Categories: Uncategorized

Original Netflix: Death Note

O mangá e anime de Death Note alcançaram tamanho sucesso dentro e fora do Japão que mesmo 14 anos após seu lançamento conseguem manter uma legião de fãs. O anuncio da Netflix sobre uma releitura ocidental deixou grande parte desses fãs com os dois pés atrás, e com o lançamento na última sexta-feira, o filme se concretizou como uma decepção.
A história original segue Light Yagami a partir do momento em que encontra um caderno nomeado Death Note, possuí o poder de matar aquele que tiver seu nome escrito em suas páginas. Com isso em mente, Light decide se tornar o deus do Novo Mundo, matando bandidos, é adorado por muitos que nomeiam o novo “deus” de Kira, enquanto a polícia cria uma força tarefa liderada pelo jovem excêntrico detetive L. Tsugumi Ohba e Takeshi Obata criaram uma história cheia de questões éticas e psicológicas, um embate intelectual entre L e Light/Kira que faz com que o leitor perca o ar e devore as páginas do mangá, mas tudo isso foi completamente ignorado na produção original Netflix, tornando o filme um suspense frio, digno de bocejos.
O tom de suspense adolescente é apresentado logo nos primeiros minutos com uma cena clássica de High School, líderes de torcida, valentões, nerds e a garota esquisita fumando no meio da quadra, depois apresentada como Mia, na obra original, Misa Amane. Na adaptação Light é apaixonado por Mia, e o romance dos dois passa a ser o foco principal, uma espécie vazia e rasa de Bonnie e Clyde, o casal divide o Death Note, de modo que a garota se mostra muito mais decidida e sangue frio, causando uma inversão de papéis entre o casal original.
O Light de Nat Wolff é extremamente sonso e mimado, com direito a gritinhos e chiliques, definitivamente uma criança brincando de deus. Toda a inteligência e megalomania do personagem original foi perdida, ele é mandado e desmandado pela namorada, quando o espectador já está pedindo pelo amor de tudo que ele morra, finalmente é apresentado um plano um pouco mais elaborado vindo do personagem.
L (Keith Stanfield) apresenta os trejeitos do original, porém não são explicados no filme, transformando o personagem em um doido viciado em doces, não tão inteligente quanto devia, e com sacadas que foram atiradas na cara do espectador por alguns minutos.
Ryuk, interpretado por Willem Dafoe, é a salvação do filme, infelizmente mal explorado, o shinigami, e dono original do Death Note de Light é quem rouba a cena, possuí grande influencia nas ações do personagem, reforçando a imagem do protagonista como uma criança perdida.
Com uma história tão rica em mãos toda a produção ficou perdida, pontos importantes foram ignorados para dar espaço ao besteirol americano. Um exemplo disso é a clássica cena americana dos bailes escolares, claro que aqui não poderia faltar, toda uma produção desnecessária e tempo de tela gasto com um clichê que já estamos cansados de assistir.
O filme não funciona como adaptação e até mesmo como uma releitura para quem não tem conhecimento do original. Os personagens são mal apresentados, com motivações rasas, uma trilha sonora completamente fora de tom, tornando cenas forçadas de drama e câmera lenta em uma palhaçada digna de gargalhadas. Falando em palhaçada, é impossível não citar a quantidade completamente exagerada de regras que foram criadas no filme para o uso de Death Note, tornando hilária a quantidade de brechas existentes nas ações de Light, que acaba se tornando uma marionete do caderno, de Ryuk e Mia.
Como se não fosse o suficiente, apresenta uma mistura muito louca de gêneros, mortes no estilo gore, cheias de sangue e pedaços de carne, com romance adolescente fraco e um suspense água com açúcar de final extremamente tosco.
Uma adaptação ocidental seria possível sim, mas Death Note tentou ser muito e não foi nada, a Netflix deveria focar em suas produções originais, pois errou feio e parece que não irá parar em Death Note ou em só um filme da franquia. Para quem ficou interessado, a história possuí uma trilogia live action japonesa, muito mais do que indicada.
Trailer:
FICHA TÉCNICA
Título: Death Note
Diretor: Adam Wingard
Data do lançamento: 25 de agosto de 2017
Netflix

Rafaela Alves

Na Nossa Estante

View Comments

Share
Published by
Na Nossa Estante

Recent Posts

Tudo em Família [Crítica do Filme]

Não sei se é dívida de jogo, mas Nicole Kidman aceitou fazer trabalhos bem menores…

1 dia ago

Divertida Mente 2 [Crítica]

Eu sei que a Disney não tem entregado seu melhor nos últimos tempos, principalmente em…

3 dias ago

Do Fundo da Estante: Meu Primo Vinny [Crítica]

O Oscar de atriz coadjuvante para Marisa Tomei por Meu primo Vinny (1992) é considerado…

5 dias ago

Um Lugar Silencioso: Dia Um [Crítica do Filme]

A duologia de terror misturada com elementos de ficção científica Um Lugar Silencioso do diretor…

1 semana ago

O Mundo de Sofia em Quadrinhos (Vol.1) [Crítica]

O mundo de Sofia é um clássico da literatura que eu não li e queria…

1 semana ago

Bridgerton – Terceira Temporada- Parte 2 [Crítica]

A segunda parte da terceira temporada de Bridgerton começou com muitas polêmicas! Eu li os…

1 semana ago

Nós usamos cookies para melhorar a sua navegação!