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Planeta dos Macacos: A Guerra

Conferimos a Cabine de Imprensa de Planeta dos Macacos: A guerra.
Estreia a esperada terceira parte desta nova franquia de Planeta dos Macacos. A Guerra encerra a primeira trilogia com proporções bíblicas. Chamo de primeira trilogia, pois o filme ao final deixa alguns ganchos e aponta sim para possibilidades futuras, sem antes, no entanto, deixar de concluir satisfatoriamente essa sequência de histórias – precedida por A Origem (Rise of the Planet of the Apes, de 2011) e O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, de 2014).
Caso você não tenha assistido os dois primeiros, não tem problema, porque o terceiro já inicia com uma breve explicação sobreposta na tela, que por escrito, em três parágrafos explica os enredos dos dois filmes anteriores e prepara o espectador para que o está por vir logo a seguir, nas próximas 2h20 de telona.
Na verdade, não há muito do que saber dos filmes anteriores que possa comprometer a experiência deste. O conflito entre Cesar e o macaco revoltoso Koba (tendo seu ápice no segundo filme) é o evento passado mais constantemente retomado, e tudo o que você precisa saber sobre isto fica bastante claro e estabelecido na tela. Sua importância é servir de combustível para as convicções e atitudes do protagonista nesta terceira história, onde vemos um Cesar mais velho e mais maduro. Outras consequências de eventos dos filmes anteriores têm seus efeitos sentidos aqui também (como a família de Cesar), fazendo com que, no geral, essa nova trilogia respeite bem a coesão e continuidade entre as histórias.
É Cesar o centro de tudo nessa história. Em A Guerra temos nele um líder nobre; ao mesmo tempo um profeta da grande diáspora dos macacos (como disse Andy Serkis em coletiva de imprensa: um Moisés), um bode expiatório, um Jesus símio que sangrará pelos pecados tanto da humanidade quanto dos primatas, um revolucionário, um pacifista, e também um experiente e cansado general de guerra.
A trama é toda movimentada por suas decisões. Ela consiste no exército e último grupo de macacos sobreviventes (conhecido por eles) sendo liderado para uma espécie de Éden livre dos humanos. Cesar que declaradamente agora só luta para “proteger os macacos”, não vê sentido na matança e na guerra, e assim não tem qualquer intenção de extinguir a raça humana, nem de se vingar de um humano em particular. Isso muda quando ele experimenta um encontro traumático com o descontrolado Coronel McCullough (Woody Harrelson).
McCullough lidera um destacamento de soldados humanos rebeldes – ao que tudo indica rebelados contra outros humanos (os quais, porém, aparecem apenas cobertos, deixando dúvidas sobre sua real identidade e algum gancho para o futuro da franquia). Ele alimenta em Cesar um espírito de vingança, o que torna o próprio equilibrado líder símio cada vez mais violento e igual a sua antiga contraparte, Koba. Cesar é atormentado por dúvidas e decide seguir uma jornada pessoal de autodescoberta – mas não sem a companhia de seus mais fiéis comparsas (e novos companheiros – como o imperdível ‘Bad Ape’, de Steve Zahn).
Apesar de chamar-se A Guerra, o filme concentra grande parte de sua trama em conflitos emocionais e na metáfora da humanização que macacos antropomorfizados carregam na própria construção de suas personagens. Segundo Andy Serkis, esse jogo de linguagem da narrativa serve como ponto de reflexão para nós mesmos e sobre a nossa compaixão e humanidade – permitindo o olhar por um reflexo dela em outros animais, como uma espécie de espelho de nós mesmos.
Há um claro paradoxo, por exemplo, entre a extrema racionalidade de McCullough e a emotividade exacerbada de Cesar; os dois estão apegados a seus aspectos mais humanos, porém um renega veementemente seu caráter primitivo e outro assume cada vez mais sua “humanidade”. O conflito entre eles, aliás, resolver-se-á de forma interessante, amparada nesse paradoxo: mais pela força (e ironia) do destino do que pelo clássico jogo de forças entre vilão e herói. Antagonista e protagonista aqui funcionam como o yin e o yang um do outro; forças complementares e opostas ao mesmo tempo buscando o equilíbrio, e que só podem coexistir em harmonia no mundo ou estão fadadas a nem existir…
“Guerra” mesmo vemos na espetacular (e infelizmente curta demais) sequência inicial e na penúltima sequência, quando o conflito principal se resolve (a tal guerra “contra” os humanos). A resolução da trama, porém, soa um tanto quanto falsa e é apressada demais. No geral é bem mal construída ao longo do filme, no que tange a expectativa e tensão provocadas no espectador, prometendo um final muito mais apoteótico do que o exagero piegas que ele na verdade oferece.
O próprio clímax é meio “broxado” desde uma frustrante cena de confronto entre antagonista e protagonista no segundo ato do filme (momento que deveria ser crucial para a construção da resolução climática), num diálogo apático, e com motivações falhas e mal explicadas do vilão (o sempre brilhante Woody Harrelson aparece apagado aqui, prejudicado por um papel fraco e diálogos insossos). O roteiro é um problema. As personagens são mal construídas e nem conseguimos (ou temos tempo) de aprofundar a empatia com várias delas. As exceções são o alívio cômico “Bad Ape”, sempre com inserções pontuais e sem ser exaustivo, e para o ótimo trabalho de Andy Serkis como Cesar, cujo, porém, pode ser reputado mais a sua longa experiência no papel do que ao roteiro em si.
A ambientação do clima de guerra na sequência inicial traz fortes reminiscências da Guerra do Vietnã – um exército bem equipado e mais tecnologicamente avançado encontrando dificuldades para derrotar guerrilheiros (os macacos) que conhecem bem melhor o campo de batalha e o utilizam a seu favor. Há, não apenas no início, mas ao longo de toda a história, várias referências a filmes clássicos de guerra do panteão hollywoodiano, especialmente Apocalipse Now (em vários momentos, direta ou indiretamente homenageado – fazendo-se mais necessário assisti-lo do que assistir os dois Planeta dos Macacos anteriores), e também outros, como Platoon, Nascido para Matar ou M.A.S.H..
Colabora bastante para a ambientação também a épica trilha sonora composta por Michael Giacchino (de Lost, das novas trilogias de Jurassic World e Star Trek, de Star Wars: Rogue One e também de alguns filmes da Marvel e várias animações da Pixar) e executada belamente na tela, sempre bem ajustada às imagens num timing perfeito, contida e sem exploração melodramática exagerada, induzindo de forma agradável a imersão do espectador.
Além disso, os efeitos especiais são competentes (e assim deve ser, pois se trata de uma obra mais calcado nisso do que num bom roteiro), mas especificamente o trabalho de CGI (Computer-generated imagery) chama a atenção. É impressionante como um filme live action consegue se sustentar por mais da metade de seu tempo basicamente com situações e personagens construídos digitalmente. E o processo de captura de movimentos (do qual Andy Serkis é pioneiro e um dos principais experts em Hollywood) de fato se prova uma poderosa e intrigante tecnologia a serviço seja da arte, seja da indústria cultural. Vale citar: O 3D é bastante dispensável nesse filme, e não traz diferença alguma na tela além do escurecimento da imagem.
Planeta dos Macacos: A Guerra é um bom entretenimento, com problemas comuns das grandes produções hollywoodianas, mas também com sua maior virtude: divertir a qualquer custo (bem, menos o custo do cinema, que hoje em dia está uma facada, né…). Um aspecto instigante seu, ainda, é trazer referências a franquia clássica (como a garota Nova, ou o filho de Cesar, Cornelius, ou a raça de humanos mutantes), deixando sim aquele “gostinho” de que mais coisa virá por aí e essa nova franquia não se encerra aqui.

Trailer:

FICHA TÉCNICA
Título: Planeta dos Macacos: A guerra
Título Original:
Diretor: Matt Reeves
Data de Lançamento: 03 de julho de 2017
Gui Augusto
Na Nossa Estante

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