A Boa Filha [Resenha Literária]

O novo thriller de Karin Slaughter, A Boa Filha, é completamente sem escrúpulos. Às vezes, isso significa ter várias páginas contendo detalhes forenses de assassinatos medonhos, estupros selvagens que são soletrados de forma horrível à medida que acontecem e a maior parte está lá a serviço de ser sincero sobre a violência física e gerar nossa simpatia pelas vítimas – ambas atividades valiosas.
A disfunção familiar desempenha um grande papel nesta turbulenta saga, o departamento de polícia é corrupto, os policiais são mal-informados e a maioria dos cidadãos tende à mentalidade ignorante da multidão
Rusty Quinn é o advogado de defesa que quase todo mundo odeia porque defende pessoas acusadas de crimes especialmente desprezíveis. Alguns destes acusados ​​de roubo de carros, pedófilos, sequestradores e estupradores, são inocentes, outros culpados. Rusty acredita que no sistema de justiça até os piores criminosos merecem um julgamento justo. Além disso, ele não confia nos policiais e promotores, muitas vezes por uma boa razão.
A esposa de Rusty, Gamma, é uma cientista brilhante que desistiu de uma carreira em outro lugar para se estabelecer na cidade que ele amou/odiou a vida toda. Na cena de abertura do romance, ambientada em 1989, Gamma é morta a tiros e morre em uma invasão em sua casa, liderada por um caipira local, as duas filhas de Rusty, Charlotte, (chamada Charlie), e Samantha, (chamada Sam), são sequestradas e aterrorizadas pelos invasores. Rusty não está em casa na época, e Sam, que leva meses para se recuperar fisicamente, culpa-o desde aquele dia.
Desde a primeira página, A Boa Filha se diferencia de outros thrillers, com sua trama corajosa e sem barreiras. Como nova leitora de Slaughter, fiquei imediatamente impressionada com o quão dura e obscura sua escrita é – qualidades que eu absolutamente amo. Ela não se esquiva de descrever a violência em detalhes gráficos, mas cada momento de violência é intencional, impulsionando o desenvolvimento do personagem e dando aos leitores investimento em primeira mão em encontrar justiça para as vítimas desses atos horríveis. Sou a primeira pessoa a criticar a violência gratuita na ficção policial, mas no caso deste livro, cada momento violento contribuiu diretamente para a minha compreensão dos personagens da história: suas motivações, suas ansiedades e até mesmo seus hábitos são inextricavelmente amarrados às cenas violentas que Slaughter descreve. Em suma, este livro é sombrio, mas com um propósito.
Devo admitir que fiquei genuinamente surpresa com o quão atordoante esta história é. Em algum ponto do caminho, percebi que este livro seria mais focado no elemento legal da história – seguindo Charlie, uma advogada, quando ela se vê envolvida em um caso que traz de volta lembranças traumáticas de sua infância. É certamente verdade que o histórico jurídico de Charlie se baseia nessa história, mas o livro gasta significativamente mais tempo consubstanciando a família de Charlie do que eu esperava. Leitores que querem um procedimento policial direto ou um verdadeiro thriller legal ficarão melhor em outro lugar – A boa filha é, antes de mais nada, uma história de uma família que luta para superar seu passado sombrio e secreto. Embora esse não seja o tipo de leitura que eu esperava no livro, o desenvolvimento dos personagens rico em história e os flashbacks emocionais e muitas vezes horríveis me deixaram mais concentrada nele.
Falando em desenvolvimento de personagens – é aqui que Karin Slaughter brilha mais do que tudo. Em uma história carregada de violência e com raiva, é preciso um escritor especial para desenvolver dois personagens que, de alguma forma, conseguem equilibrar as arestas afiadas da história com a humanidade frágil. Charlie e Sam, as irmãs no coração da história, saltam da página. Suas peculiaridades, cicatrizes (tanto emocionais quanto físicas) e personalidades são verdadeiras. Slaughter fez um trabalho magnífico dando vida à elas. Nenhum dos personagens poderia ser chamado de “típico”. São singularmente excêntricos, mas a autora os cria de uma maneira que é tão humana que os leitores terão dificuldade em impedir que essas duas mulheres fiquem sob sua pele. O livro pode ser sobre a solução de crimes passados ​​e presentes, mas é impulsionada por seus personagens totalmente únicos e atraentes.
Vale a pena notar que esta história não se desenvolve em progressão linear. A boa filha se desfaz mais como uma cebola, com a autora descascando camada após camada para chegar à verdade em seu núcleo. Essa estrutura de trama funciona maravilhosamente no apoio à natureza dirigida por personagens da história – os leitores são atraídos pela história única e pela vida atual de Charlie e Sam de maneira deliberada e ponderada. Slaughter sabe exatamente quando desistir de algumas informações e quando retê-las, e os leitores ficarão fascinados com a abordagem lenta, mas segura, de desvendar os mistérios do thriller.
Eu odiaria compartilhar muito sobre as formas em que esta história se desenvolve. Muito da intriga deste livro é encontrada nas reviravoltas inesperadas e em camadas que a autora faz, e eu nunca iria querer tirar essa experiência de você! É suficiente dizer que A boa filha, de Karin Slaughter, é um suspense psicológico sombrio, corajoso e angustiante – uma leitura obrigatória para quem gosta de thrillers com uma pitada de horror.
FICHA TÉCNICA
Título: A Boa Filha
Autora: Karin Slaughter
Nota: 4/5
Onde Comprar: Amazon
 

Natália Silva

14 thoughts on “A Boa Filha [Resenha Literária]

  • 24 de outubro de 2018 em 14:52
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    Acho que no momento que estou não leria com certeza esse livro hehehe, acho que me deixaria traumatizada pelo que acontece, pois pelo que você falou, a escrita do autor é forte..

    http://www.vivendosentimentos.com.br

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    • 25 de outubro de 2018 em 00:48
      Permalink

      Oi Monique!! Boa noite!

      Realmente a escrita dela é detalhada!! Pra quem gosta do gênero é ótimo, já para o estômago é meio pesado!! Leitura rica em detalhes!!
      Beijos
      Naty!

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  • 24 de outubro de 2018 em 16:33
    Permalink

    Ao contrário de você, eu amo violência gratuita KKkkk imagina só quando abordada de forma coerente e necessária?
    Naty que livro!!! Mais uma indicação sua que quero forte ler.
    Beijinhos ❤️

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    • 25 de outubro de 2018 em 00:50
      Permalink

      Oi Bia!!!

      Então eu até gosto!! Mas… realmente Karin é completamente transparente, deixa o leitor completamente chocado com o que lê! Tenho certeza que você irá adorar a leitura!!

      Beijos
      Naty!!

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  • 24 de outubro de 2018 em 17:54
    Permalink

    Oi, Natália
    Vi muitos comentários sobre essa obra e eu fico sempre com aquela pulga atrás da orelha, ainda mais com uma resenha tão intensa quanto essa. O problema é que eu mesma não gosto de suspense e dificilmente me veria lendo um.
    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

    Resposta
    • 25 de outubro de 2018 em 00:52
      Permalink

      Olá Miriã!!!

      São livros intensos e cheios de reviravoltas!! Quem sabe um dia você dê uma chance ao gênero!!

      Beijos
      Naty!

      Resposta
  • 24 de outubro de 2018 em 18:57
    Permalink

    Amei sua resenha, confesso que não gosto de nada que envolve terror, mas se gostasse do gênero apostaria nesse livro, mesmo ele se desenvolvendo de forma lenta!

    http://www.kailagarcia.com

    Resposta
    • 25 de outubro de 2018 em 00:54
      Permalink

      Oi Kaila!!

      Obrigada!! Me parece que a autora tem essa característica de muitos detalhes, assim a leitura fica mais arrastada. Com certeza é um livro que recomendo pela maneira que ele foi construído!!

      Beijos
      Naty!!!

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  • 24 de outubro de 2018 em 20:21
    Permalink

    Oi, Natália!
    Eu adoro um bom thriller e esse me chamou a atenção por tudo o que você disse. E gostei muito que você não deu informações demais, chegando ao spoiler, o que eu vejo muito em vários blog.
    E um thriller precisa ter mistério mesmo.
    Adorei a dica, apesar de achar que vou ficar um pouco impressionada com tanta violência, crueldade e descrições detalhadas, hehe.

    Beijooos

    http://www.casosacasoselivros.com

    Resposta
    • 25 de outubro de 2018 em 00:56
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      Olá Teca!! Boa noite!!

      Ahh obrigada!! O mistério é o principal né.. rs.
      É um livro muito rico em detalhes, e pra quem tem uma sensibilidade elevada, vai se sentir incomodado com tamanha violência!! Parece que sentimos na pele tudo o que a autora relata! Nos coloca pra pensar.

      Beijos
      Naty!!

      Resposta
  • 24 de outubro de 2018 em 23:00
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    Oi, Nat!
    Nossa, esse plot das filhas serem sequestradas me lembrou muito o filme Animais Noturnos…
    Beijos
    Balaio de Babados

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    • 25 de outubro de 2018 em 01:01
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      Oi Lu!!

      Nossa, verdade. A história de animais noturnos lembra mesmo, muito bom o livro!!!

      Beijos
      Naty!!!

      Resposta
  • 24 de outubro de 2018 em 23:48
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    Oi Natália, tudo bem? Se a resenha já foi intensa assim, o quanto será o livro?! Apesar de não ser o gênero que me atrai, nem o tipo de história que me cativa, admito que fiquei muito intrigada com esse livro e estou colocando na lista de desejados, mas acho que vai embrulhar meu estômago com tantos detalhes sórdidos de crimes horrendos. O que mais me chamou atenção foi a parte do desenvolvimento legal e forense, eu sou fascinada por isso (claro, é minha formação também, mas acho brilhante quando os escritores exploram essas questões de forma detalhada em livros de ficção).
    Beijos
    http://espiraldelivros.blogspot.com/

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    • 25 de outubro de 2018 em 01:05
      Permalink

      Oi Adri!! Tudo sim, e contigo?

      Eu gosto muito da premissa dos novos thrillers que temos visto, te confesso que fico meio atordoada às vezes com algumas histórias por adentrar nelas!! Esse livro realmente mexe com a gente. Nos coloca pra pensar não só na vida, mas principalmente no mundo atual em que estamos vivendo!!
      Rico em detalhes, e angustiante! Recomendo a leitura! Mas admito, tem que ter estômago!!

      Beijos
      Naty!!

      Resposta

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