Do Fundo Da Estante: Mulher Gato [Crítica do Filme]

Reclamaram tanto de Batman e Robin (1997) e mesmo assim, a DC entregou algo além (no mau sentido): Mulher Gato custou 100 milhões de dólares e arrecadou apenas 82…

Mas que tipo de filme de heroi os estadunidenses acham que merecem? Algo no nível de Dark Knight? Não. Batman e Robin, Mulher Gato, O Filho do Máskara e Alien VS Predador 2 se passam todos no mesmo universo: o universo dos Estados Unidos da América. E fim de papo. Aliás, onde foi mesmo que a Covid matou mais de 1 milhão de habitantes devida a burrice e negligência dos governantes e da população?

Os DCnautas saíram dos cinemas decepcionados porque a Mulher Gato não é Selina Kyle e sim Patience Phillips, funcionária de um departamento de arte cuja empresa de cosméticos pretende lançar um creme facial que causa dependência. Se o uso contínuo for interrompido, o rosto se deteriora – isso é revelado nos primeiros 18 minutos de projeção. Patience é tão linda, tímida e atrapalhada quanto a Selina Kyle de Michelle Pfeiffer, ambas morrem após descobrirem o plano maligno de seus patrões e também ressuscitam com a ajuda de um gato sobrenatural.

Se em Batman – O Retorno (1992), a Mulher Gato da visão gótica/expressionista do diretor Tim Burton segue sendo a melhor de todas as versões cinematográficas (a de Zoe Kravitz em The Batman é muito boa também) essa interpretada por Halle Berry está em outro universo muito louco, onde Gotham City dá lugar a Nova York (o mesmo acontece em Batman – The Dark Knight Rises) e tudo é colorido ao extremo com toda a paleta de cores possível, exagerado, acelerado e zero fan service para deleite dos Marveletes. Esses também tiveram o seu momento “choque de realidade” com Homem Formiga 3.

O diretor francês Pitof, especialista em efeitos especiais para cinema, apresenta uma cidade toda em CGI e faz de Mulher Gato quase um jogo de videogame. Quase porque é impossível conectar um joystick e interferir no controle da ação. 

Sem medo do ridículo, a Gata se desdobra entre roubar uma joalheria, flertar com um policial “galã” que está apaixonado pela Patience e tentar parar a produção do tal creme maligno. A vilã é a ex-modelo e atual empresária do rosto marmorizado Laurel Hedare (Sharon Stone, muito bela), que além de ter uma mente maquiavélica, ainda luta tão bem quanto a Mulher Gato.


Não vi nos cinemas e nem aluguei o DVD. Numa sexta-feira, eu simplesmente cheguei da rua numa noite chuvosa e liguei a TV no SBT, onde vi que Mulher Gato começaria em instantes. Coloquei uns nuggets pra fritar enquanto eu bebia um copo de Coca-Cola, sem me importar com o frio. Entre um nugget e o outro mergulhado no molho tártaro e aos goles de refrigerante, acompanhei cada cena com interesse e um certo entusiasmo. Quem quer um filme seja da Marvel ou da DC que se leve a sério demais? Ainda mais com uma mulher que trabalha de dia e de noite anda pelos telhados vestindo couro preto e máscara. Sem contar o chicote, um dos principais apetrechos das práticas BDSM.

Mulher Gato é um daqueles filmes que a crítica da época adorou falar mal e ainda hoje não o perdoou. Após vinte anos, seria de praxe que algum tipo de redenção fosse acontecer, mas fica evidente que ninguém está interessado. As duas mulheres gatos seguintes agradaram mais, sendo a primeira apresentada em Batman – The Dark Knight Rises (2012) e interpretada por Anne Hathaway numa pegada Carmen Sandiego e em The Batman (2022), uma surpreendente Zoe Kravitz vivendo uma personagem desenvolvida parcialmente. Ela é Selina Kyle, mas num outro contexto, sendo uma garçonete às voltas com a máfia, ladra e que investiga por conta própria o desaparecimento da namorada. Zoe, tal qual Halle Berry, tem um visual que se aproxima das HQs e em nenhum momento apela pro sobrenatural, por isso ela é a melhor desde Michelle Pfeiffer e merece muito um filme solo. Já Halle Berry, que na época ganhou o Framboesa de Ouro de pior atriz e xingou a Warner publicamente, declarou por esses dias que adorou a experiência e que gostaria de dirigir uma continuação. Seu primeiro trabalho atrás da câmeras foi com Ferida (2022), que também protagonizou, no papel de uma lutadora de MMA.

Assim como a continuação de Esquadrão Suicida (2016) superou o original com louvor, Halle pode conseguir a mesma proeza. Mas pra isso, ela precisa de uma produção caprichada e de um roteiro tão afiado quanto as unhas da felina. E chega de vilões do mundo corporativo, interesses amorosos que não levam a nada e excessos de piadas para que não vire um stand up de ação igual Deadpool. Mulher Gato merece uma reavaliação e uma nova chance, afinal, gatos possuem 7 vidas e ainda restam algumas a serem aproveitadas.

Nota: 6/10

FICHA TÉCNICA

Título: Mulher Gato
Título Original: CatWoman
Direção: Pitof
Data de lançamento: 13 de agosto de 2004

 

Italo Morelli Jr.

Na Nossa Estante

Recent Posts

That ’90s Show – Parte 2 [Crítica da Série]

A primeira temporada de That '90s Show na Netflix chegou com uma carga forte de…

7 horas ago

A Substância [Crítica do Filme]

Depois da também francesa Julia Ducournau, Coralie Fargeat é a mais nova herdeira do diretor…

4 dias ago

O Casal Perfeito [Crítica com Spoiler]

O Casal Perfeito é a nova minissérie da Netflix! Com um formato curto e conclusivo,…

6 dias ago

Kaos [Crítica da Série]

Fazia um tempinho que uma série Netflix (que não seja dorama) tenha me deixado tão…

1 semana ago

Miss Night and Day [Crítica do Dorama]

Esperei ansiosamente pelo dorama Miss Night and Day na Netflix e valeu cada minuto de…

2 semanas ago

Tipos de Gentileza – Conheça mais sobre a produção

A parceria do diretor Yorgos Lanthimos e Emma Stone foi um sucesso em Pobres Criaturas!…

3 semanas ago

Nós usamos cookies para melhorar a sua navegação!