Mãe! [Resenha do Filme]

Conferimos a Cabine e Coletiva de Imprensa de Mãe!
*ALERTA SPOILER
A jogada da Paramount Pictures em não divulgar praticamente nada do enredo de Mãe! foi muito inteligente, mas isso faz com que qualquer coisa que seja dita sobre o filme acabe sendo spoiler. Então, antes de mais nada, saiba que essa crítica está repleta de informações sobre o filme, com muito spoiler do enredo.
Mãe é a personagem de Jennifer Lawrence e já com esse nome a gente começa a imaginar que tipo de mãe ela é. No começo, a protagonista parece apenas uma esposa, dedicada, cuidadosa, recriou a casa em que moram com muito amor e carinho e vive pelo bem estar do marido. Ele, um criador, aparentemente um poeta que precisa de inspiração para escrever, mas só uma casa bonita e tranquila não é o suficiente. Até que chega um homem (Ed Harris), doente, mas fã do marido da protagonista. Claro que a personagem acha muito estranho receber um desconhecido em sua casa, desconfia, não gosta e tudo piora quando chega a personagem da excelente Michelle Pfeiffer. Ousada, provocadora, a mulher acha que pode fazer o que quiser na casa, inclusive entrar em lugares que não deveria. A rotina dos protagonistas é perturbada e chegam os filhos do casal brigando, o que resulta numa tragédia. No entanto, os acontecimentos inspiram o poeta que numa obra prima atinge milhares de pessoas e seguidores que vão até sua casa procurá-lo.
Acredito que quem leu o nome dos personagens nos créditos deve ter pegado todas as referências bíblicas, o homem como Adão, a mulher como Eva, os filhos como Caim e Abel, o pecado da carne. No entanto, nem tudo é muito evidente quando se trata dos personagens Mãe e Ele, Deus da criação. Os homens são uma fonte de inspiração mais forte do que a natureza e uma vez que as palavras do criador estão no papel e espalhadas, homens e mulheres de todos os tipos chegam em seu lar, em sua busca. Ele compartilha, dá, acolhe e cada vez mais os homens tomam, abusam, exploram, matam, em cenas fortes, chocantes e angustiantes. 
No entanto, a alegoria bíblica não é o único tema do filme. Temos a relação do casal em que a mulher é completamente submissa, sem voz, sem muita expectativa a não ser servir o marido em um relacionamento morno. Aliás, em certo momento quando a personagem pinta a parede de amarelo cheguei a me lembrar do livro O papel de parede amarelo de Charlotte Perkins Gilman em que o confinamento da protagonista atinge sua saúde mental. Já o poeta, cada vez mais amado e adorado, deixa com que as pessoas peguem tudo que a esposa criou, culminando em cenas finais tensas demais, o que causam um enorme sofrimento, desespero, em que a barbárie toma conta de tudo.
Grávida, ela precisa sobreviver a uma invasão que beira a bizarrice, com diferentes cultos, religiões, etnias, maldades e mesmo quem tenta ajudar acaba morrendo. O marido não se importa com a casa, não se importa com a criação dela e o final da criança nós já sabemos há muito tempo.
As referências sutis estão espalhadas por todo o longa, o homem como Adão, o ferimento na costela, a chegada da mulher com Eva que instiga desejos carnais, os fanáticos, os pobres, a miséria, a doação, tudo do inicio ao fim em uma enorme referência bíblica; engana-se quem assiste ao longa esperando um terror, o filme não é desse gênero. Mas há horror, há um terrível horror em ver como a Mãe é abusada, invadida e explorada sem o menor pudor, o quanto ela sofre e ama incondicionalmente, bem como Ele ama os homens. Aliás, vale ressaltar que o personagem de Javier Bardem é egocêntrico tal como Deus é visto por muitos no antigo testamento.
Se no início o diretor tenta nos passar uma imagem quase que normal do casal, numa linha narrativa mais lógica, do meio para o fim ele abandona a ambiguidade principal, mas continua nos mostrando uma trama com diversas camadas de interpretações em que Mãe é a personificação de várias mães e com isso, além da questão religiosa e ecológica, temos também a questão da sociedade patriarcal e o papel da mulher nele. 
Toda a história se passa dentro da casa, com um cenário único e câmera com muitos closes em Jennifer Lawrence, que está excelente no papel, sua dor é palpável, sua angústia é cada vez mais evidente. A movimentação da câmera, a forma como vamos acompanhando a protagonista pela casa, a ambientação e principalmente o impacto das cenas finais, deixa tudo claustrofóbico, fechado, poluído, cheio, confuso e inquieto. A direção de Darren Aronofsky (Cisne Negro, 2011), é brilhante, concisa, sem pontas soltas. Não existe diálogo nesse filme que não seja uma referência a alguma coisa que num todo acaba fazendo sentido. Nada é aleatório.
Mãe! não é um longa que vai agradar a todos, principalmente quem espera um terror no mais estilo clássico, mas é do tipo que a gente precisa ver várias vezes para pegar todas as referências em cada diálogo, cada cena, cada cor do ambiente, tudo muito bem pensando por parte Darren Aronofsky.
Mãe! é forte, intenso, impactante e de difícil digestão, um soco no estômago que te faz refletir por muitos e muitos dias.

Sobre a Coletiva

Coletiva de Imprensa – Darren Aronofsky. Foto de Mauricio Santana. Agência Febre.

O cineasta norte-americano Darren Aronofsky participou de uma coletiva de imprensa em São Paulo e contou que Mãe! é seu projeto mais autoral. Segundo o diretor, o roteiro foi escrito em apenas 5 dias e que uma das mensagens do filme seria a necessidade de cuidar nosso planeta e que até o Papa tem falado sobre essa questão, mas que a esperança é o que está por trás do longa.
Darren ainda comentou  sobre a intenção de nos fazer sentir e ver exatamente como a personagem principal e também sobre as diversas camadas de interpretação do longa: religiosas, políticas e sociais e alguns dos símbolos presentes que tem gerado discussões. O diretor já esperava que as opiniões sobre Mãe! seriam bem divididas, já que o filme é bastante agressivo em muitos aspectos.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: Mãe!
Título Original: Mother!
Diretor: Darren Aronofsky
Data de Lançamento: 21 de setembro de 2017

Michele Lima

22 thoughts on “Mãe! [Resenha do Filme]

  • 20 de setembro de 2017 em 14:17
    Permalink

    Apesar de gostar muito de Jennifer Lawrence enquanto actriz, este não é de todo o meu tipo de filme, evito filmes que me façam perder o sono à noite 😛

    MRS. MARGOT

    Resposta
  • 20 de setembro de 2017 em 19:06
    Permalink

    Oi Michele, tudo bem?
    Não sabia desse filme até ver o trailer no cinema, já assisti esse trailer duas vezes e ele ainda não me conquistou, quando vi que era um filme com a Lawrence eu fiquei bem empolgada, mas no final me senti decepcionada, e olha que adoro filmes do gênero. Li vários comentários do filme ser bem 8/80, ou ama ou odeia, espero assistir logo para tirar minhas conclusões além do ~péssimo~ trailer hahaha

    Obrigada pelo carinho. Volte sempre!
    Um super beijo :*
    Claris – Plasticodelic

    Resposta
  • 20 de setembro de 2017 em 23:35
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    Olá Mi! Que resenha é essa hein? Adorei! Engraçado que imaginava esse filme completamente diferente rsrsrs… Agora preciso ir no cinema conferir!

    Beijos

    Vivian
    Saleta de Leitura

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  • 21 de setembro de 2017 em 00:14
    Permalink

    Oláá Mi! Tudo bem??
    nossa, só de ler a sua resenha, já fiquei aqui meio sem fôlego! Curioso que eu não imaginava que o filme se tratava disso… Mas fiquei muito mais interessada agora! Ainda mais com um elenco desses!!!
    beeijo

    https://lecaferouge.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 21 de setembro de 2017 em 00:32
    Permalink

    Oi Mi! Este eu passo, não é o tipo de história que eu goste de ver num filme. Em um livro até encaro. E apesar da atriz se muito elogiada, ela não é das minhas preferidas. Bjos!!!

    Resposta
  • 21 de setembro de 2017 em 02:58
    Permalink

    Na hora que vi o nome do filme pensei que fosse bem ruim, mas confesso que a história me surpreendeu. Obrigada por compartilhar! ❤

    http://www.kailagarcia.com

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  • 21 de setembro de 2017 em 14:22
    Permalink

    Olá ,tudo bem?

    Gosto muito dos filmes com a Jennifer Lawrence, mas confesso que pelos trailers não tinha entendido nada do filme (pelo visto a intenção era essa mesma), e pela sua resenha… não sei se vou conferir no cinema não. Quando chegar à tv provavelmente assistirei, mas deu pra perceber que o bagulho é muito louco!

    Abraço!
    Marcelo Brinker
    Leitura Kriativa

    http://leiturakriativa.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 21 de setembro de 2017 em 16:41
    Permalink

    Oi, Mi.
    Penso no filme e lembro do seu comentário no nosso insta antes de eu ver "Prepare-se para o impacto!". Bem isso mesmo!
    Amei sua resenha, bem detalhada. Parabéns! Eu decidi fazer a minha sem spoiler, então botei o link da sua no nosso post do face para quem já viu o filme e ainda está martelando na cabeça tanta informação que o Darren jogou na gente.

    Bjs,

    Jack

    EntreLinhas Fantásticas

    Resposta
  • 22 de setembro de 2017 em 12:07
    Permalink

    Olá Mi!!!
    nem fazia idéia do que se tratava esse filme, mas depois de ler sua resenha fiquei ainda com mais vontade de conferir! Ele parece ser um suspense de tirar o fôlego, muito bem desenvolvido! Ótima dica 🙂
    Beijinho

    EVENTUAL OBRA DE FICÇÃO

    Resposta
  • 24 de setembro de 2017 em 23:11
    Permalink

    Oi, Mi!
    Eu não estava dando nada por esse filme (só o trailer já me deu agonia pq esse movimento de câmera e muito close me dá angustia), por isso fiquei bem feliz com a sua resenha com spoilers! Não tava afim de ver, mas queria saber sobre o que REALMENTE era. E agora deu vontade de ver auhsaushauhsushauhsaush Gostei muito dos pontos que você levantou sobre as críticas que ele faz, mas fico com receio de cenas pesadas, tem coisas que são gatilhos fortes e não tenho muito estômago. Talvez eu espere chegar na netflix ou coisa do tipo, assim não vou me sentir mal se tiver que parar no meio.

    bjs
    http://www.queriaestarlendo.com.br

    Resposta
  • 23 de outubro de 2017 em 13:05
    Permalink

    O filme e sensacional, a fotografia e esplendida, eu adoro o movimento de camera focada na atriz principal. A atuaçao dos atores sao de tirar o folego.Quem nao viu ainda, vale a pena assistir.

    Resposta
  • 23 de janeiro de 2018 em 01:09
    Permalink

    Eu acabei de assistir o filme e fiquei com aquela sensação de ter visto muita coisa e não conseguir processar nada direito, fiquei sem reação e sem conseguir expressar uma opinião sobre. Depois de ler essa resenha, minha mente acalmou mais, conseguir enxergar (dentre 45451 possibilidades de interpretações que o filme pode ter) uma visão muito bacana da obra, mas ainda assim, estou sem palavras para descrevê-la.

    Resposta
  • 7 de março de 2018 em 02:24
    Permalink

    Olha, eu duvido de que alguém neste mundo que não leu nada sobre o filme tenha gostado e entendido a metáfora. A maioria que gostou leu sobre o filme e ficou analisando cada cena e pensando…. nossa! que demais…..
    Na minha opinião, este diretor fez filmes ótimos aclamados pela crítica e está naquela fase de Miguel Falabela que está cercado de puxa sacos que ficam bajulando e achando tudo um espetáculo o que ele faz… ninguém do seu círculo de amizade ou profissional tem coragem de contrariá-lo. Achei um filme de extremo mal gosto, e que só quem leu as "explicações" previamente acha uma obra de arte… Eu sei que vão me chamar de burro… que não entendi a profundidade do filme… que é lindo o Adão e Eva… costela Genesis… Vamos colocar a mão no chifre e admitir que o filme é um lixo feito por um cara que se acha o máximo e que é um pecado discordar da sua obra prima…. Quem não gostou não gostou não é inteligente… Pelas barbas do profeta…. será mesmo que teve alguém neste planeta que assistiu este filme sem ser influenciado anteriormente por críticas realmente "entendeu" e gostou? Eu já ví vários vídeos no youtube explicando o filme e falando que é claríssima a referência ao novo/velho testamento…. genesis etc…. PURA BALELA DE PSEUDO INTELECTUAIS!!!! As criaturas de Deus assistem estas porcarias e vão assistir o filme já emocionados…. falando…. olha que lindo a referência da costela de Adão…. Olha podem me xingar… eu entendo… mas pelo menos eu sei que muita gente vai concordar comigo e não vai admitir… Para finalizar, se eu tivesse o poder, eu decretaria a prisão imediata do Darren Aronofsky e a proibição eterna de tocar em uma camera de vídeo. Amém.

    Resposta
    • 7 de março de 2018 em 23:36
      Permalink

      Oi Fabiano!! Olha, eu gostei muito, muito do filme, mas entendo perfeitamente seu ponto de vista! Só não prende o diretor não, vai rsrsrsrsrsrsrsr

      Resposta

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