Do Fundo da Estante: Edward Mãos de Tesoura

Completando 30 anos em 2020, essa simpática fábula é, até o presente momento, o melhor live action de A Bela e a Fera e não há o que discutir. A impecável animação da Disney lançada um ano depois (hoje “cancelada” devido a vários elementos de violência contra a mulher) teve seu live action criticado por ser uma preguiçosa reprodução quadro a quadro, sem uma única inovação sequer – o elenco com pouco ou quase nenhum carisma não colaborou e a animação segue sendo irretocável. Quando se adapta uma obra clássica, espera-se algo que vá além do que imaginamos ou já conhecemos. O diretor Tim Burton que já havia feito história com o primeiro Batman (1989) merece aplausos pela originalidade: aqui a “Bela” é ninguém menos que uma jovem Winona Ryder, a melhor atriz de sua geração e a “Fera” é uma criatura feita em laboratório que possui várias tesouras no lugar das mãos e é vivida por um impecável Johnny Depp.
Sem forçar a barra, essa inusitada história de amor convence de tão bem escrita e dirigida.
Edward Mãos de Tesoura é uma criação inacabada feito por um inventor (Vincent Price, soberbo) que morre antes de finalizar as mãos e que antes colocou provisoriamente várias tesouras no lugar. Então Edward é deixado sozinho na mansão sem qualquer orientação.
Depp tem aqui a melhor interpretação de sua carreira utilizando apenas de expressões faciais para transmitir toda a vulnerabilidade de seu personagem. Encontrado por Peg (Dianne Wiest, perfeita) uma vendedora de Avon que o tira de seu isolamento e o joga em uma sociedade onde tudo é colorido, tudo é friamente calculado e todos são rígidos. Depp segue firme na atuação e nos faz compreender perfeitamente quem é Edward e porque ele se tornou um personagem tão marcante na história do cinema.
Edward vai descobrindo tudo aos poucos, desde sentar a mesa e descobrir texturas e sabores, até saber que mesmo incompleto e estranho em sua aparência, poder ser capaz de nutrir um forte sentimento por Kim (Ryder).
Outra grande sacada do roteiro é mostrar que Edward acaba sendo aceito socialmente por ser um talentoso escultor e eventual cabeleireiro. Ao invés de ser visto apenas como uma criatura, fica com o adjetivo de excêntrico, a exemplo de alguns artistas que possuem uma identidade visual, digamos, exótica.
A ótima maquiagem que transforma Depp num ser esquisito e carismático ao mesmo é um dos trunfos da produção. Nesse conto de fadas gótico, tudo se encaixa muito bem. Tim Burton estava muito inspirado e com o elenco que tinha em mãos, não tinha como dar errado – ainda mais com a ótima trilha sonora de Danny Elfman, que passou a ser seu eventual colaborador.
Se lançado hoje, Edward Mãos de Tesoura teria no mínimo umas 10 indicações ao Oscar e seria mais aclamado do que A Forma da Água, outra competente variação de A Bela e a Fera. Na época conseguiu apenas a indicação a melhor maquiagem, num ano de grandes filmes – perdeu para Dick Tracy e figurou entre os grandes filmes do ano como Os Bons Companheiros, Uma Linda Mulher, Louca Obsessão, Os Imorais, O Reverso da Fortuna, Tempo de Despertar e O Poderoso Chefão 3.
De uma beleza incomum, Edward Mãos de Tesoura é daquelas obras que sobrevivem com o passar dos anos por ter sido feita com muita honestidade e paixão, fogem do trivial e possui inúmeros detalhes que a tornam especial.

FICHA TÉCNICA

Título: Edward Mãos de Tesoura
Título Original: Edward Scissorhands
Direção: Tim Burton
Data de lançamento no Brasil: 24 de maio de 1991
Nota: 4,5/5
Italo Morelli Jr.
Na Nossa Estante

View Comments

  • Oi, Ítalo
    Eu gosto muito desse filme, mas assistia há anos quando passava na televisão e hoje não consigo lembrar muito bem as cenas e os personagens. Só lembro mesmo quando o Edward senta numa cama de água hahaha mas é um clássico que com certeza eu gostaria de rever.
    Beijo!
    http://www.capitulotreze.com.br/

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