O Refúgio Atômico [Crítica]

Os criadores de La Casa de Papel me fizeram, mais uma vez, torcer por criminosos, desta vez em O Refúgio Atômico, disponível na Netflix! Porém, vale ressaltar que a série está longe de alcançar o impacto da história do assalto à Casa da Moeda, pelo menos nesta primeira temporada. E se torci pelos bandidos, foi muito mais pela chatice das vítimas do que pelo carisma dos vilões.

A trama começa com Max (Pau Simón), condenado por dirigir embriagado e causar a morte do amor de sua vida. Em poucos minutos descobrimos que, após um período autodestrutivo, ele consegue dar a volta por cima na prisão. Max é filho de uma família muito rica que acaba caindo em um golpe extremamente bem elaborado: diversos bilionários acreditam que o mundo está em guerra nuclear e se abrigam em um bunker luxuoso. Rafael (Carlos Santos), pai de Max, consegue a liberação do filho da cadeia, e toda a família segue para o refúgio. O problema é que, no mesmo bunker, está a família da namorada falecida de Max, que guarda, naturalmente, rancor do protagonista.

Assim, somos apresentados à família Varela, formada por Rafael, Frida (Natalia Verbeke), Max e a avó Victoria (Montse Guallar), e à família Falcón, composta por Guillermo (Joaquín Furriel), sua filha Asia (Alícia Falcó) e sua atual esposa Mimi (Agustina Bisio). Todos, cada um à sua maneira, são intragáveis. Rafael é um homem covarde que, mesmo ao descobrir a traição da esposa, insiste em salvar o casamento; Frida é uma mãe péssima, fútil e egoísta; e Victoria consegue ser ainda pior, assediando Mimi na tentativa de conquistá-la. Já do outro lado, Guillermo apresenta claros traços sociopatas: frio, manipulador e calculista. Mimi é uma vítima sonsa, enquanto Asia é extremamente insuportável. Desde o início fica evidente sua paixão por Max, construída de forma bastante adolescente e previsível.

Com vítimas tão questionáveis, fica fácil torcer para o grupo de criminosos liderados por Minerva (Miren Ibarguren). Ela e o irmão arquitetam o plano de manter os ricos confinados e, com a ajuda de uma inteligência artificial, iniciam outra operação para roubar suas fortunas, tendo Guillermo como alvo principal. O que Minerva não previa era que o drama familiar iria atrapalhar seus planos.


Não considerei um erro a série revelar logo no início que o apocalipse nuclear não passa de uma farsa. O que realmente falha no roteiro são os exageros melodramáticos e a evolução pobre dos personagens. Ao contrário de La Casa de Papel, aqui os golpistas não são bem explorados e quase todos carecem de carisma. Em muitos momentos, fica difícil se importar com qualquer um deles. Ainda assim, a trama, mesmo com seus excessos, ganha fôlego na reta final com o golpe fora do bunker em andamento, e confesso que fiquei curiosa com a revelação do amante de Frida.

Toda série de um criador de sucesso sofre inevitáveis comparações, e aqui não foi diferente. O Refúgio Atômico tem várias imperfeições, mas também apresenta boas ideias, com elenco e consegue se recuperar no desfecho, criando expectativa para uma segunda temporada. Recomendo!

Michele Lima

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