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Do Fundo da estante: Seven [Nostalgia]

Parecia impossível fazer um filme policial imerso no horror a altura de O Silêncio dos Inocentes (1991), mas o hoje consagrado David Fincher conseguiu. Em 1995, ele deu ao mundo o espetacular Seven, o filme mais comentado do ano.
Fincher iniciou a carreira dirigindo videoclipes, entre eles Express Yourself e Vogue da Madonna e acumulou mais de 50 títulos antes de estrear em 1992 com o pé direito em seu primeiro longa: o controverso Alien 3.
Controverso porque dividiu os fãs, matou a protagonista (todo mundo já sabe, né?) e deu um rumo inesperado a franquia. Há quem ache ótimo ver uma careca Sigourney Weaver sendo a única mulher num planeta prisão vendo homem a homem ser devorado pelo Xenomorpho e há quem enxergue o longa com um videoclipe esticado com efeitos toscos.
Era de se esperar que, depois de uma década no mundo da MTV, Fincher estivesse imerso nessa estética e fizesse algo parecido em sua primeira empreitada – só não achavam que seria na sagrada franquia Alien.
Existem duas versões com diferenças significativas e hoje, David meio que renega Alien 3. Bobagem! É um bom capítulo da saga, conta com ótimos cenários, movimentos inovadores de câmera e preparou o terreno para o seu trabalho seguinte, um dos melhores filmes da década de 90 e facilmente um dos melhores do gênero na história do cinema.
Exagero? Pois bem;
Uma dupla de detetives, o veterano e sábio Somerset (Morgan Freeman, num dos maiores desempenhos de sua carreira) e o novato e explosivo Mils (Brad Pitt, excelente) precisam capturar o serial killer que mata suas vítimas tendo em base os sete pecados capitais. Cada uma das encenações dos crimes choca pela riqueza de detalhes e originalidade, em meio a cenários e fotografia tão espetaculares que fica difícil não querer tapar os olhos. A cada avanço da trama, o clima angustiante se torna cada vez mais insuportável, pois mesmo detido em determinado momento da história, o maníaco John Doe (Kevin Spacey, soberbo e assustador) continua dando as cartas rumo a conclusão de seu projeto, que é de apresentar os sete crimes da forma mais doentia possível. A conclusão final apoteótica e sórdida ao extremo é feita numa externa durante o dia e num cenário descampado, indo na contramão do já citado O Silêncio dos Inocentes cujo desfecho ocorre em um local claustrofóbico e em total escuridão.
Indicado apenas ao Oscar de melhor montagem (brilhante), Seven merecia inúmeras estatuetas douradas, mas foi injustamente ignorado.
O roteiro de Andrew Kevin Walker é preciso, sem metáforas ou devaneios. Um serial killer não precisa de motivos pra matar e não possui necessariamente um passado de abusos ou sofrimentos. John Doe teve uma idéia e a colocou em prática, com o intuito de mostrar o quão genial podia ser sua maneira de matar. O fato de usar um crime capital para justificar a escolha da vítima, passa a falsa sensação de “castigo católico”, resquícios da inquisição e que deveria ser esquecido ao invés de praticado – punição extrema para o “pecado” parece justificável? Jamais!

Brad Pitt pode ficar agressivo, gritar e chutar cadeiras, mas nada abala a presença firme como rocha de um inspirado Morgan Freeman. A química entre dois funciona e ambos conseguem dar a exata dimensão que seus personagens exigem, mesmo com um Kevin Spacey doentio dominando o filme até quando não está em cena. Gwyneth Paltrow (namorada de Brad Pitt na época) como Tracy, esposa do detetive Mills, tem um papel importante, mesmo pequeno, e no ano seguinte protagonizou o ótimo Emma, certamente sua melhor atuação até hoje.
Com trilha sonora jazzística (Billie Holiday, Charlie Parker e Thelonious Monk), Seven é daqueles filmes que devem ser apresentados as novas gerações, assim como nós fomos apresentados aos filmes clássicos da era de ouro de Hollywood.
É isso. Seven vale ouro.
FICHA TÉCNICA
Título: Seven: Os Sete Crimes Capitais
Título Original: Se7en
Direção: David Fincher
Data de lançamento: 15 de dezembro de 1995
Nota: 5/5

Italo Morelli Jr.

Na Nossa Estante

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