Depois da também francesa Julia Ducournau, Coralie Fargeat é a mais nova herdeira do diretor David Cronenberg a levantar a coroa.
A Substância, um body horror que não se via desde Titane (2021), causou furor no Festival de Cannes e saiu de lá com o prêmio de melhor roteiro. Entusiasmados como quem acabou de ver o melhor filme do gênero desde A Mosca (1986), críticos já colocam A Substância como um dos melhores filmes do ano e apostam em premiações importantes como o Globo de Ouro, o SAG e até o Oscar. Não é pra tanto.
Acompanhamos a tortuosa descida às profundezas de Elizabeth Sparkle (Demi Moore, impecável) uma atriz oscarizada e com direito a estrela na calçada da fama que ao completar 50 anos de idade, é demitida de seu único emprego na tv pelo asqueroso executivo Harvey (Dennis Quaid, ótimo), onde ensinava aulas de aeróbica ao estilo de Jane Fonda. O nome Harvey parece ser uma “homenagem” a outro asqueroso da vida real, o Weinstein.
Ao ser hospitalizada após sofrer um acidente de carro ao ver seu cartaz sendo retirado de um outdoor, ela recebe de um enfermeiro a indicação de uma substância que gera uma versão melhor de si mesma através de um processo de replicação celular.
Detalhe: Elizabeth nunca paga pelo tal fluído. Assim nasce Sue (Margaret Qualley, muito bem) sua “eu” mais jovem, mais bonita e mais feroz, que é imediatamente contratada e deve permanecer no mundo por até 7 dias num esquema de revezamento que não pode ser burlado. Caso isso aconteça, ambas são penalizadas e sem reversão.
Coralie Fargeat, do razoável Vingança (2017), filma muito e conduz bem a narrativa até um determinado momento, depois dá uma virada de chave e o que era um sci-fi de horror descamba para uma comédia involuntária trash com ares camp ecoados lá dos anos 80, conscientemente.
Depois do trigésimo close na bunda da Margaret Qualley, o que parecia a sexualização da personagem (ainda que inserida dentro do contexto) se transforma em sátira e o que para muitos pode vir a ser uma abordagem com viés feminista, na verdade tem o efeito rebote – o que causaria uma celeuma estratosférica se o roteiro e a direção fossem de um homem.
Demi Moore, em corajosa atuação, tem em mãos o que pode ser considerado o melhor e mais difícil papel de sua carreira. Se em Ghost (1990) seus olhos marejaram sem esforço algum e em Até o Limite da Honra (1997) ela raspou a cabeça e fez flexões com um braço só, aqui ela ajoelha no milho e se entrega sem pudor. Aparece nua várias vezes e atua muito bem debaixo de maquiagem pesada. Margaret Qualley já pára em pé sozinha e não é mais apenas a bela filha de Andie MacDowell. Ela também entrega muito e faz com Demi a parceria cinematográfica mais pungente de 2024.
Só que infelizmente a diretora Coralie pesa a mão e peca pelo excesso – a expressão “menos é mais” cabe muito bem aqui. A estética clean/futurista/chic/grotesca atira pra todos os lados e onde acertar é lucro. Às vezes funciona e às vezes arranca risos quando não era esse o intuito. Sem medo do gore extremo, ela capricha nos enquadramentos e, por ironia, toda aquela dinâmica inicial que explicava rápido e bem a parte funcional da substância, sai dos trilhos e faz a trama se alongar além do necessário. E ao aceitarmos a proposta inicial da duplicação de corpos, tudo por ser possível – inclusive um verdadeiro festival de vísceras.
As referências são inúmeras, e vão desde de A Malvada (1950), passando por O que terá acontecido a Baby Jane? (1962), O Homem Elefante (1980), Videodrome (1983), A Mosca (1986), Cidade dos Sonhos (2001) e por aí vai.
Sem viés político, A Substância joga na tela o que já sabemos faz tempo: no showbizz, uma mulher aos 50 anos já é considerada 3° idade e suas chances minguam até sumirem por completo. Apelar para procedimentos estéticos duvidosos pode piorar a situação e na maioria das vezes é o que acontece. Não é elevado à enésima potência como acontece aqui, mas a bizarrice quase se equivale….
FICHA TÉCNICA
Título: A Substância
Título Original: The Substance
Direção: Coralie Fargeat
Data de Lançamento: 19 de setembro de 2024
Imagem Filmes
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