AfroHQ: história e cultura afro-brasileira e africana em quadrinhos [HQ]

Um dos blogs que mais tenho gostado de seguir, ler e comentar nos últimos tempos é o “Duas Épocas” da Fernanda Bender, lá ela sempre tem escrito sobre sua coleção – de dar inveja – de quadrinhos dos mais diversos tipos. Inspirada nela resolvi remexer na minha “Caixa de Pandora” literária e apresentar aos leitores da Estante alguns dos meus quadrinhos favoritos a começar por “AfroHQ: história e cultura afro-brasileira e africana em quadrinhos”.
Livro: “AfroHQ: história e cultura afro-brasileira e africana em quadrinhos”
Autores: Amaro Braga, Daniele Jaimes, Roberta Cirne
Editora: Edição do autor com patrocínio da FUNCULTURA, FUNDARPE e Secretária de Cultura do Gorverno do Estado de Pernambuco.
O “AfroHQ: história e cultura afro-brasileira e africana em quadrinhos” é um trabalho produzido por professores pernambucanos com a intensão de contar a história dos homens e mulheres negros e negras que foram trazidos ao Brasil vindos da África na condição de escravos. Fugindo da abordagem tradicional, eles contam a história pelo ponto de vista dos africanos escravizados e não dos portugueses.
No “AfroHQ…” quem narra a história da chegada dos africanos escravizados no Brasil são os orixás, divindades trazidas da África para o Brasil no coração daqueles homens e mulheres e reinventadas nesse Novo Mundo. Os orixás sintetizam forças da natureza e alguns “arquétipos” humanos e até hoje são cultuados por várias pessoas de várias formas, juntos, assim como em outras mitologias como a grega, eles formam uma família.
Bem, a mitologia do candomblé e o culto aos orixás tem sido vitima de preconceito por séculos, tem gente que sente arrepios só de falar. Vejam bem, eu sou cristã, e sinceramente, a parte de qualquer coisa, é preciso dizer: a mitologia do candomblé é riquíssima, interessante e guarda em si uma sabedoria para a qual não podemos virar as costas. Ninguém diz da obra do Rick Riordan: “Ah não vou ler porque esse negocio de mitologia grega-romana é do Diabo!” E no entanto, quantos cristãos foram massacrados por Roma em nome de seus deuses no Coliseu?

A Bíblia me ensinou que devo “analisar tudo e reter o bem”. O que serve para a mim, eu guardo, o que não me serve deixo no canto dele, não preciso hostilizar, diminuir ou machucar o outro ou suas crenças apenas porque são diferentes de minha crença.

Voltando ao assunto do post, no “AfroHQ” Exu, a divindade responsável por administrar/abrir e fechar caminhos na mitologia do candomblé, resolve reunir toda a família dos orixás para um proposito misterioso e o resultado disso é uma longa conversa na qual os irmãos e irmãs, pais e mães, vovó e vovô, contam a história de seus filhos e netos humanos desde os seus primeiros dias de vida na terra ancestral da África até o presente no Brasil, em uma viagem no tempo linda.

Exu
Nanã, vovó dos orixás saca tudo do inicio dos tempos.
De acordo com a ciência a humanidade nasceu na África
Ogum, o guerreiro!
Iansan, a tempestade e os ventos, a mulher guerreira!
Iemanja, mãe de todos, a senhora do mar.
Omolu, divindade das epidemias e curas.

O “AfroHQ” é um quadrinho que tanto serve como material didático para os professores que são obrigados por lei a ensinar “História e Cultura Afro-brasileira” em suas salas de aula, quanto para quem deseja simplesmente uma boa e bela leitura.
Nota:
Ele perdeu 2 Harrys por dois motivos:
1. Os autores, apesar de seus títulos acadêmicos, ignoraram lindamente o detalhe de que “civilização” é um conceito forjado no século XIX cheio de problemas epistemológicos e teóricos. Não gostei de terem empregado o conceito para o Egito Antigo.
2. O nojento, maldito, vil trafico de gente através do qual os homens, mulheres e crianças africanas foram trazidos a colônia portuguesa nas Américas não foi um negócio apenas de portugueses, foi também um comércio orquestrado magistralmente por uma elite negra na África, a qual lucrou horrores com isso. A historiografia do tema é a mais bem desenvolvida no Brasil e é bem clara nesse sentido. Parafraseando Solano Trindade, “negros que escravizam e vendem negros na África não são meus irmãos”, mas eles existiram. Na minha opinião, suas histórias não podem ser apagadas. Aliás, o apagamento desses sujeitos da história tem uma implicação seríssima, ela coloca nós descendentes de negros e negras no incomodo lugar de vitimas, pobres coitados, burros, e eu não gosto de ser vista como vítima. É aquela coisa: “eu odeio todas as coisas que predestinam as pessoas, que as fazem de bobas, que as tornam pouco menos que humanas.”
Jacilene dos Santos (Pandora)

17 thoughts on “AfroHQ: história e cultura afro-brasileira e africana em quadrinhos [HQ]

  • 9 de fevereiro de 2014 em 15:15
    Permalink

    Poxa, eu gostaria muito de ler essa HQ. Parece ser interessante por demais, sô. Contudo, depois de ler suas ressalvas sobre essa HQ, seria muito mais interessante se tivessem incluído o lance de os próprios negros ricos da África terem comercializado os que não tinham boas condições financeiras. Eu não tinha lido sobre isso. O que mais se dissemina é que é tudo culpa dos portugueses, dos brancos, etc. Porém, esse lance de que próprios negros na África facilitavam e lucravam muito com isso, traficando seu povo, não é muito conhecido. Se tiver alguns links em que eu possa ler mais sobre isso, me manda, okay? Você sabe, Pandorita, eu amo história.
    Beijo!

    Sacudindo Palavras

    Resposta
  • 9 de fevereiro de 2014 em 17:10
    Permalink

    Eu gostei da proposta da HQ, só fico em dúvida numa coisa que é justamente essa parte da civilização. No livro do norbet eliais ele explica como se deu o processo civilizador na Europa, e pelo que entendi, era um conceito que só se aplicava mesmo a esse continente, só que hoje em dia, eu sinto que o conceito está muito mais banalizado. Fala-se em civilização brasileira, egípcia, guatemalteca, chinesa, e por aí vai. Será que não há algum debate contmporaneo sobre o conceito? Pq desde que a Antropologia largou as ideias do evolucionismo racial muita coisa vem sendo repensada. Eu não sei de nada, mas era uma coisa que valia ser investigada. E é verdade uma outra coisa que vc disse: os escravos eram vendidos por tribos rivais. acho que eles não se viam como negros, sua identidade estava ligada com a própria tribo. Eles se viam como negros apenas em contato com os brancos (eu acho).

    Resposta
  • 9 de fevereiro de 2014 em 18:29
    Permalink

    Sabe, super me identifiquei com o preconceito com o candomblé, pq eu admito eu tenho preconceito! Mas ao ler a resenha eu passei a olhar de outra forma, não demoníaco, mas sim como uma história qualquer de qualquer mitologia! Achei interessantíssima a HQ e acho essencial a gente começar a conhecer melhor o candomblé e desmistificar esse mito que por anos foi e ainda é alimentado no Brasil!

    Enfim uma ótima resenha Jaci! Adorei mesmo.

    Resposta
  • 9 de fevereiro de 2014 em 22:52
    Permalink

    esse livro desse ser incrível. eu aprendi muito sobre a cultura afro na minissérie tenda dos milagres, preciso ler o livro. eu gosto muito das indicações de livros do programa espelho do lázaro ramos no canal brasil. preciso ler mais sobre a nossa cultura. beijos, pedrita

    Resposta
    • 10 de fevereiro de 2014 em 00:42
      Permalink

      Pedrita, eu nem sabia que o Lazaro tinha um programa! Obrigada por compartilhar a informação eu vou procurar ver se tem on line. Adoro o trabalho dele quero ver o que ele anda fazendo nesse programa.

      Resposta
  • 9 de fevereiro de 2014 em 23:32
    Permalink

    Jaci, adorei o texto. E valorizo o esforço dos profissionais. Sabemos como em nosso país é problemático a produção de material didático por historiadores e professores de história. E isso me fez lembrar também uma série de fotos sobre as divindades do candomblé produzida por um fotógrafo americano (infelizmente me falta o nome). De qualquer forma muito me alegro com esforços ainda que tímidos como este.

    Resposta
    • 10 de fevereiro de 2014 em 00:40
      Permalink

      Obrigada Juliana. Que bom que você gostou!!!

      Resposta
  • 9 de fevereiro de 2014 em 23:45
    Permalink

    Olá!!

    Interessante esse HQ. Venho notado que muitas obras, algumas literárias inclusive, estão sendo transformadas em HQ justamente para incentivar a criança/aluno sobre o tema.

    Gostei da sua segunda observação. É necessário fazer as coisas corretas, e não ensinar o errado as pessoas.

    Pelo que pude entender, este hq é distribuído para alunos não é?

    Até breve!

    Resposta
    • 10 de fevereiro de 2014 em 00:39
      Permalink

      Natalia, pior que não é. Pode servi de material didático caso o professor queira, mas a priore não é distribuído nas escolas.

      Resposta
  • 10 de fevereiro de 2014 em 01:19
    Permalink

    Oi,
    Ah eu comecei a me interessar pela matéria de história, quando justamente o meu Professor começou a ensinar e explicar a história de uma maneira diferente do que sempre fui acostumada, aqui pelo que é umas das formas que consegue prende os alunos para nossa história, uma pena que ainda não é muito utilizado pelos professores..
    Beijos

    Mari – Stories And Advice

    Resposta
  • 11 de fevereiro de 2014 em 18:39
    Permalink

    Muito legal conhecer um novo tipo de HQ
    Fiquei impressionada e gostei do que vi
    Ótima dica
    Beijinhos
    Rizia – Livroterapias

    Resposta
  • 12 de fevereiro de 2014 em 00:55
    Permalink

    Não conhecia, e é uma ideia bem interessante
    Um assunto que não é muito abordado e que faz parte da nossa cultura
    Gostei da dica

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

    Resposta
  • 12 de fevereiro de 2014 em 02:07
    Permalink

    Eu sempre me condeno por nunca ter lido um livro africano (Esse não é um livro africano, mas me fez pensar sobre o assunto) Já li livro Europeu, americano, asiático, mas nunca um livro escrito por um africano com uma história africana… tenho que mudar isso.

    Resposta
  • 29 de julho de 2022 em 14:35
    Permalink

    como faço para comprar a HQ não acho em lugar nenhum

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+ Saiba tudo sobre A Noite das Bruxas!
Dorama: Diva à Deriva Dorama: Nosso Destino 5 doramas dublados no Star+ Saiba tudo sobre A Noite das Bruxas!