Carla Di Bonito é cearense, formada em cinema e jornalismo. Já trabalhou na BBC de Londres, onde vive com os filhos. Atualmente se dedica a carreira de cineasta, tendo feito sua estreia com o curta Friday, Saturday and Sunday, de 2006. Prestes a iniciar o seu primeiro longa baseado em seu premiado curta Luzinete, Carla gentilmente nos cedeu mais uma entrevista, onde faz um balanço de sua carreira cinematográfica e nos atualiza sobre as futuras novidades.
01. Três anos se passaram e o seu curta Luzinete continua firme na carreira, sendo notado e recebendo vários prêmios. Quantos foram no total até agora?
Carla Di Bonito: Até o momento dessa entrevista, Luzinete conquistou 107 premios e esteve presente em 33 países representando tanto o Brasil quanto o Reino Unido. Um numero que muda toda semana devido as notificações de varios festivais aos quais eu submeti o Luzinete. E mais recentemente estamos celebrando a minha indicacao ao Prêmio da Associação de Críticos Independentes de Nova Iorque.
02. Luzinete é o embrião do seu próximo projeto, que será um longa-metragem. Qual o maior desafio dessa empreitada?
Carla Di Bonito: Foi escrever o roteiro! Precisar em alguns momentos reviver as dores, buscar as lembrancas e trazer fora toda aquela emoção e ao mesmo tempo manter o foco.
03. A repercussão do curta Luzinete lhe proporcionou muito prestígio e reconhecimento, o que deve ter sido crucial para que seu longa ganhasse impulso. E financeiramente, o que Luzinete te ajudou a conseguir para a produção do proximo longa? Como vai a captação de recursos?
Carla Di Bonito: Acredito que o curta Luzinete esteja ainda pavimentando este percurso que comecei a trilhar. Estive muito envolvida com o roteiro e a formação do elenco. A fase de captação real comecou agora. Tivemos contratempos, mas finalmente a Boto Films está em co-produção com a Levante Filmes e desta forma recomeçando a fase de captação tanto aqui na Europa como mais adiante no Brasil.
04. Conte-nos sobre a seleção do elenco. Alguém do curta estará presente?
Carla Di Bonito: A primeira atriz a compor o elenco foi Marcélia Cartaxo. Tinha visto Marcélia tanto em Madame Satã como em A hora da Estrela e talvez por eu tambem ser nordestina, talvez por também ter sangue paraibano, tenho um grande amor pela Marcélia, sei lá…Liguei para a Marcélia e contei sobre o projeto e ela falou “To dentro”. Eu não tinha nem mesmo o tratamento ainda. Quando pensei em Marcélia eu já sabia qual seria o personagem. Minha avó Raquel! Mulher forte, de pequena estatura mas de um temperamento estrondoso. Depois de Marcélia veio Hermila Guedes. Conversei com Hermila e inicialmente pensava nela para fazer eu mesma, mas aí vendo uma fotos dela, me deparo com uma onde ela está caracterizada de anos 60 e não deu outra, na mesma hora sabia que ela teria que ser minha mãe biológica, Maria Alice. O longa conta histórias de mulheres nordestinas e no nordeste temos grandes atrizes, mulheres fortes e eu preciso não só de mulheres fortes mas de mulheres que tenham o cheiro da minha região, que conhecam a linguagem, o tempo e os trejeitos. E assim foi, uma depois da outra chegando e compondo este elenco maravilhoso que temos agora. Mais recentemente se juntaram Suyane Moreira e Daniella Gondim, as duas para interpretarem Luzinete e Carla respectivamente.
05. Sua abordagem crua e realista em Luzinete, mesmo filmando a respeito de sua própria irmã, me impressionou pela coragem de não disfarçar ou fazer poesia com um assunto tão sério. Seu longa-metragem vai manter essa característica? O que mudou na cineasta Carla Di Bonito nesses três anos?
Carla Di Bonito: O nosso longa vai sim manter essa mesma abordagem do curta Luzinete. Vou mostrar o que precisa ser mostrado da forma como tem que ser mostrado, sem enfeite. Temos cenas duras, dolorosas acho que até desesperadoras mas temos cenas de uma beleza e poesia inigualáveis. Os ultimos três anos nao foram fáceis, Luzinete não teve um comeco fácil, mesmo ainda no papel alguém me disse que era um tema brega. Mas eu não sou muito de dar ouvidos aos outros. Nunca achei que falar sobre a vida seja algo brega.
E Luzinete é um filme com muitas camadas. Seguramente que eu não esperava todo esse sucesso. Se algo mudou em mim, acredito que tenha sido a percepção que eu tenho de mim mesma. Me sinto mais confiante, embora tenha a consciência de que o aprendizado não acaba nunca!!
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