Álbum da semana – Los Hermanos (1999)
De acordo com o dicionário, hiato significa “solução ou interrupção de continuidade; falta; intervalo; lacuna”, e sua etimologia tem origem no termo em latim hiātus. Linguisticamente, hiato é encontro de dois sons vocálicos cujas vogais são separadas na divisão silábica. Ai você tá lendo isso e pensa: “João, você não escreve sobre música? Então porque raios tá querendo dar uma de professor Pasquale?”. Simples, pois na música também existe o hiato.
Quando uma banda para por tempo indeterminado, o efeito é o mesmo. A “vogal” chamada FÃ se separa da outra “vogal” chamada BANDA. Fica essa lacuna, essa interrupção, essa falta. E vários são os exemplos desse hiato na música. Uma das bandas mais políticas e engajadas em causas humanitárias o Rage Against The Machine teve seu fim decretado pelo vocalista Zakk De La Rocha em 2000, alegando divergências ideológicas. No ano seguinte, Tim Commerford, Tom Morello e Brad Wild se juntaram a Chris Cornell e formaram o Audioslave, mas, com o fim dessa, em 2007, o hiato do RATM foi posto em xeque e a formação clássica se reuniu novamente. Queen, Spice Girls, Blink-182 e entre outros grupos internacionais também tiveram um hiato no meio do caminho. Em terras tupiniquins, talvez o hiato mais longo e duradouro seja dos Engenheiros do Hawaii. A banda liderada pelo magnífico Humberto Gessinger (sim, sou muito fã) nunca acabou, mas também, é difícil de voltar à ativa, tanto que o último registro de uma reunião da banda data de 2007. Falamos do hiato das bandas, mas também falamos que esses hiatos tiveram fim, certo? E ainda bem que a banda dona do álbum dessa semana anunciou o fim de um hiato que agoniava os fãs e vai cair na estrada em 2019. Sim, estamos falando de Los Hermanos, e o álbum de hoje é o primeiro dos quatro da discografia dos caras.
Lançado em 1999, o primogênito dos Los Hermanos que leva o mesmo nome da banda, divide opiniões. Amado por uns e odiado por outros. E isso independe da indicação para Melhor Álbum de Rock Brasileiro ao Grammy daquele ano. Independe também de no ano seguinte, Anna Julia – primeiro single do disco – ter ganhado como Melhor Composição no Prêmio Multishow de Música Brasileira e a banda ter ganhado também como Grupo Revelação. Mas digamos que como pais de primeira viagem e vindos de uma cena undergorund do Rio, eles se saíram muito que bem eu diria.
Costumo classificar esse disco como experimental. Sim, experimental. Afinal, é uma mistura de hardcore, punk, um flerte com o pop, uma pitada de ska, guitarras que alternam entre peso e suavidade, instrumentos de sopro, marchinhas de carnaval e letras que de uma maneira ou outra abordam relacionamentos e o amor com certo tom de melancolia. Com essa descrição dificilmente você escutaria esse álbum não é mesmo? Mas, como teimosos que somos, colocamos o fone, apertamos o play e nos deixamos levar – e surpreender – com esse belo trabalho ao longo dos seus quase 36 minutos.
Impulsionadas pelo sucesso de Anna Julia, o álbum também apresenta outras músicas bem recebidas, tais como Primavera – segundo single do álbum – e Pierrot. Mas além dessas, outras merecem destaque. Estamos falando de Tenha Dó, Azedume, Lágrimas Sofridas e Aline.
Os primeiros segundos e suspiros do álbum são embalados por um trompete meio caribenho que logo é sucedido por uma agressividade sonora e rústica na medida certa. Uma boa música e certamente, a melhor escolha pra abrir um álbum tão mistureba quanto esse, já que ao longo dos 3:27 você é apresentado a uma avalanche de gêneros musicais todos juntos numa única canção. Azedume apesar de um terremoto sonoro é melancolia pura. O que faz todo sentido, afinal, antes de se entregar a sofrência, certamente a fúria toma conta de todo e qualquer cidadão. Lágrimas Sofridas vem logo em sequência que basicamente é a mesma pegada que sua antecessora em todos os aspectos, porém, mais agressiva ainda. Aline é uma bela declaração de amor que com toda certeza derrete o coração de qualquer crush. E sim, ela também conta com um tom bem agressivo. Mas, os brutos também amam, não é?
Com hiato ou sem hiato, Los Hermanos continua no coração de cada fã e certamente os mais calorosos (tipo eu), tem o álbum homônimo e primogênito com muito amor e carinho guardado a sete chaves. Que nessa nova turnê, possamos não ter divisões silábicas feito o hiato, mas sim uma soma de novos fãs e multiplicação de amor por essa banda que desde o primeiro álbum encanta a todos com sua música.
João Salmeron
Oi, João!
Particularmente, eu não conheço nada de Los Hermanos. Só conheço a Ana Júlia hahahah
Beijos
Balaio de Babados
Natal Literário 2018: 5 kits, 10 ganhadores. Participe!