Guardiões da Galáxia Vol.2 [Resenha do Filme]

Conferimos a Cabine de Imprensa de Guardiões da Galáxia Vol.2 
Sabe aquela expressão “filme família”? Guardiões da Galáxia 2 traduz literalmente este significado. Primeiro, porque “Família” é o seu grande tema, permeando o filme inteiro e as motivações das personagens; segundo, porque ele tem potencial de agradar a família brasileira – da criança àquele seu avô que dorme vendo TV (ele vai dormir no cinema… mas vai se divertir). E não se resume só a este aspecto, sendo também feito para os fãs.
Desde os eventos do primeiro filme, nossos heróis agora gozam de uma fama que ecoa pelas galáxias: são já comumente chamados de “Guardiões”, Peter Quill é largamente conhecido como “Star-Lord” (Senhor das Estrelas) e, ainda, dispõem da assistência daquela temível Frota Nova (algo sugerido, num diálogo). Eles irrompem o cosmos em sua nave, aproveitando a reputação pra fazer uma grana prestando serviços de proteção aos mais diversos reinos. Porém, parece difícil abandonar as origens como foras-da-lei, e manter positiva a reputação torna-se um desafio à parte; ao mesmo tempo, outra dificuldade é lidarem uns com os outros.
No aprendizado da convivência o grupo descobre ser mais: formam uma verdadeira família (com todas as falhas e desentendimentos que definem uma). Peter Quill e Rocket Raccoon competem feito irmãos briguentos; entre Peter e Gamora há uma tensão romântica que vai evoluindo para algo além de apenas “um lance não verbalizado”; Mantis, nova personagem, é uma órfã solitária e figura melancólica (criada desde ‘larva’ pelo mestre, mentor e “pai adotivo”), cuja encontra no igualmente ingênuo, o lacônico brutamontes Drax, sua alma gêmea; o mercenário Ravager, Yondu (de volta, e com um papel mais profundamente explorado), ora é um tio para Rocket, ora um pai para Quill; e tem o Baby Groot, que faz todo mundo na equipe ser um pouquinho mãe ou pai.  

E sobra problema pras famílias consanguíneas também. O mistério lançado no primeiro filme sobre a paternidade de Peter será enfim resolvido. Gamora e Nebulosa, as irmãs arqui-inimigas, filhas de Thanos (o grande vilão do MCU*, a ser encarado no próximo Vingadores) aprenderão na marra o valor familiar do sangue. Drax é a todo tempo revisitado pelas memórias da família perdida (resgata emocionais momentos com a filha, esposa e pai). E, Ayesha, nova personagem vilanesca (importante nas HQ’s), tem uma peculiar relação maternal (tipo uma abelha rainha) com sua raça, os Soberanos, e com um personagem específico muito esperado pelos fãs (surpresa de cenas pós-créditos).
O conflito de Peter e seus “três pais” é central para o desenvolvimento da trama. Ele terá de revisitar suas memórias mais pueris: relembrar o amor pela mãe e a dor de perdê-la cedo (abertura do primeiro filme), como era ter uma infância sem pai (carência afetiva suprida pela conexão musical – com o ídolo oitentista David Hasselhoff, o “pai imaginário” do pequeno Peter), as circunstâncias mal resolvidas da sua adoção por Yondu (“pai” de criação) e, finalmente, conhecer o pai biológico, confrontando as obscuras e incômodas verdades evocadas por este encontro.
Com tantos conflitos dramáticos, é de se esperar: a produção despende maior tempo sobre um enredo mais discursivo, do que de ação frenética – e padece daquele mal dos blockbusters: diálogos dramáticos genéricos e fracos. A porrada come pra valer nos 30 ou 40 minutos finais, das mais de 2 horas de duração. Nem por isso, porém, o ritmo é enfadonho, arrastado, ou a trama soa como “encheção de linguiça”. Ademais, há pitadas de momentos mais movimentados no decurso da história, como a luta dos créditos iniciais, as peripécias do engenhoso Rocket (mais exploradas aqui), ou Yondu botando a casa abaixo enquanto esbanja todo o poder da sua flecha Yaka, numa fantástica sequência de fuga toda performática (música, cor e movimento em perfeita sincronia) e esteticamente impecável.
O tom é bastante leve e o resultado é hilário, de modo a nem percebermos a falta de uma ação constante. E aqui é onde se ancora a potência discursiva do filme: nos diálogos cômicos. O humor funciona uns 90% do tempo; sempre feitas num timing oportuno há piadas toscas, boas gags, sacadas rápidas e inclusive a malemolência de algumas piadas sujas (para certas audiências). Às vezes se arrisca até em quebras abruptas de ritmo, da ação ou do suspense para o humor. Ao não se levar a sério nem por um minuto e, além disso, ao abusar melhor de uma estética cartunesca, Guardiões da Galáxia Vol.2 termina por ser uma experiência ainda mais divertida do que o anterior. É uma obra notável pela sua completa despretensão.
Chama atenção a qualidade das representações gráficas, figurinos e cenários, sempre remetendo ao visual das HQ’s. Aliás, até alterações radicais do cânone na adaptação, contraditoriamente expressam esse cuidado: tudo inserido de forma tão orgânica na história, que pode agradar até os fãs mais conservadores. Note-se, por exemplo, o primor na caracterização de personagens, como os Watchers (os misteriosos seres cabeçudos apresentados em duas breves cenas – fundamentais no universo Marvel, e provavelmente o serão também no MCU); o Ego, na forma planetária e na humana; a Mantis; ou Ayesha e seus Soberanos.
O time de atores volta o mesmo e refaz o bom trabalho esperado (talvez até mais coeso). O grande destaque vai para a escolha mais do que acertada do icônico Kurt Russel para o papel de principal antagonista, Ego, O Planeta Vivo. Russel é aquela figura cujo um sorriso casual já transmite receio (sabe do que estou falando quem já assistiu “À Prova de Morte”, de Quentin Tarantino), pela carinha natural de psycho insano do sujeito. Ele surge logo na primeira sequência, cheio de referências metalinguísticas ao próprio ator em si, e, claro, à grande personagem dos filmes de Guardiões da Galáxia: a trilha sonora (mais uma vez arrebentando tudo).
A playlist de Peter Quill gravada na sua maravilhosa fita cassete Awesome Mix Vol. 2 volta AWESOME, como era de se esperar. Aliás, a música desempenha um papel narrativo no desenvolvimento da história até maior do que no filme anterior. Sobram easter eggs ao já referido David Hasselhoff (quem canta a música título original, Guardians Inferno). A seleção pode soar estranha à muita gente, e o motivo é explicado pelo próprio diretor, James Gunn: são músicas marcantes de sua própria infância, sendo uma lista muito mais particular do que famosa.
E fique nas poltronas até a tela desligar e o pessoal da limpeza te expulsar, pois há cinco cenas pós-créditos! Segredinhos anteriores, como o casulo de Adam Warlock (esperado desde 2013, quando apareceu no inventário de raridades do Colecionador no pós-créditos de “Thor: Mundo Sombrio”), a menção a Celestiais, Howard The Duck, o cão Cosmo voltam, e há até a introdução de todo um novo núcleo de personagens: a equipe original dos Guardiões das HQ’s (datada de 1969), liderada por Stakar Ogord (o Starhawk, ou Águia Estelar), mesma personagem de Sylvester Stallone. É explosão de cabeças pra fãs que não acaba mais. Ah, e claro, o sempre aguardado cameo de Stan Lee está impagável (e, pela primeira vez num filme do MCU, em dobro!).
Com razão disse Karen Gillan (Nebulosa) numa entrevista que Guardiões da Galáxia 2 está melhor do que o primeiro. Marvel e James Gunn assumiram riscos (mercadologicamente falando) avançando um patamar no flerte com o humor e com a fantasia espacial; e apenas acertaram ao fazer isso. Inauguram um marco no gênero de filmes de super-heróis, conferem um interessante caráter autoral à obra e ainda entregam de maneira satisfatória aos fãs a essência de “Guardiões”: a sua verve despirocada. Depois de anos de parceria comercial, se há um filme-exemplo o qual possa exprimir o sucesso desse encontro entre Disney e a ‘Casa das Ideias’ no cinema, sem dúvida este filme é Guardiões da Galáxia 2.
*MCU é a sigla para o termo oficial em inglês, “Marvel Cinematic Universe”, que pode ser traduzida como “Universo Cinematográfico Marvel”. Refere-se ao novo cânone (“Earth-199999”) criado pelos estúdios Marvel nos cinemas (hoje da Disney) desde 2008, com “Homem de Ferro”, estabelecendo e conectando um universo ficcional próprio do cinema (e, mais tarde, da TV). Em geral exclui-se da linha temporal principal as produções Marvel feitas pelos estúdios Fox e Sony.
Para escutar a playlist oficial CLIQUE AQUI

Trailer:

FICHA TÉCNICA
Título: Guardiões da Galáxia Vol.2
Título Original: Guardians of the Galaxy Vol. 2
Direção: James Gunn (II)
Data do lançamento: 27 de abril de 2017

Gui Augusto

18 thoughts on “Guardiões da Galáxia Vol.2 [Resenha do Filme]

  • 26 de abril de 2017 em 17:07
    Permalink

    Olá, tudo bem? Não conhecia o filme, mas depois de ler sua opinião fiquei curiosa para assisti-lo. O trailer aumentou minha curiosidade!

    Beijos,
    Duas Livreiras

    Resposta
  • 26 de abril de 2017 em 19:18
    Permalink

    Olá, Gui.
    Estou na duvida se assisto ou não. Apesar de ter gostado do primeiro, acabei cochilando um pedaço hehe. E que bom que tem bastante humor poque uma das coisas que gostei no primeiro foi isso.

    Prefácio

    Resposta
  • 26 de abril de 2017 em 21:07
    Permalink

    Oi Gui! Não vi o primeiro ainda, mas com a empolgação do pessoal falando tanto desta sequencia, acho que vou ter que conferir. Que bom que gostou.

    Bjos!! Cida
    Moonlight Books

    Resposta
  • 26 de abril de 2017 em 21:53
    Permalink

    Sou louca pra ver o primeiro filme já que meu pai e meu irmão não param de falar que é maravilhoso e que vão assistir esse haha!

    Beijos!
    Próxima Primavera

    Resposta
  • 26 de abril de 2017 em 23:41
    Permalink

    Oi Gui, tudo bem?
    Adoro quando eles fazem isso, colocam cenas depois dos créditos, por isso sou uma das últimas a levantar, risos…Adorei saber que o foco aqui é família. Estou louca para assistir ainda mais tendo humor equilibrando as cenas sem ação. Sua crítica ficou ótima!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 27 de abril de 2017 em 00:56
    Permalink

    Cinco cenas pós-crédito? Socorro, que maravilha! Eu assisti o primeiro filme e me decepcionei um pouquinho (acho que as expectativas tavam muito altas haha), mas pretendo dar uma chance pro segundo. Adorei a resenha, super completa!
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

    Resposta
  • 27 de abril de 2017 em 01:03
    Permalink

    Oláá! Tudo bem??
    Nossa, não sabia que seria assim focado em família.. Estou louca para ver e sua resenha me deixou ainda mais curiosa, por saber de tudo isso que acontece nas primeiras 1h30 do filme – antes de começar a ação para valer. Eu gosto quando tentam fazer essas mudanças assim.. ainda mais você dizendo que tem bastante humor e nada arrastado.
    e, nossaaaa, cinco cenas pós créditos é muita alegria né? hehe
    e ooowwnn baby groot <3
    beeijo

    http://lecaferouge.blogspot.com.br/

    Resposta
  • 27 de abril de 2017 em 20:18
    Permalink

    Oie Gui =)

    Vou assistir semana que vêm e estou super ansiosa *-* De todas as produções da Marvel.
    Espero gostar tanto como do filme anterior. A única coisa que me assustou são as cinco cenas pós-créditos rs…

    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

    Resposta
  • 27 de abril de 2017 em 20:55
    Permalink

    Oi Gui!
    Quando eu vi essa notícia das 5 cenas pós créditos… Caramba! hahaha
    Eu verei o filme, mais pra dar continuidade a "saga Marvel", mas não é minha história ou personagens preferidos… Nem me fale do próximo Vingadores, ansiedade à mil!
    Parabéns pela crítica!
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

    Resposta
  • 27 de abril de 2017 em 23:48
    Permalink

    QUERO PRA ONTEM, até porque, até hoje esse (digo o primeiro) é o melhor produto da Marvel!

    clebereldridge.blogspot.com.br

    Resposta
  • 28 de abril de 2017 em 04:34
    Permalink

    Oi
    estou louca para assistir o filme e pelo que falou acho que vou gostar, depois de tempinho esperando agora temos o filme e essa foi a primeira reviw que conferi dele.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    Resposta
  • 3 de maio de 2017 em 00:27
    Permalink

    Oi Gui! Sua crítica me fez repensar ver esse filme. Eu tinha ficado pouco empolgada depois de ver o primeiro. Eu gostei do filme, mas não sou muito fã de ação. Eu curti os personagens individualmente no primeiro filme, mas acho que estava faltando algo para eu realmente me envolver com a história. Acho que isso pode ser resolvido nesse novo filme. Gostei de saber com o foco está mais na relação entre os personagens e nas histórias deles.

    beijos
    Psicose da Nina | Instagram
    Colunista no Estante Diagonal

    Resposta

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