“O tempo e o vento” além dos livros

Tarcísio Meira – o eterno e insubstituível Capitão Rodrigo Cambará

A trilogia O tempo e o vento é, provavelmente, a obra mais significativa sobre e para a cultura gaúcha. Erico Veríssimo conta a história do estado e sua multiculturalidade (índios, alemães, italianos, portugueses…) por meio da saga da família Terra Cambará. A história do primeiro livro, O continente, é a mais conhecida, não só porque é a única parte da trilogia adaptada para as telas, mas especialmente porque os personagens mais marcantes da saga estão neste livro: Ana Terra, Rodrigo Cambará e Bibiana Terra Cambará (neta de Ana e esposa de Rodrigo). 
Eu poderia escrever dezenas de linhas sobre a trilogia de Veríssimo (vez ou outra, eu, meu tio e minha mãe nos pegamos em conversas sobre a série e desafiamos a nossa própria memória a lembrar toda a árvore genealógica dos Terra Cambará – e lemos há anos), mas provavelmente tudo que eu diria pode ser encontrado em outras páginas da nossa infinita internet, além disso minha proposta é outra: mostrar a vocês que Erico Veríssimo não só registrou a história gaúcha como influenciou artistas regionais que vieram depois dele. Ok, a influência da obra de Erico vai além do meu alcance, então vou especificar: a influência de sua obra para os músicos gaúchos. 
Certamente eu poderia ordenar as músicas por ordem de lançamento, mas acho mais interessante ordenar pela ordem cronológica do livro. Sendo assim começamos com Yamandu Costa e a canção que leva o nome da grande heroína da história: Ana Terra. A canção faz parte do CD Lida (2007), que também possui uma faixa chamada Vento dos mortos – pode não ter nada a ver, mas o título me lembra da constante frase da saga de Veríssimo: “Noite de vento, noite dos mortos”. Ouvir a canção que leva o nome da Ana Terra me dá um arrepiozinho de tão linda que é. 
Na sequência, o segundo grande astro da saga: Capitão Rodrigo Cambará, o qual, assim como a Ana, teve direito a uma publicação separada do resto da trama d’O Continente. O exemplo maior de gaúcho: macho para ninguém por defeito, peleador, orgulhoso de sua cultura (e galinha, mas né, todo mundo gosta de deixar esse detalhe de lado). Com seus prós e seus contras, Rodrigo continua atraindo gerações de leitores. Tarcísio Meira, um não-gaúcho, conseguiu a façanha de imortalizar o personagem na minissérie de 1985 e gaúcho nenhum jamais o superará. As canções da minissérie também não deixaram a desejar, afinal foi ninguém mais, ninguém menos que Tom Jobim quem assinou a trilha sonora. Mas, apesar de todas as músicas serem lindas, Um certo capitão Rodrigo dos irmãos Kleiton & Kledir é tão perfeita que, junto com a interpretação de Tarcísio Meira, quase, QUASE, deixam as palavras originais de Erico Veríssimo pra escanteio. QUASE, eu disse. 

Continuando n’O Continente e nas proximidades de Rodrigo, Bibiana, sua esposa. A canção a seguir é instrumental, como a do Yamandu, e não leva nenhum sobrenome para que tenhamos certeza que a inspiração vem do livro, mas quantas Bibianas existem no mundo? Edson Dutra é simplesmente um dos melhores instrumentistas desse canto do país – e olha que, levando em conta que ele toca acordeon, a disputa não é pouca, hein?; além disso, seu grupo, Os Serranos, é um dos mais importantes do estado. Ou seja, seria tão pecado deixar eles de fora que eu mesma coloquei Por um sorriso Bibiana no YouTube para poder compartilhar aqui com vocês. Ao ouvir a música dá quase para visualizar Rodrigo ansiando por dançar com Bibiana, não dá? Ou será que eu sou fascinada demais por todos os envolvidos (personagens e músicos) e estou sendo muito imaginativa? Bom, melhor ouvir a música e deixar cada um ter suas próprias divagações.

E, para fechar, o resumo total da obra. Ou ao menos d’O Continente (assim como os diretores de televisão e cinema, os músicos não acharam muito inspiração no resto da trilogia – só eu mesmo que sou apaixonada por O arquipélago, último livro da série). Marco Aurélio Vasconcellos fez uma canção tão linda, mas tão linda, que bate uma saudade e dá vontade de sair correndo e começar a reler O tempo e o vento. É quase impossível parar de ouvir essa música. Ninguém jamais fará uma síntese tão bonita de uma obra tão extensa e com tantas perspectivas diferentes. 
E aí, não deu vontade de reler todos os volumes? Ou, se tu não leu, não deu vontade de ler? Espero que tenha dado porque, ó, é leitura obrigatória para todos os brasileiros (já que, como sabemos, o Rio Grande do Sul faz parte do Brasil e, sendo assim, a história do Rio Grando do Sul é a história do Brasil). 

Provavelmente deixei outras tantas canções e obras influenciadas pel’O Tempo e o Vento de fora, então, se tu lembrar de algo mais, compartilha nos comentários. Quem sabe não rola uma Parte II?

Ana Seerig

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