Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre [Crítica do Filme]

Belo solo da estreante Sidney Flannigan, talentosa atriz de 31 anos que interpreta Autumn, uma adolescente de 17 anos que se descobre grávida e decide abortar.
Autumn é calada, introspectiva e mesmo assim não consegue esconder que algo está muito errado em sua vida. Ela não diz, mas fica claro que foi abusada pelo padrasto asqueroso e que a relaxada da mãe até sabe, mas acoberta.
Sozinha, porém dotada de uma coragem admirável, ela junta o pouco de dinheiro que ganha trabalhando como caixa de supermercado e vai até Nova York numa clínica de aborto legalizada. Uma prima a acompanha e mesmo com tudo acontecendo com surpreendente tranquilidade, a jornada de Autumn é angustiante.
Os planos fechados da diretora e roteirista Eliza Hittman, tornam ainda mais sufocante a saga da protagonista defendida com muita segurança por Sidney Flanigan. A cena que dá o título ao filme e dilacerante: durante uma entrevista pré-aborto, Autumn só pode responder Nunca, Raramente, As vezes, Sempre. O que frisa a impressão inicial de que Autumn é uma menina muito sofrida, vítima de violência doméstica, abusos sexuais e estupro. Pobre, com a vida que leva e com a família que tem, sua certeza em fazer o aborto também é a nossa.
Hittman trata sua protagonista com muito carinho, sem moralismos. Ela é destemida apesar da pouca idade e sua interpretação sutil é a cereja deste portentoso bolo. Acompanhamos tudo de pertinho, como se estivéssemos inseridos na história, conduzida sem pressa, desarmando qualquer julgamento ou opinião contrária. No semblante da atriz/personagem, o desassossego é latente, porque mundo em que ela vive sempre lhe será hostil, com ou sem gravidez, com ou sem aborto.
O tom quase documental e cru da narrativa é acertado, deixando ainda mais marcante este doloroso, porém necessário recorte da vida de uma adolescente tentando sobreviver num mundo machista regido pelo patriarcado.
FICHA TÉCNICA
Título: Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Título Original: Never Rarely Sometimes Always
Direção: Eliza Hittman
Data de lançamento nas plataformas digitais: 19 de novembro de 2020

Italo Morelli Jr. 

5 thoughts on “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre [Crítica do Filme]

  • 28 de janeiro de 2021 em 13:24
    Permalink

    Oi Italo,

    Imagino quantas meninas sofrem e já não sofreram essa mesma situação no mundo todo.
    O filme parece ser bem intenso e cheio de sentimentos para o espectador.
    Dica anotada.

    Bjs
    https://diariodoslivrosblog.blogspot.com/

    Resposta
  • 28 de janeiro de 2021 em 14:29
    Permalink

    Pela resenha, posso imaginar como é doloroso a situação apresentada no filme. Particularmente eu não vejo filmes no estilo porque acho mais pesado, mas é bem um retrato do que acontece.

    Abraço

    Imersão Literária

    Resposta
  • 28 de janeiro de 2021 em 18:31
    Permalink

    Parece ser um filme denso e pesado. Fiquei curioso em assistir. É tão bom quando a realidade humana é retratada nas produções né?

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    Resposta
  • 28 de janeiro de 2021 em 20:01
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    Olá, Ítalo.
    O enredo lembra da história do livro Desgrávida. Mas esse pelo jeito é muito mais pesado. Por isso não sei se assistiria.

    Prefácio

    Resposta
  • 29 de janeiro de 2021 em 02:30
    Permalink

    Oi Ítalo, tudo bem?
    Assunto pesado esse né. Muita gente passa por situações iguais e semelhantes e a variedade de opiniões sobre o assunto chega a dar medo.
    Acho que vale a pena conferir.
    Abraços!

    Quanto Mais Livros Melhor

    Resposta

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