por Klaus Kinski e mais longe ainda do glamouroso Drácula de Gary Oldman, de 1992. Bill Skarsgard, debaixo de muitas próteses, é um cadáver em estado de putrefação e o trabalho de mixagem de som feito com sua voz é excelente.

– O conflito entre fé e ciência é bem explorado e não o faz de maneira didática. Aliás, as 2 horas e 12 minutos de duração não pesam e a minutagem flui bem.

– A cena final é de uma beleza aterrorizante. O que começa com a consumação do desejo psicossexual dos protagonistas, se transforma no mais puro horror estético, algo que eu não via desde Um Lobisomem Americano em Londres (1981).

– A inegável homenagem a Nosferatu (1922) e a inspiração em Nosferatu (1979) foi bem sacada, pois seria covardia compará-lo a Drácula de Bram Stoker (1992).

Pontos negativos:

Nosferatu 2024

– A caracterização facial do Nosferatu inclui um resto de cabelo e um bigode, parecendo uma mistura de Hitler com Seu Madruga do desenho animado. Quando está na penumbra até funciona, porém quando está às claras pode arrancar risos involuntários.

– Thomas, o personagem de Nicholas Hoult é esquecido em determinado momento e quando volta, não serve para mais nada.

– Já o devoto surtado que anseia a chegada do Nosferatu, foi brilhantemente interpretado por Tom Waits em Drácula de Bram Stoker, mas ganha aqui um tratamento exagerado demais e uma conclusão totalmente anticlimática. Não sei se o pior é este ou o que não pára de rir em Nosferatu de 1979.

– Nosferatu faz uma cena de nu frontal e estupra o personagem do Nicholas Hoult. Acho que nem se eu virasse o livro de cabeça pra baixo, eu acharia essa passagem no subtexto. Ver a bunda apodrecida do Nosferatu é algo inesquecível no pior sentido – o fato do pênis estar inteiro e funcionando passa a ser o maior mistério da trama.

– A ida do navio que vai da Transilvânia para Alemanha ficou muito simples e com um CGI ruim.

– O extermínio da tripulação e a chegada, trazendo a peste e o ratos, mereciam um trato bem melhor.

– Senti falta do Van Helsing e não colou a ideia da revelação de que o Nosferatu é o próprio Diabo.

Que Diabo é esse que morre durante o ato sexual?

FICHA TÉCNICA

Título: Nosferatu
Direção: Robert Eggers
Data de lançamento: 2 de janeiro de 2025
Universal Pictures

 

Italo Morelli Jr.

One thought on “Nosferatu [Crítica do Filme]

  • 3 de fevereiro de 2025 em 13:21
    Permalink

    Parece ser uma trama com acertos e erros. Gostei de acompanhar.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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