A Voz Suprema do Blues [Crítica do Filme]

Último filme do saudoso Chadwick Boseman, numa das interpretações mais explosivas dos últimos anos, A Voz Suprema do Blues gira em torno da figura lendária de Ma Rainey (Viola Davis) uma das maiores cantoras de blues de todos os tempos. Baseado na peça teatral do dramaturgo August Wilson, o filme mostra um dia de gravação em um estúdio de Chicago em meados de 1927.
Lá, Ma Rainey (Viola Davis, estupenda e forte candidata ao Oscar de melhor atriz) e sua banda estão prontos para gravar algumas canções. Porém no estúdio, já terrivelmente quente pela falta de ventilador, o ambicioso trompetista Levee (Chadwick Boseman, explosivo e que deve levar merecidamente um Oscar póstumo) entra em conflito o tempo todo com a banda (os sensacionais Colman Domingo, Glynn Turman e Michael Potts), enquanto o dono da gravadora tenta domar a indomável Ma Rainey. Levee quer acelerar o andamento das canções com o pretexto de fazer as pessoas dançarem, enquanto os músicos que acompanham Ma, apenas fazem o que ela manda, já que mesmo juntando todos os artistas da época, ninguém vende mais discos do que ela. Ma Rainey é uma mulher arrogante que não abre mão de vestidos longos e estolas de pele mesmo debaixo de um insuportável calor e mesmo que a deixe constantemente suada e com a maquiagem derretida. Com ouro nos dentes como forma de status, a pioneira do blues namora Dussie Mae (Taylour Paige) e se orgulha de exibi-la, assim como também se orgulha em cantar sobre sua sexualidade, sem disfarces. Além de se intrometer no trabalho de Ma, Levee não se acanha em cortejar Dussie Mae e a tensão no local se torna quase palpável.
Todo o elenco brilha neste que é seguramente um dos melhores filmes de 2020 e mais um acerto da Netflix. A produção de Denzel Washington é caprichada ao extremo e a direção de George C. Wolfe é irretocável. A reconstituição de época é impecável em todos os sentidos e a música é um deleite para os fãs de blues e fãs de Ma Rainey.
Adaptar uma peça de teatro para o cinema nem sempre funciona, mas aqui o resultado final passa longe da armadilha do teatro filmado que poucos diretores sabem fazer.
O claustrofóbico, escuro e sujo espaço onde a banda ensaia e onde acontece vários embates entre Levee e os músicos, também é palco para que Chadwick Boseman brilhe em um monólogo de arrepiar. Quando a ação se passa no amplo e iluminado estúdio, o local parece pequeno para a personalidade gigante de Ma e seus momentos de fúria, por isso merece aplausos também a direção de arte, que é quase um personagem e fundamental para a história.
O que mais encanta em A Voz Suprema do Blues é o altíssimo nível da interpretação de Chadwick Boseman, que visivelmente mais magro e debilitado pelo câncer que o levou, entrega uma performance vulcânica pois provavelmente ele sabia que seria o seu último trabalho.
Inesquecível, merece todos os prêmios possíveis.
Trailer

Italo Morelli Jr.
Na Nossa Estante

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