Se este Frankenhooker (1990) não existisse, Pobres Criaturas (2023) também não existiria. Guardadas as devidas proporções orçamentárias, até o final se parecem e muito! Minto. Frankenhooker termina de forma mais hilária e provocativa, sem vingança e bastante coerente.
Enquanto o célebre diretor grego parece ter uma fórmula para conceber seus filmes de olho nos festivais europeus de cinema, o diretor nova-iorquino Frank Henenlotter fez uma comédia com toques de terror e ficção científica, cuja inspiração foi sim Frankenstein de Mary Shelley!
Lançado em 1990, Frankenhooker é puro milkshake dos anos 80, com suas TVs de tubo 20″, cenários, figurinos e cabelos coloridos e exagerados, sem vergonha de ser trash, engraçado e despretensioso.
Pobres Criaturas suga todas essas ideias que já estavam esquecidas (mas nem tanto), se gaba de uma produção milionária e as coloca num contexto sério com viés feminista, mas que não consegue esconder o material de origem, daí as comparações entre os dois filmes e a zoeira justa.
O curioso é ver a engraçada Elizabeth Shelley (Pat Mullen) transformada na complexa e caricata Bella Baxter (Emma Stone), enquanto o eletricista metido a cientista maluco Jeffrey Franken (James Lorinz) se desdobra no Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) criador de Bella e em Duncan Weddeeburn (Mark Ruffalo) seu interesse amoroso.
Em defesa de Lanthimos, está o livro escrito por Alasdair Gray, que talvez jure nunca ter assistido Frankenhooker nas madrugadas da tv aberta, o que é impossível, devido a tantas questões IDÊNTICAS!
Com exatos 34 anos de seu lançamento, Frankenhooker continua deliciosamente desconcertante, com um pé numa sátira da misoginia e outro no empoderamento feminino. Essas características também podem ser vistas em Pobres Criaturas. Bella Baxter decide se prostituir em Paris enquanto Elizabeth, cujo corpo após ser desmembrado por um cortador de grama é reconstruído com partes de várias prostitutas e vai buscar suas primeiras “vítimas” numa estação de metrô, que exibe uma imagem do Arco do Triunfo com os dizeres “passagem para Paris”
Se procurar mais, outras “coincidências” certamente serão encontradas.
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