Hereditário [Resenha do Filme]

O horror da falida instituição chamada família!
Fui assistir Hereditário com muitas expectativas, afinal o hype em torno dele é muito grande e acreditei que a produtora A24, responsável pelo controverso e bom A Bruxa, fosse surpreender mais uma vez. De início nos é apresentado um pesado drama familiar com toda aquela atmosfera tétrica que indica algo muito estranho no ar – e realmente existe, afinal, trata-se de um filme de gênero terror e sabemos que cedo ou tarde algo de muito ruim irá acontecer. O problema é que desde o início o roteiro nos dá muitas pistas e elas não cessam durante toda a projeção, tirando toda a surpresa do final, bem encenada pra compensar a previsibilidade. Nomes, símbolos, figuras e objetos aparecem o tempo todo e não é difícil juntar tudo e matar a charada – pra mim, isso é péssimo. 
A trama começa com o obituário da mãe de Annie (Toni Collette), seguido pelo funeral e a constatação de que mãe e filha nunca se deram bem devido ao comportamento manipulador e suspeito e estranho da matriarca, que mesmo privada do convívio do neto mais velho Peter (Alex Wolffe), acabou criando a neta caçula Charlie (Milly Shapiro). Em boa parte da história, o filme constrói uma atmosfera sufocante apostando no drama dos abalados personagens, em especial Annie, interpretada com total entrega por Toni Collette. Seu rosto é um verdadeiro tsunami de emoções e expressões faciais ora impressionantes e ora aterrorizantes. Sempre vista em comédias, Toni tem seu melhor desempenho desde O Sexto Sentido, de 1999. Sua personagem tomada pela fragilidade e pela dor da perda após um trágico acontecimento, é uma das mais marcantes do ano. Já o ator Alex Wolffe se esforça bastante num papel difícil e, se não deixa a desejar, também não chega ao nível de Collete.
A grande surpresa fica pela jovem Milly Shapiro. Vinda da Broadway após o sucesso de Matilda e O Grinch, ela faz sua estréia em grande estilo. Sua intrigante personagem aliada ao seu tipo exótico (ela possui displasia cleidocraniana, a mesma do ator Gaten Matarazzo – o Dustin de Stranger Things – e da modelo Melanie Gaydos) é o grande destaque de Hereditário. Suas feições adoráveis que podem ser vistas em fotos e entrevistas, são substituídas por uma expressão facial incômoda, mostrando que ela tem um grande futuro na profissão. O personagem do pai é interpretado pelo veterano Gabriel Byrne, bem escalado mas subaproveitado num personagem apático e quase sem função. Completa o elenco a talentosa Ann Dowd, numa personagem bastante importante.
Com cansativas duas horas e sete minutos de duração, Hereditário não é O Exorcista dessa nova geração. Também não é o novo O Bebê de Rosemary, nem o novo A Profecia e nem o novo O Iluminado, apesar de carregar características de todos esses filmes. O diretor Ari Aster faz sua estréia como roteirista e diretor, capricha no mise-en-scène, construção de climas e enquadramento de câmeras, buscando o arrebatamento do espectador. O problema é que Aster não é Roman Polanski (responsável por O Bebê de Rosemary ser o melhor filme de terror da história há 50 anos) e nem John Carpenter ou Wes Craven. Carpenter mesmo com recursos financeiros limitados, deu um show de criatividade na direção e fez de Halloween o marco zero dos filmes de serial killer, enquanto Wes Craven marcou toda uma geração com Freddy Krugger e seus A Hora do Pesadelo. Vale lembrar também do ótimo Inverno de Sangue em Veneza de Nicolas Roeg, feito em 1973 e tão perturbador quanto sutil. O máximo que Aster consegue é ser um bom encenador, se apropriando de elementos de outros filmes já clássicos e tentando emular todos ao mesmo tempo. Se o roteiro não é o mais original dos últimos anos, pelo menos foge um pouco do marasmo das atuais produções do gênero, evitando que receba o temido rótulo “Filme B”.
Causando riso involuntário (e desnecessário) em algumas cenas, Hereditário até entrega o que promete, mas não está no nível dos filmes já citados pela falta de maturidade do diretor. É seu primeiro filme aos 31 anos e com uma tonelada de referências que os diretores de antigamente não tinham. Ari Aster está mais para o oportunista James Wan, responsável pela saga Invocação do Mal/Annabelle. Tentando não se arriscar muito, a produtora A24 entrega a mesma estrutura de reality show do mal já mostrado em A Bruxa, frustrando um pouco quem esperava algo a mais. Mesmo com uma sequência final particularmente chocante, só o tempo vai dizer se Hereditário é mesmo esse grande filme que aparenta ser ou se é ele mais um fogo de palha que mal será lembrado no futuro.


Se vale a pena ver Hereditário? Vale sim. Quem é fã do gênero e quiser passar por uma experiência angustiante, vai se esbaldar. Mas não se iludam com a possibilidade de Toni Collette concorrer ao Oscar: tanto ela, quanto o filme e o seu diretor correm o sério risco de ter o mesmo futuro de Mãe! – concorrer nas principais categorias do divertido Framboesa de Ouro, assim quem sabe a A24 baixa a bola e não se leva tão a sério. 
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: Hereditário
Título Original: Hereditary
Diretor: Ari Aster
Data de lançamento: 21 de junho
Nota: 3/5

*Conferimos o filme na cabine de imprensa
Italo Morelli

9 thoughts on “Hereditário [Resenha do Filme]

  • 20 de junho de 2018 em 04:24
    Permalink

    Oi, Ítalo

    Rapaz, eu achei A Bruxa bem ruim, então se eu fosse me basear só na informação da produtora eu passaria bem longe.
    Eu adoro o trabalho do James Wan, pois pra me agradar o filme de terror tem que causar sustos divertidos, não gosto de nada muito cult, bocejei praticamente o filme todo em A Bruxa.
    Eu nem sabia do lançamento de Hereditário, dei uma olhada no trailer e acho que curtiria.

    Beijos
    – Tami
    https://www.meuepilogo.com

    Resposta
  • 20 de junho de 2018 em 10:44
    Permalink

    Gostei bastante da sua resenha, dá para ter uma ideia de como é o filme, mas não curto muito o gênero, então não vou assistir rsrs, mas pra quem curte ao ler essa resenha vai se empolgar muito mais 😀

    http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 21 de junho de 2018 em 00:47
    Permalink

    Oi, Italo
    Tudo bem? Eu não curto terror mas eu entendo que inovar e trazer algo diferente do que já tem é difícil, e mesmo com um enredo bom, ás vezes na hora de desenvolver e produzir isso não dá muito certo. Eu particularmente não assistiria porque não gosto, mas é uma pena que não tenha sido um filme bom.
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com/

    Resposta
  • 16 de julho de 2018 em 19:22
    Permalink

    É um dos melhores do seu gênero. Tem protagonistas sólidos e um roteiro diferente, se tem uma coisa que eu não gosto nos filmes de terror atuais, são os screamers, e o que eu mais gosto é o terror psicológico, depois de vê-la você ficara com algo de medo. Os filmes de terror são meus preferidos, é o melhor. Meu favorito é It: A Coisa, acho que o novo Pennywise é muito mais escuro e mais assustador, Bill Skarsgård é o indicado para interpretar o palhaço It . O filme é realmente uma história muito interessante, uma das melhores de Stephen King, o clube dos perdedores é muito divertido e acho que os atores são muito talentosos. Já quero ver a segunda parte.

    Resposta
  • 2 de setembro de 2018 em 22:14
    Permalink

    Achei essa crítica bem equivocada.
    Mãe! desde o princípio dividiu a crítica, coisa que não ocorreu com Hereditário.
    Acredito que Toni Collette tem sim chances fortíssimas de ser indicada às principais premiações. Ela já foi lembrada antes em "O Sexto Sentido" em um papel bem menor.
    Não acho nem um pouco difícil ela ser valorizada pela indiscutivelmente bem feita interpretação nesse filme.

    Resposta
  • 1 de outubro de 2018 em 18:33
    Permalink

    Eu gostei do suspense que há o tempo todo, porém, não entendi nada do filme. Se alguém puder me explicar do que se trata o filme kkkkkkkkk agradeço.

    Resposta
    • 2 de julho de 2019 em 18:39
      Permalink

      Sem que a família soubesse, a matriarca que morreu era líder de uma seita demoníaca. Uma adepta da seita, então, aproxima-se de Annie, filha da matriarca, fingindo querer ajudá-la psicologicamente diante da perda da mãe. Essa adepta, uma senhora com cara de boazinha, convence Annie a fazer um ritual em sua casa para entrar em contato com os entes queridos que morreram. É uma armadilha. O ritual na verdade invoca uma entidade demoníaca que no final possui o corpo do filho de Annie, o qual torna-se o novo líder da seita.

      Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Crítica: A Esposa do meu marido Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+
Crítica: A Esposa do meu marido Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+