Definitivamente, este novo trabalho do diretor Paul Thomas Anderson (Boogie Nights, 1997), é como o Teste de Rorschach: cada um vê algo diferente e vou listar aqui as minhas percepções e porque o resultado final não me impactou tanto.
Aclamado como “o longa que os republicanos irão odiar”, Uma Batalha Após a Outra satiriza os dois lados. Tanto a direita quanto a esquerda revolucionária são mostrados como os dois extremos que se merecem, com toda a caricatura possível. De um lado, o coronel Lockjaw (Sean Penn, em seu papel mais comentado desde Os Últimos Passos de um Homem, de 1995), é o total estereótipo do militar nazi-facista com suas frases de efeito e caras & bocas. No mundo real muitos são exatamente assim, porém eu esperava uma abordagem menos óbvia do diretor que entregou Magnólia (1999) e Sangue Negro, de 2007.
Já a parte esquerda segue com a mesma pegada de viés cômico: Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio, reciclando maneirismos anteriores e parecendo um Jack Nicholson muito louco) é o metido a revolucionário que adere ao movimento por amor a Perfídia Beverly Hills (a cantora Teyana Taylor mostrando que também é do ramo da atuação), mas que não demonstra tanta afinidade a causa. Enquanto Perfídia é capaz de atitudes questionáveis em nome de seus ideais, Bob é o lado passivo da relação, deslumbrado com o grupo French 75, porém relapso com as regras e sem atitudes.
O embate entre os três parece que será o motor da trama, mas a rota é recalculada quando entra em cena Willa, a filha do casal, interpretada pela promissora estreante Chase Infiniti. O que até então era sobre política, vira a chave para uma história sobre paternidade com pinceladas de revolução e um plot inesperado, que muda muita coisa.
Eu esperava ver muito mais do grupo French 75 e não apenas breves passagens. Uma pena.
Toda essa reverência de crítica e público carece de um olhar mais apurado, UBAAO não é esta alardeada obra-prima por um único motivo: a revolução jamais virá dos EUA. Jamais. Eles elegeram Donald Trump duas vezes.
Escalar o ativista de iate Leonardo DiCaprio pra ser um guerrilheiro esquerdista parece de caso pensado, assim como a cantora de R&B Teyana Taylor pra ser a empoderada desbravadora e o lambe botas do Zelensky, Sean Penn, pra ser o asqueroso militar. O mesmo vale pro carismático Benicio Del Toro no papel do carismático Sensei Sergio, amigo do protagonista. A única exceção é Regina Hall, em desempenho assombroso, que consegue fazer milagre com seus apenas 8 minutos em quase 3 horas de filme. Tida só como comediante após atuar em cinco filmes da franquia Todo Mundo em Pânico, Regina teve seus primeiros elogios da crítica em Viagem das Garotas (2017), O Ódio que Você Semeia (2018) e Fantasmas do Passado (2022), os dois últimos com personagens dramáticas. É uma surpresa vê-la como uma das guerrilheiras de poucas palavras e de forte presença cênica, totalmente oposta a escrachada Brenda dos filmes sátira do terror Pânico. O take que mostra seu rosto em close e seu olhar aterrorizado, iluminados pela claridade da fogueira, diz muito mais que frases de efeito da lacrolândia. Pena que ela tenha tão pouco tempo em cena pra justificar uma indicação ao Oscar, pois de todo o elenco é sem dúvida a que mais merece.
A Perfídia de Teyana Taylor me lembrou o Juan de Mahershala Ali em Moonlight (2016): tem uma passagem marcante no início e sai de cena abruptamente, nos deixando a espera de uma volta a qualquer momento. Já Chase Infiniti, está ok, seu desempenho se equivale ao de qualquer atriz jovem que faça novela no Brasil. Tem futuro em Hollywood, mas já vi estréias melhores, como por exemplo Lupita Nyong’o em 12 Anos de Escravidão (2013) que lhe valeu um merecido Oscar de atriz coadjuvante. Chase foi inscrita na categoria de atriz principal quando claramente é uma coadjuvante.
Outro detalhe que me incomoda é a desnecessária longa duração que parece ter virado tendência. Noventa minutos ou um pouco mais sempre foram o suficiente pra contar uma boa história e, neste caso, uns bons cortes ajudariam muito. Não que a minutagem pese tanto, o problema é o roteiro com pouco recheio.
Uma Batalha Após a Outra carece de mais ousadia, menos clichês e um hype sincero. A tal cena da perseguição de carros na estrada não chega nem perto da clássica cena de Operação França (1971), eletrizante até hoje. Seu final com algumas pontas soltas (sem contar os furos no roteiro e algumas passagens confusas) apontam para uma futura continuação, porém se acontecer, há que subir muito o nível das coisas todas.
Orçado em absurdos 200 milhões de dólares, foi um fracasso de bilheteria e mal se pagou. Com previsão de mais de 10 indicações ao Oscar, deve ser relançado nos cinemas e até lá, irá faturando um pouco no streaming. PTA nunca errou desse jeito e será consagrado pelo seu filme mais chato.
FICHA TÉCNICA
Título: Uma Batalha Após A Outra
Título Original: One Battle After Another
Diretor: Paul Thomas Anderson
Data de lançamento: 25 de setembro de 2025
Warner Bros. Pictures
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Que pena que o filme não emplacou para você.
Boa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia