Na sala dos espelhos [Resenha Literária]

Sendo autora de A origem do mundo – Uma história cultural da vagina, ou a vulva vs. o patriarcado (2018) e A rosa mais vermelha desabrocha (2020), já era de se esperar que Liv Strömquist nos traria em Na sala dos espelhos uma ótima reflexão. É um livro que li com deleite e calma, digerindo cada soco que levei com essa leitura.

A HQ é um debate inteligente e perspicaz sobre a ditadura da imagem da mulher, uma reflexão sobre o quanto sofremos e alimentamos o ideal da mulher bonita. Para isso, a autora usa figuras conhecidas para exemplificar suas ideias. Temos Kim Kardashian, Kylie Jenner, Marilyn Monroe, rainhas e imperatrizes famosas, as madrastas dos contos de fadas, etc. E com esses personagens a escrita de Strömquist se aproxima do nosso cotidiano, trazendo desde referências acadêmicas até falas corriqueiras da nossa vida e da redes coisas. Aliás, a foto ganha muita relevância nesta análise.

A obra é dividida em vários temas, começa com as redes sociais, a competição que elas geram e percorre o desejo mimético que temos que nos faz sofrer para tentar ser igual aos demais. A autora também dá exemplos bíblicos e mostra como a ideia do casamento e até do amor mudou ao longo dos séculos. Por exemplo, o casamento se torna mais frágil atualmente porque está mais ligado aos sentimentos humanos e sentimentos mudam, o que pode nos levar a um estado permanente de insegurança e incertezas.


Outro tema bem abordado pela autora é a relação da sexualidade e a sociedade de consumo em que vivemos. As vendas estão sempre relacionadas a um certo padrão de beleza.

Também me chamou bastante atenção o paralelo que Liv Strömquist fez entre Marylin Monroe e Kim Kardashian. A atriz, por 3 dias seguidos, fez um ensaio fotográfico com um fotógrafo lascivo que não lhe permitiu escolher as fotos da publicação. Já Kim Kardashian com seu livro de fotos tirado por ela mesma.

Quando chega na parte dos contos de fadas, o que já era bem amargo de refletir, fica relativamente pior com a emulação que a autora faz. Vemos várias senhoras como madrastas de contos em monólogos sobre a velhice pela perspectiva feminina, o mundo não é gentil com senhoras mulheres, nem nós somos com nós mesmas.

Outro ponto interessante é a história da Imperatriz Sissi, escrava da própria beleza. Aqui o exemplo é usado para debater a questão do público e privado nas redes sociais, quando até a autenticidade se mostra um mercado, uma prisão para qualquer um.

Na sala dos espelhos é um livro que me deixou melancólica em alguns pontos, sobre o nosso sofrimento em relação a beleza que é efêmera e o quanto nós mulheres somos vítimas. É um livro extremamente necessário! Recomendo!

FICHA TÉCNICA

Título: Na sala dos espelhos
Autora: Liv Strömquist
Quadrinhos na Cia/Companhia das Letras

Michele Lima

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