Presságio [Resenha do Filme]

Tem um tempo que assisti o longa que foi lançado em continuação à esse chamado Desaparecida. Aqui ele apresentava uma premissa interessante de uma policial que convivia com o trauma de ter a melhor amiga de infância desaparecida. Apesar de vir de uma família abastada, seu senso de justiça e necessidade interior de continuar em sua busca por ela fizeram-na tornar-se uma oficial. Recentemente a Netflix lançou Presságio, um prequel dessa mesma obra, onde acompanhamos o processo de formação da detetive e personagem principal.
Pipa (Luisana Lopilato), nossa protagonista, ainda é uma dessas policiais de viatura, que ficam na rua vigiando algo a mando dos reais investigadores. Tal qual seu antecessor (mas que cronologicamente se apresenta como predecessor) Desaparecida, o filme começa com um caso que é resolvido na mesma cena, dando um pontapé inicial para a trama principal que segue. Serve aqui tão somente para nos (re)apresentar Pipa e nos situar no contexto vivido por essa que quer muito mais do que ser uma mera vigilante das ruas. Uma interessante história de perseguição a um psicopata em série com inclinações religiosas. Daria um belo episódio de Hannibal (a melhor coisa já produzida na história da televisão, sendo um dos melhores já feitos). No entanto, essa narrativa é abandonada de cara, passando-se para um novo caso, o qual Pipa poderá agir mais ativamente. Em paralelo, porém, ela deve investigar o próprio chefe do caso.
Ou seja, três casos em um só. O longa tem três momentos que não necessariamente estão interligados, a não ser pelas pessoas que atravessam por eles. Não é, então, um filme que tem na investigação de um crime principal o fio condutor da tensão e do thriller. Tampouco é sobre a construção de seus personagens e como eles lidam com esses tantos casos. Na realidade, o filme deveria ser, acima de tudo, o processo de formação de Pipa enquanto investigadora.

Apesar de sê-lo também, não o é em sua essência. Por consequência, o filme seria sobre o caso? Poderia. Mas, se há três deles, qual? Presságio não é sobre o psicopata religioso, nem sobre o assassinato, nem sobre o chefe investigado. Tampouco é sobre a formação de Pipa enquanto investigadora. Presságio é tudo isso. E não é nada ao mesmo tempo.
Mas se engana quem pensa que eu achei a obra de todo mal feita. Os erros estão ali. São claros e impedem o bom desenvolvimento da trama. A narrativa se perde entre tantas coisas sobre as quais deseja falar, não sendo enfática em nenhuma delas. Apesar disso, os casos e a forma como as investigações vão tomando contornos de solução se encaixam direitinho. Talvez, até demais. Nenhuma pergunta do espectador fica sem a devida e clara resposta. Para quem gosta de pontas claramente presas, com certeza irão se satisfazer! Só continua perdendo pro Spielberg, lógico (que quase entra no filme para explicar a obra).
Mas os personagens, dessa vez, têm algo a oferecer; são interessantes em relação ao peso do passado que carregam, dos quais não conseguem e nem querem se desvencilhar. Aliás, essa parte da narrativa seria a que mais poderia se aprofundar, levando diretamente ao fantasma carregado e encarnado por Pipa.

Na realidade, pegando o conjunto das duas obras, em especial mesmo esta, a impressão que nos dá é que o projeto inicial era de uma série. Não conseguindo investimento ou apoio para isso, a impressão é que os roteiristas e diretor sintetizaram alguns capítulos em um longa, tentando abraçar todos, deixando faltar alguma coisa pelo meio do caminho
Quem sabe se esses dois longas se tornassem duas temporadas de uma série, o negócio não fluiria bem melhor? Parece que ficaria muito mais interessante. Potencial tem, como fora identificado em seu predecessor (ou sucessor); mas em termos de realização faltou mais, faltou aquela pegada que tanto gostamos nos filmes do gênero.
FICHA TÉCNICA
Título: Presságio
Direção: Alejandro Montiel
Data de Lançamento no Brasil: 25 de maio de 2020
Nota: 3/5
Netflix

Natália Silva

Na Nossa Estante

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