Top 5: Meus personagens literários favoritos

Robin Williams encarnando T.S. Garp na adaptação de  “O mundo segundo Garp” (1982), um de seus primeiros filmes

Sou absolutamente incapaz de fazer uma lista de livros favoritos, já que sou apegada a muitos e acredito tanto na alma deles que tenho absoluta certeza que se ofenderiam comigo caso ficassem fora da lista, então prefiro um Top Personagens. Claro que todos eles são de livros que adoro, até porque como não gostar de histórias com personagens tão marcantes pra mim? Ou será o contrário? Será que gosto dos personagens por ficar remoendo repetidas vezes cenas vívidas dos livros? Acho que é meio impossível responder, então vamos para a lista e acabamos com as divagações inúteis.
5. Pierre Bezukhov (Guerra e Paz, de Leon Tolstói)

Enquanto eu acho esse personagem o mais fabuloso da história de Tolstói, meu pai o acha extremamente fraco e, consequentemente, Pierre é um dos temas que jamais canso de discutir com meu pai. Os questionamentos sociais da obra de Tolstói aparecem sempre através de Pierre e, provavelmente por esse hábito de questionar e descobrir o que acontece ao seu redor, eu o acho fantástico e meu pai o acha fraco. Tenho uma queda por personagens introspectivos e o Pierre me ganha justamente por, ao contrário de muitos, ir além da teoria e arriscar a prática, o que o faz errar muito e fazer muita bobagem (tipo casar com uma criatura desprezível). 

Porém, muito antes da personalidade, a história de Pierre me atrai para ele. Filho bastardo de um aristocrata russo, só é assumido pelo pai em seu leito de morte, tendo assim posse das riquezas da família e, mais do que isso, as portas da alta sociedade de Moscou abertas. É Pierre que nos guia por toda a história e nos mostra as ironias de uma sociedade que se acha superior por falar mal de Napoleão em francês, entre outras tantas maravilhas das pessoas de sangue azul.
4. T.S. Garp (O mundo segundo Garp, John Irving)

A foto que ilustra esse post é da adaptação estrelada por Robin Williams, a qual ainda não vi, mas que acredito ter sido culpada por me apresentar ao mundo fabuloso de John Irving. Uma edição com uma imagem do filme na capa foi o que me atraiu, apesar de eu não lembrar de ter ouvido falar do filme ou do livro antes. Talvez a imagem de Robin Williams novinho tenha sido impressionante demais para o meu inconsciente, o fato é que comprei o livro e o li em dois dias, mesmo passando horas olhando feio para o livro e o xingando enormemente. Com fortes tapas na nossa cara, John Irving faz que Garp se torne portador de imensas críticas à nossa sociedade e nos faça admitir nossos monstros preconceituosos. 

T. S. Garp (não existe significado para a sigla) é filho de mãe solteira e sonha em ser escritor. Com uma mãe totalmente alheia ao universo ao seu redor (e aos comentários existentes nele) é criado com toda a liberdade para descobrir e criar suas próprias visões de mundo. Vivendo situações que variam de ridículas a absurdas, Garp nos diz verdades que muitas vezes preferiríamos ignorar, ao mesmo tempo em que faz coisas que jamais cogitaríamos fazer. Um personagem do qual estou com uma saudade imensa, mas ainda não digeri por completo o primeiro encontro e não adquiri coragem para revê-lo cara a cara.
3. Elinor Dashwood (Razão e sensibilidade, Jane Austen)

Provavelmente não é à toa que a única personagem feminina com a qual eu me identifique é criação de Jane Austen. Não há nem como negar que meu amor por Razão e sensibilidade se deve unica e exclusivamente a Elinor, já que ela é a única mulher de romance que segue a vida em vez de ficar se lamentando constantemente por um amor perdido. De uma maneira maravilhosa, Elinor é uma mulher prática e, apesar de ter sentimentos angustiantes dentro dela, não os escancara pra todo mundo, antes prefere transforma-los em energia física e resolver tudo o que estiver ao ser alcance. Ou seja, Elinor é basicamente o meu sonho de evolução. Como não querer ser como ela?

Ao contrário de Elizabeth Bennet, por exemplo, ela não passa muito tempo analisando nada, que dirá tentando entender as atitudes alheias. O que aconteceu, aconteceu, agora vamos seguir adiante que no momento não temos nada a fazer sobre isso. Pronto. Nada de ficar estagnado num mesmo ponto por uma única razão. Não. Vamos adiante. Essa é a mensagem de Elinor pro mundo e, creio eu, estamos precisando entender isso cada vez mais. Quer dizer, se olhássemos menos para o nosso umbigo e percebêssemos a realidade ao nosso redor, certamente nossa sociedade seria um pouco menos pior.
2. Floriano Terra Cambará (O tempo e o vento: O arquipélago, Erico Veríssimo)

O primeiro livro d’O tempo e o vento, O continente, é sempre o mais lembrado, especialmente pelas personalidades inigualáveis de Ana Terra e Capitão Rodrigo Cambará. Apesar das adaptações levarem o nome de toda a trilogia, é apenas a primeira parte adaptada, mas isso é compreensível, já que ela é a mais agitada. O segundo livro, O retrato, conta a vida do Doutor Rodrigo Terra Cambará, bisneto de Bibiana e Rodrigo (o capitão), enquanto o terceiro, O arquipélago, traz Floriano, filho do Dr. Rodrigo, como personagem central.

Escritor completamente desapegado da política defendida por seu pai, Floriano é, segundo alguns, o alter ego de Erico Veríssimo. Criado em meio aos livros, sempre observou tudo de longe e questiona muita coisa ao seu redor, o que complica muito sua relação com seu pai. Responsável pelo enlace final na saga da família Terra Cambará, Floriano volta a Santa Fé para tentar resolver os próprios demônios, começando com a relação paterna. Muito além dos problemas familiares, Veríssimo traz em Floriano muitas questões da sociedade brasileira, especialmente no campo político. A eterna busca por seu papel no mundo faz com que eu me identifique mais com Floriano do que propriamente o admire. É outro personagem do qual tenho imensas saudades, mas receio reencontrar.

1. Conde de La Fère/Athos (trilogia Os três mosqueteiros, Alexandre Dumas, pai)

Meu ídolo maior, exemplo de personalidade e amor eterno. Quem me conhece sabe que analise as pessoas através de personagens de Dumas. Sendo assim, são poucos que defino como Athos, já que isso significaria dizer que estamos de frente com uma pessoa louvável e quem faz do mundo um lugar melhor mesmo sem ser revolucionário. Athos é o coração dos mosqueteiros, o pai que se preocupa com todos e que arrancaria o próprio braço se isso garantisse o bem estar de alguém. Athos esnoba a riqueza por uma decepção e não foge das consequências das suas atitudes, fazendo o possível e impossível para reparar um erro. Athos devia ser símbolo da evolução humana. 

Quando fiz o especial dos Mosqueteiros e defini cada um deles, não sei como não perceberam de primeira meu favoritismo. À primeira vista, podemos citar inúmeros defeitos a ele, mas a cada aventura percebemos o quão grande ele é em seu silêncio. Mede cada uma de suas palavras e respeita todo e qualquer adversário, mas antes de tudo faz o que acredita ser certo. Quantos de nós são assim? Eu estou longe e talvez por isso o admire tanto. Longe de ser perfeito, Athos é um humano possível, real, porém raro.


E aí, alguém compartilha dos meus personagens favoritos? Quais os seus?

Ana Seerig
Na Nossa Estante

View Comments

  • Caramba, da lista inteira, só conhecia a Elinor! Estou impressionada com a quantidade de entrelinhas reflexivas que partem de cada um dos personagens e fiquei louca para conhecer mais de cada, para analisar mais afundo. As análises aqui, como sempre, enriquecedoras e repletas de minúcias fundamentais. Adorei a lista e já deixei nos favoritos, porque foi um dos maiores tesouros que encontrei atualmente. Estava precisando de novidades para revigorar meios reflexivos assim. Oba!

    http://www.semquases.com

  • oi tudo bem?

    sua lista está maravilhosa. Eu tenho Razão e sensibilidade comprei recentemente pela saraiva. Edição bilingue de luxo que estava na promoção, ainda não li. Quero muito Tolstói, os outros não conhecia, mas vou anotar alguns .bjs

    Taynara Mello | Indicar Livros
    http://www.indicarlivros.com

  • Oi Ana, sua linda, tudo bem?
    Nossa, estou impressionada com os livros que citou em sua lista. Nunca consegui ler o clássico Guerra e Paz, eu sempre acabo me esquecendo dele, mas por sua causa, vou colocar ele no topo da lista. Enquanto lia sua postagem, já fui pesquisar na Saraiva o livro dos três mosqueteiros e descobri que a editora tem uma coleção de capa dura desses clássicos. Sabe, eu sou fã da Jane, então, acredito na força de todas as personagens dela, não consigo eleger apenas uma como favorita. Adorei seu top!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

  • Adorei sua explicação do porque não faz sua lista de livros favoritos haha,
    Infelizmente não conheço nenhum dos livros que postou, logo não conheço nenhum personagem, rs
    Mas gostei muito desse livro O Mundo Segundo Garp, parece ser um livro bem motivador.

    Beijos
    Fran
    Achei e Rabisquei

  • Olá, Ana. De todos que citou, eu não conheço sequer o livro! Infelizmente ainda não li nada da Jane Austen. Acredito que todos nós acabamos gostando de suas obras, inclusive de seus personagens tão intensos e humanizados. Como já tinha ouvido falar do livro mas sequer li, vou anotar mais uma vez para ler depois e quem sabe não me apaixonar como você por Elinor.
    Beijo, Visite o Leitora Encantada

  • Lembro que quando comecei a ler crepúsculo li mais por curiosidade mais me apeguei ao livro com o desenvolver do personagem Jacob,queria ver como ia ser o desenrolar do lobo kkkkk já os livros que compro sem medo de arrependimento são os do nickolas sparks o homem que sabe desenvolver desde um sinal a mecha do cabelo a algum ideal quando me vejo estou encantada Beijo adorei sua resenha e querendo muito ler o tempo e o vento!

    http://www.omundodadayse.blogspot.com

Share
Published by
Na Nossa Estante

Recent Posts

Amor Para Recomeçar [Crítica da Série]

Nada como uma série “confort” para assistir um pouquinho todos os dias! Fiquei muito feliz…

7 horas ago

O Sabor da Vida [Crítica do Filme]

Um filme com Juliette Binoche merece ser apreciado, ou neste caso, saboreado! O sabor da…

4 dias ago

Primeiras Impressões: O Incrível Circo Digital

O Incrível Circo Digital estreou na Netflix e eu não sabia nada sobre ele e…

1 semana ago

O Amor Volta Para Casa [Crítica do Dorama]

O amor volta para casa, dorama disponível na Netflix, já demonstrava em sua premissa uma…

2 semanas ago

Do Fundo da Estante: The Crush – Paixão sem Limites

The Crush - Paixão sem Limites é o filme que marca a estreia de Alicia…

2 semanas ago

Coringa: Delírio a Dois [Crítica]

O Coringa de Todd Phillips foi excepcional, principalmente para quem queria ver algo tão primoroso…

2 semanas ago

Nós usamos cookies para melhorar a sua navegação!