Herdeiras do Mar [Resenha Literária]

Coréia, 1943. Hana e Emi viveram a vida inteira sob ocupação japonesa; seus nomes coreanos, literatura e práticas culturais são reprimidos e tornados ilegais. Morando na ilha de Jeju, Hana é uma Haenyeo, uma mergulhadora do mar. Tanto ela como a mãe, assim como outras mulheres, desfrutam de uma independência que poucos coreanos podem desfrutar. Emi é muito jovem e, portanto, tem que esperar na praia enquanto observa e espera que sua mãe e irmã terminem o mergulho e a captura de criaturas marinhas.

“Promessas são para sempre, Hana. Não se esqueça.”

Um dia, Hana vê um soldado japonês na praia em direção a sua irmã. Com toda a sua força, ela segue em direção à costa, salvando sua irmã mais nova, mas no processo é capturada e transportada para se tornar uma ‘mulher de conforto’. 
Mudando para 2011, somos informados da história de Emi e de sua vida tentando reprimir a infelicidade de seu passado, incluindo o sacrifício que sua irmã fez. No entanto, para descobrir a paz, ela deve enfrentar seu passado e procurar valentemente por sua amada irmã.
O livro muda de ótica entre os anos, sob o ponto de vista de Hana para 2011 do ponto de vista de Emi. Enquanto o ponto de vista de Hana descreve o horror absoluto de ser traficada, estuprada e abusada repetidamente enquanto sendo uma ‘mulher de conforto’, a história de Emi mostra os efeitos posteriores do desaparecimento de sua irmã, o Massacre de Jeju e seu casamento forçado. 
Este livro destacou um pedaço da história sobre o qual eu mal sabia. Eu tinha ouvido falar da ocupação japonesa na Coréia, mas não muito mais. Acredita-se que até 200.000 mulheres e meninas coreanas foram roubadas, enganadas e vendidas como escravas sexuais militares para e pelos militares japoneses durante a colonização japonesa na Coréia. Muitas dessas mulheres e meninas não voltaram para casa e ainda estão desaparecidas – suas famílias nunca encontraram respostas para o paradeiro ou souberam o que aconteceu com elas. Suas histórias trágicas desconhecidas. 
Inacreditavelmente, foi apenas em 1993, quando o Japão reconheceu a existência de mulheres de conforto, que depois foram retiradas. Parece que não há reparação para essas mulheres, nenhum pedido de desculpas ou reconhecimento governamental substancial de suas histórias. Há um silenciamento dessas vozes.
A verdadeira história das ‘mulheres de conforto’ coreanas, isto é, escravas sexuais raptadas pelo exército japonês para o ‘serviço’ de tropas, sem dúvida merece ser contada, mas este não é um romance particularmente realizado ou sofisticado. De fato, seria ótimo se ele contasse toda a história dessa garota escravizada, mas ele passa mais tempo falando de outras coisas do que dentro do bordel onde ela está inserida. 
Lamento soar um pouco desfavorável aqui… esta é uma história importante baseada nas alegações que só surgiram em 1993 de que as mulheres coreanas foram escravizadas, estupradas e forçadas à prostituição pelas forças de ocupação japonesas antes e durante WW2. Claro, isso é horrível, e com certeza precisa ser contado – mas, como romance, pareceu um tratamento simplista e direto demais. 
O posfácio da autora tem uma ingenuidade semelhante quando reitera, novamente, a plausibilidade de que precisamos lembrar a história para nos impedir de repeti-la – mas, como ela bem sabe, as mulheres continuam sendo estupradas durante conflitos, por exemplo, na Ruanda, no Afeganistão, na Síria, no Iraque… as evidências mostram que não aprendemos com a história, então não vamos nos iludir.
Então, sim, é uma história muito importante, mas foi meio decepcionante como um romance. 
Essa é minha opinião pessoal! O livro tem um ótimo contexto histórico, se a sua base fosse essa com certeza ele seria nota 5, mas por conta de todos os fatores que foram envolvidos por aqui foi esse o motivo da nota ser mais baixa.
Recomendo a leitura se você gosta do contexto e pretende saber mais a respeito do que acontece em algumas situações na Coréia. Acredito que todos os livros que lemos, nos ensinam de alguma forma, este por exemplo me fez buscar mais de um história que eu não conhecia a fundo. 
FICHA TÉCNICA
Título: Herdeiras do Mar 
Autora: Mary Lynn Bracht
Nota: 3,5/5
Onde Comprar: Amazon
 

Natália Silva

4 thoughts on “Herdeiras do Mar [Resenha Literária]

  • 5 de agosto de 2020 em 22:03
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    Que pena que deixou a desejar como romance. Eu até queria ler, mas parece que a autora meio que passou por cima de algumas coisas importantes
    Beijos
    Balaio de Babados

    Resposta
  • 6 de agosto de 2020 em 00:45
    Permalink

    Este comentário foi removido pelo autor.

    Resposta
  • 7 de agosto de 2020 em 13:30
    Permalink

    Oi lindeza! Eu me decepcionei também, apesar de ter a mesma opinião em se tratando do valor do contexto histórico retratado sob a forma de ficção.
    Pude ter novos conhecimentos, mas não curti muitas passagens, muitos desenvolvimentos e etc rs. Resenha maravilhosa, como sempre.
    https://www.aculpaedosleitores.com.br/

    Resposta

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