Do Fundo da Estante: Assédio Sexual [Crítica]

Década de 90, ano de 1994, e um dos assuntos mais discutidos na época era assédio sexual, que consiste em constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. O mais comum sempre foi a mulher ser a vítima. Mas, e quando os papéis se invertem?

Tom Sanders (Michael Douglas) é um executivo que aguarda uma promoção na empresa onde trabalha, mas quem acaba ocupando o cargo é Meredith Johnson (Demi Moore), com quem ele teve um affair mal resolvido. Meredith, agora em um cargo superior ao de Tom, tenta seduzí-lo e forçá-lo a ter relações sexuais e, ao ser rejeitada, ameaça destruir sua carreira. Para surpresa de todos (inclusive a nossa), Tom resolve processar Meredith por assédio sexual. 

Parece até um filme do polêmico Adrian Lyne (9 1/2 Semanas de Amor, Atração Fatal e Proposta Indecente), mas pertence ao experiente diretor Barry Levinson (vencedor do Oscar por Rain Man, de 1988) cujo roteiro é do próprio autor do livro, Michael Crichton. Pelos nomes envolvidos, esperava-se um pouco mais de barulho do que ele causou. 

Assédio Sexual não é um filme quente como a palavra sexual do título automaticamente sugere – ele passa longe do terreno do erotismo e vai pelo caminho do “filme de tribunal”, que nos prende a atenção o tempo todo. Michael Douglas em um personagem que recusa uma investida sexual, depois de ter feito dois anos antes Instinto Selvagem? Não colou e isso tirou um pouco da força que o filme poderia ter tido. Ele até convence como executivo, mas como objeto de desejo, ficou forçado. Já Demi Moore é um vulcão de sensualidade e se não possui recursos dramáticos suficientes, pelo menos não faz feio em cena. Aliás, Demi pode ser considerada a dona dos anos 90: fez vários filmes que foram fracasso de crítica e mesmo assim ganhou os mais altos cachês, lotando as salas de cinema. Tem filme novo da Demi? Vamos conferir! Atuar em Assédio Sexual nem deve ter sido um desafio tão grande assim, já que o diretor não apelou para maiores ousadias em busca de publicidade gratuita. A cena do assédio não chega nem a ser soft porn, de tão comportada – é bem filmada e Demi Moore está deslumbrante e segura. 


A notável trilha sonora é, pasmem, do mestre Ennio Morricone. Tom Sanders até parece aleatório ali sob o domínio de Meredith, mas o roteiro reserva pra ele uma história bem escrita, dúbia até, sobre o papel do homem e da mulher no campo profissional e na sociedade, assunto eternamente discutido e que reverbera até hoje.

Visto nos dias atuais, Assédio Sexual é quase um desserviço as conquistas do feminismo nos últimos anos por reforçar o estereótipo da mulher poderosa e vingativa, mas vale como retrato da mentalidade de uma época e não deixa de ter o seu valor enquanto estudo de personagem. Não é comum um homem sofrer assédio sexual de uma mulher e levá-la aos tribunais por isso, porém é comum alguém que tenha o poder nas mãos cometer algum tipo de abuso – no caso de Assédio Sexual quem detém esse poder é uma mulher, mas poderia ser um homem e este é o detalhe que torna esta obra tão interessante. Comportamento abusivo não depende nem de sexo e nem de sexualidade e Meredith Johnson não é uma regra no selvagem mundo corporativo. Se o escritor Michael Crichton fez bonito com Jurassic Park e encantou à todos, em Assédio Sexual ele soube abordar um assunto polêmico de maneira original, e que hoje está mais vivo do que nunca, vide o movimento Me Too.

Uma pitada de tecnologia (hoje datada) reforça o quanto o filme queria estar na crista da onda, merecendo sim uma conferida e também um revival nas rodas de discussões.

FICHA TÉCNICA

Título: Assédio Sexual
Título original:Disclosure
Direção:  Barry Levinson
Data de Lançamento: 9 de dezembro de 1899 (Estados Unidos)

Italo Morelli Jr.

One thought on “Do Fundo da Estante: Assédio Sexual [Crítica]

  • 22 de abril de 2024 em 16:07
    Permalink

    Parece ser um filme bem interessante de ser visto. Obrigado por compartilhar.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Crítica: A Esposa do meu marido Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+
Crítica: A Esposa do meu marido Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+