Bowie: o último álbum

Nesta semana morreu uma lenda. Não bastasse há duas semanas atrás ter morrido outra, Lemmy (e com ele ter morrido o próprio Motorhead), no dia 10/01 foi-se David Bowie. Um mito para a música, não para um gênero em específico. E mais que isto: um mito das artes. 
Como legado este mestre nos deixou uma vasta obra, criativa, inteligente, autoral e não feita meramente como estratégia de mercado de indústria fonográfica. Enfim, arte na acepção da palavra; arte de verdade. Criou a vida toda o tempo todo alguma coisa que saísse de sua alma. E vendeu para o mundo isso; mostrou para o mundo. Brindou-nos, a nós, seres humanos – pois ele mesmo humano não era – com uma das melhores e maiores obras da história do rock e por que não dizer: da história da música? 
Como último ato, antes de fechar as cortinas de seu show, nos deixou ainda mais uma peça de genialidade: Blackstar. Lançado dois dias antes de morrer, na data de seu aniversário, foi um ato emblemático. Artista da magnitude de Bowie, talvez tenha feito isso como parte da apresentação: lançar um álbum enigmático, impulsionador de uma infinidade de críticas pelo mundo todo o considerando um dos mais difíceis de sua carreira, e depois morrer. Só poderia ser este o último ato do Camaleão. Este showman, este acontecimento, este fenômeno por si só. Este alienígena. 
Lendo as críticas sobre o álbum ao longo da semana que precedeu seu lançamento, já apreciado em pré-lançamento pelos críticos, notei que a maior queixa era: Bowie fez um álbum não pensado em seus fãs, um álbum difícil demais, não deu para entender; ora, chamou músicos de jazz para gravar, mas não há um estilo de jazz definido no álbum; tampouco deu procedência ao seu estilo de soft rock que marcou seus anos tardios, nem revisitou o glam rock de outrora. 
Discordei de todas essas críticas negativas; mas as compreendi. Blackstar é um álbum soturno, sombrio e, de fato, talvez diferente de tudo o que Bowie tenha produzido na vida. Soa quase como um álbum de despedida, um memorial, um testamento. Um último grito, mas motivado por uma espécie de desespero. Era isso: Blackstar, o último ato do artista magnânimo que era Bowie, só poderia ser explicado por sua morte. 
Com a notícia da morte veio a revelação que Bowie já lutava contra um câncer há 18 meses. Como grande parte de sua vida, sempre secreta, mística, hermética, esta era uma informação que, pelo menos eu e creio que grande parcela do público, não sabia. Ouvindo então o álbum na íntegra me veio o esclarecimento: o álbum foi concebido dentro destes 18 meses, estes que sucederam o lançamento do último trabalho, em 2013, mais ao “estilo Bowie”, sem queixas; este álbum tomou parte de 2014 e 2015 inteiro entre pré-produção, gravação e pós; provavelmente grande parte da atmosfera e músicas foram produzidos nessa época. 
David Bowie encerrou sua estada neste planeta (ao qual ele, como alien, estava apenas de visitação) com um álbum sombrio concebido enquanto lutava contra um câncer. Provavelmente enquanto o gerava, sofria, e assim concebeu um álbum difícil, de difícil digestão. Como era um sábio, sabia que morreria (provavelmente até sabia a data), e por isso nos deixou esta última peça de sua arte. Só explicável, só entendível com sua morte. E por isso resolveu morrer dois dias depois de lançá-lo; para dar-nos esta lição, mais este show. Obrigado, David Bowie. O dia que o Homem chegar além da Lua, Marte e Vênus, quem sabe nos reencontremos na imensidão do Cosmos, na sua terra natal, para onde eu tenho certeza que você voltou.
Texto de AugustusAlvius
(na blogosfera também conhecido por Mr. Blue
– ele teve a ousadia de  mudar o nome no perfil dele, mas sempre será Blue pra mim)


O Blue (o nome dele é Guilherme, mas isso nunca vai entrar na minha cabeça) é dos meus primeiros amigos de blogosfera – do tempo em que se divulgava o blog em comunidades do orkut, veja – e eu podia dizer que ele, sem dúvida, é uma das melhores pessoas que o mundo dos blogs me apresentou. Eu poderia dizer isso, mas me nego. A verdade é que ele é um amigo completamente desnaturado. Me deixou sem os posts musicais-educativos dele no Fim de jogo, Baltazar? e além disso me deve uma visita em Caxias desde sempre. Mas eis que ele resolveu escrever um texto no Facebook sobre a morte de David Bowie e me marcou. Como ele me marcou, me dei o direito de compartilhar aqui e ele não pode dizer que não, até porque, assim como Bowie mereceu esse texto, esse texto merecia chegar na blogosfera, certo? Logo abaixo, a playlist do novo álbum com os dois clipes, sendo que o último lançado, Lazarus, já está sendo entendido como a despedida programada desse gênio.

7 thoughts on “Bowie: o último álbum

  • 15 de janeiro de 2016 em 10:51
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    o incrível bowie, fiquei muito triste. um performer. a canção impactante blackstar ele fez pensando no estado islâmico. beijos, pedrita

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  • 15 de janeiro de 2016 em 20:49
    Permalink

    Ainda não tive a oportunidade de conhecer esse último trabalho, mas a fase de vida realmente influencia os trabalhos artísticos. Senti isso lendo "A Caverna" do Saramago.

    Beijos!
    Gatita&Cia.

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  • 15 de janeiro de 2016 em 21:34
    Permalink

    Poxa…uma perda e tanto mesmo. Eu li as matérias nos portais de notícia e fiquei como… triste! Realmente parecia um álbum de despedida. Ai… o negócio é que ele ficou eternizado!

    Te indiquei para uma TAG! Se quiser responder aqui coloco as perguntas…porque não tem como copiar nada lá no meu espaço!
    1-Glam Cinderella- Um livro glamouroso que você comprou somente pela capa
    2-A Madrasta- O pior livro que você leu na vida
    3- As Irmãs más- cite dois livros que maltrataram sua mente
    4- Hora da faxina- As irmãs más e a madrasta saíram para comprar roupas e sapatos para o baile e você ficou em casa cuidando da faxina- Cite um livro "sujo" (com muitos palavrões, conteúdo forte) que você possa ter gostado ou não.
    5-Carruagem de abóbora- Um livro que fez você viajar por diversos lugares
    6-O grande baile- cite um evento que aconteceu em um livro que você queria ter participado
    7-Sapatinho de Cristal- Um livro que você perdeu, vendeu ou trocou e gostaria de ter novamente na estante.
    8-Depois da meia noite- Um livro que você queria muito ler, mas que perdeu o encanto depois de algumas páginas.
    9- O príncipe- um personagem que pisou na bola em um relacionamento, mas depois correu atrás do prejuízo
    10- Fada madrinha- Um livro que tirou você de uma pesada ressaca literária

    Beijos,
    Monólogo de Julieta

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  • 16 de janeiro de 2016 em 13:42
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    Oi, Ana!
    Amei o texto. Simplesmente amei! Descreveu tudo que pensei nesses dias após a morte do Bowie.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  • 19 de janeiro de 2016 em 21:19
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    Oi Ana. Tudo bem???

    Ainda não conheci o último trabalho desse artista tão maravilhoso, mas os outros com toda certeza influenciaram e muito nos meus gostos musicais! Fiquei muito triste com a noticia de sua morte e da luta contra o câncer e, claro, este deve ter influenciado e muito em seu último trabalho. Adorei o texto. Bjoks da Gica.

    umaleitoraaquariana.blogspot.com

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  • 27 de março de 2016 em 22:23
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    Adorei o seu blog, além de você de várias coisas que eu gosto, incluindo o Bowie é tudo LINDO aqui. Lindo mesmo. Já comecei a seguir para não perder mais nada.
    Também tenho um blog e ele é novo, então se poder me puder me ajudar também e ir lá dar uma olhadinha, ficarei muito grata e feliz!
    Beijo. sonaorepareabagunca.blogspot.com

    Resposta

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