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Dois Papas [Resenha do Filme]

Eu gosto de filme baseados em fatos reais, mas é importante a gente sempre lembrar que é baseado, não exatamente como foi na vida real e o filme Dois Papas, de direção do brasileiro Fernando Meirelles, é um bom exemplo. Muita coisa do longa não aconteceu, mas temos claro que de um lado existiu conservadorismo por parte do Papa Bento XVI, enquanto o Papa Francisco representa uma reforma na Igreja Católica. A dicotomia permeia o filme como recurso narrativo, mas é importante ressaltar que boa parte é mera ficção.
O longa começa com a escolha de Bento XVI (Anthony Hopkins) para ser o novo Papa. Bergoglio (Jonathan Pryce), representava a América do Sul por ser argentino e teve alguns votos, mas perdeu para Ratzinger. Anos passaram e Bergoglio quer se aposentar antes dos 75, exatamente no momento que a Igreja Católica passa por um terrível momento de documentos vazados, expondo o abuso sexual de vários membros da Igreja. Bento acredita que a aposentadoria de Bergoglio vai parecer uma rebeldia e não permite que o cardeal se retire. A conversa dos dois sobre a aposentadoria rende diálogos incríveis, em que mostram claramente o descontamento de Bergoglio com o conservadorismo da Igreja, em que se constrói muitos muros e ignora o inimigo interno.
Bergoglio é descrito como um homem simples, humilde, divertido, apaixonado por futebol e tango, inclusive aparece assobiando uma canção do ABBA. Acredita que a Igreja precisa acolher mais, dialogar mais e ser menos vaidosa. Já Bento XVI se mostra ambicioso pelo papado, conservador, estudioso, uma figura não muito simpática, sem o menor conhecimento da cultura Pop ao contrário de argentino (não que isso seja importante). São protagonistas opostos e isso funciona muito bem no roteiro. Apesar das diferenças, nasce uma amizade interessante entre Ratzinger e Bergoglio.
O forte do longa é sem dúvida os diálogos entre os Papas, as confissões e o lado humano e pecador de cada um. Por meio de flashbacks descobrimos o passado de Bergoglio ligado a ditadura argentina e os motivos que ele tem para não querer aceitar o Papado. Também descobrimos o que pesa na consciência de Ratzinger. A conversa entre eles é tão envolvente que o dificilmente o espectador consegue perceber as horas passado, diálogos hipnotizadores e atuações incríveis de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins que sustentam toda a trama.
O roteiro traz discussões importantes sobre a Igreja Católica, a estrutura hierárquica, ambientes do Vaticano e momentos leves e divertidos. É impagável a cena dos Papas assistindo a Copa do Mundo de 2014! E o longa ainda tem uma excelente trilha sonora.
Sabemos que pouco tem de real na história mostrada, mas também sabemos que não precisa ser verídico para ser bom. Dois Papas é uma ótimo drama, engraçado na medida certa e com atuações brilhantes.

Trailer
FICHA TÉCNICA
Título: Dois Papas
Título Original: The Two Popes
Direção: Fernando Meirelles
Data de Lançamento: 20 de dezembro de 2019
Nota: 4,5/5
Netflix

Michele Lima
Na Nossa Estante

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