Um ninho para dois [Crítica do Filme]

Logo de cara, Um ninho para dois pode parecer um filme com proposta de superação milagrosa como muitos do gênero, mas tem um tom leve e ao mesmo tempo cheio de sensibilidade e um final que mostra que apesar de pesares a vida segue.

Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O’Dowd) perdem a filha deles por um mal súbito, cada um lida com o luto de uma maneira. Jack está internado em uma clínica de tratamento mental profundamente deprimido. Já Lilly continua trabalhando e tentando retornar a sua rotina, incansavelmente ela vai toda semana visitar o marido. Um dia, um passarinho aparece na árvore do quintal da sua casa e extremamente agressivo e territorial, o animal começa a atacar a protagonista e os dois iniciam uma guerra bem engraçada. Ao visitar Jack, a diretora do local indica Dr Larry (Kevin Kline), um antigo terapeuta, para conversar com a protagonista que obviamente também precisa de apoio. No entanto, quando ela finalmente cria coragem para conversar com alguém ela descobre que Larry é um veterinário.

De uma maneira muito diferente, o Dr. Larry começa a ajudar Lilly, ele rejeita a ideia de ser terapeuta de alguém novamente, mas como a protagonista tem problemas com o passarinho no seu quintal, os dois acabam se conectando. Sutilmente (e às vezes não tão sutil assim) o médico tenta ajudar Lilly com seus problemas porque sabiamente percebe que ela, mesmo depois de um ano, ainda vive o luto da morte da filha e que tem problemas no seu casamento.

É muito difícil para Jack, professor de artes para crianças, retomar a vida normalmente, é fácil ter empatia por ele, mas em certo momento é possível sentir um pouco de raiva também, afinal, Lilly aguentou perder a filha e precisa lidar com a ausência do marido, sendo que ele não foi o único a perder alguém. Os dois personagens possuem camadas bem profundas, ainda que as de Jack sejam bem mais expostas. E Larry, ainda que não tão bem explorado como eu gostaria, tem um papel fundamental nas decisões de Lilly de finalmente encarar certas coisas na sua vida, além do passarinho que continua bravamente irritando a coitada.

Melissa McCarthy carrega muito bem a delicadeza do drama colocando um pitada de comédia em algumas cenas que funcionam como alívio cômico. O roteiro consegue trabalhar o luto e a depressão sem ser piegas, sem apelação. Não existe superação milagrosa, mas sim a possibilidade de ao menos tentar seguir adiante e arrumar maneiras de lidar com a dor. E é essa a mensagem do filme, aprender a lidar com as nossas perdas. Ao mesmo tempo tem um humor perspicaz e também sutil em vários diálogos, Jack com seu terapeuta tem uma cena final impagável.

Enfim, Um ninho para dois pode parecer um filme de autoajuda, mas é bem sensível, toca em feridas profundas de modo leve, dentro de uma certa zona de conforto.

 
Trailer
FICHA TÉCNICA
Título: Um ninho para dois
Título: The Starling
Direção: Theodore Melfi
Data de lançamento: 24 de setembro
Netflix
Michele Lima

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