Frankenstein ou o Moderno Prometeu [Resenha Literária]

Sempre tive curiosidade conhecer o livro Frankenstein ou o Moderno Prometeu, da Mary Shelley, muito provavelmente impulsionada pela figura do mostro retratada em muitos filmes de terror. Minha surpresa se deu logo ao início ao saber que o tal mostro não tinha nome e Frankenstein era seu criador.
Victor Frankenstein é um homem bastante curioso, que ao estudar ciências naturais, química, entre outras coisas na sua juventude, descobre o segredo da vida, mais precisamente como fazer algo morto ter vida, o resultado foi desastroso no sentido humano, mas positivo no sentido científico. Seu mostro está vivo, repleto de remendos de pele, capaz de aguentar temperaturas extremas, forte, inteligente e com muitos sentimentos. Capaz de matar e odiar, o mostro nasce com sentimentos generosos, se esconde da sociedade porque todos que o olham sentem aversão, mas ainda assim ajuda quem precisa sempre. Imensamente solitário, ele quer ter amigos, mas só consegue o sentimento de repulsa das pessoas e de seu próprio criador. Ao desistir de lutar por viver em sociedade, o monstro quer vingança e começa a matar pessoas importantes para Victor, até que temos o encontro do criador e da criatura. Victor sente ódio, nojo, medo e asco de sua obra e o monstro, cansado de ser só, quer uma companheira, ou isso, ou voltará a matar e atormentará Victor para sempre. 
Mary Shelley discorre sobre a natureza humana e fiquei o tempo todo me questionando quem seria o verdadeiro monstro! Afinal, a criatura não tem culpa de ser quem é, mas tem culpa pelos seus atos. Se fosse completamente ignorante de suas atitudes seria até possível entendê-lo, mas o monstro sabe que matar é algo ruim e que afeta diretamente a Victor. O que me faz acreditar que a criatura é muito mais humana do que se possa imaginar. Por outro lado, Frankenstein não é o melhor dos homens. O protagonista é condescendente com as atitudes de seu monstro, ele sabe o que a criatura faz, mas deixa que outra pessoa assuma a culpa. Victor sabe que sua obra não vai parar, mas se esconde, foge e evita encarar a todo custo as consequências de seus atos, ou seja, Frankenstein é um covarde. E ainda tenta durante toda a narrativa nos convencer de que ele é a vítima.
Além de todos os questionamentos humanos presentes na obra o que mais me chamou atenção foi a estrutura narrativa. Mary Shelley é uma autora prolixa e isso faz com que a leitura não seja completamente fluída, já que é repleta de parágrafos grandes e devaneios. Entretanto, a narração dentro de uma narração me pareceu interessante. O livro começa com cartas de um homem que encontra e salva Frankenstein e depois disso temos o próprio Victor contando a este homem o que acontece com ele. Já em determinado momento, temos o mostro contando a Victor seus sentimentos e motivações. E embora não seja mesmo uma narrativa fácil, o fato de sair dos padrões me agradou bastante.
É importante ressaltar que Frankenstein é um clássico do terror gótico que aborda diversos temas como religião e a autora é fortemente influenciada pelo poema Paraíso Perdido de John Milton, que fala da criação do homem e sua queda. Não é por menos que a criatura se compara a Adão em alguns momentos. Sem contar o título de Prometeu Moderno, já que Prometeu rouba o fogo dos deuses e é punido por isso. Victor age como fosse Deus ao criar a vida humana e também é punido por isso, embora tente fugir constantemente.
Shelley faz uma excelente crítica à sociedade que em que o feio é sempre escondido, como aconteceu (e ainda acontece) com muitas crianças nascidas com má formação e se tornam párias da sociedade, sem nenhuma ajuda ou empatia. E por trabalhar a questão da ciência, humanidade e religião é que o livro se tornou referência para a ficção científica e para o terror. 


Frankenstein também é uma representação da escola do Romantismo em que temos a natureza como algo sublime, cenários importantes para os protagonistas. Temos um forte lirismo expresso pelos pensamentos de Victor, total subjetividade da narração e o egocentrismo intenso do protagonista, além da dicotomia grotesco e sublime.
A edição da DarkSide® Books traz uma introdução e prefacio riquíssimos sobre a autora e a obra e que não devem ser ignorados devido ao grau de informações interessantes. É na introdução que a gente descobre que a ideia da história surgiu em uma reunião de amigos ao redor de uma lareira em 1816 que encontrava inclusive com o poeta Lorde Byron. Mary é na verdade Mary Wollstonecraft Godwin, filha de um filósofo progressista e uma revolucionaria feminista. A autora era amante, com 18 anos de idade, de Percy Bysshe Shelley, que fugiu com ela largando a mulher grávida e a filha de dois anos.
Além dos fatos intrigantes sobre a origem da história, suas versões e a intenção da autora ao escrevê-la, a obra também conta com 4 contos sobre a imortalidade ao final do livro.
Em suma, Frankenstein é uma história cheia de desdobramentos, que nos instiga a reflexão sobre a natureza humana e a edição da DarkSide® Books é super completa, perfeita para colecionadores e para quem quer conhecer mais sobre esse clássico.
FICHA TÉCNICA
Título: Frankenstein ou o Moderno Prometeu
Autora: Mary Shelley 
Onde Comprar: Amazon

Michele Lima 

13 thoughts on “Frankenstein ou o Moderno Prometeu [Resenha Literária]

  • 12 de maio de 2017 em 11:01
    Permalink

    Oi, Mi!
    Tem muita gente mesmo que acha que Frankenstein é o nome do monstro haahahah eu fui descobrir que não era outro dia.
    Eu tenho uma edição desse livro na estante, mas ainda não li. Mais um dos mil livros que tenho e não li.
    Beijos
    Balaio de Babados

    Resposta
  • 12 de maio de 2017 em 13:14
    Permalink

    Oi!!
    Sinceramente? Esse livro tem uma história igualzinha a da série Penny Dreadful, não sei se já ouviu falar, mas na série o diretor misturou várias histórias, não só do doutor, mas também religião, vampiro, lobisomem, Dorian Gray, enfim.. E no caso do Frankstein, é exatamente isso que mostra na série, ele deu vida novamente para o cara e ele era algo bom, mas o criador o abandonou… Enfim.
    Muito boa série e imagino que como amei o seriado gostarei também do livro!
    Beijão
    http://www.a-toca.com

    Resposta
  • 12 de maio de 2017 em 13:25
    Permalink

    Oi Mi, tudo bem?
    Eu só fui saber que Frankenstein era o nome do criador há bem pouco tempo, acredita? rsrsrs
    As publicações da DarKside são sempre impecáveis, mas o gênero não me apetece, já que sou muito medrosa… Gostei muito da sua resenha. Bjus
    Doces Letras

    Resposta
    • 13 de maio de 2017 em 00:04
      Permalink

      Eu tb Lia e por várias vezes me peguei chamando o monstro de Frankenstein hehehhehee

      Resposta
  • 12 de maio de 2017 em 19:54
    Permalink

    Olá, Michele.
    Sua resenha está ótima. Eu li esse livro tem muito tempo já e confesso que pouco me lembro dele, só lembro que não gostei hehe. Mas era um edição bem feinha, nem se compara a essa da Darkside.

    Prefácio

    Resposta
    • 13 de maio de 2017 em 00:04
      Permalink

      hahahahahahhahaa atenda ao chamado dele hehehhehe

      Resposta
  • 12 de maio de 2017 em 22:15
    Permalink

    Oi Mi,
    A Darkside arrasa no quesito capas 😍.
    Também estou curiosa em ler "Frankenstein" , esse grande classico e a sua resenha ficou otima.A minha vontade de ler essa obra somente aumentou.

    ( Eu fiquei sabendo a pouco tempo que Frankenstein é o nome do criador também.Eu acho que todo mundo faz essa confusão)

    Beijos
    Meu mundinho quase perfeito

    Resposta
  • 13 de maio de 2017 em 21:36
    Permalink

    Olá Mi, tudo bem?
    Adorei a resenha! Não sei muito sobre esse personagem e nunca me interessei em saber mais da história e tal. Entretanto, sua resenha mudou o meu pensamento. Eu percebi que assim como o personagem, a história tem muito mais do que já sabemos.
    Beijos!

    http://excentricagarota.blogspot.com.br

    Resposta

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